A Casa (Gabriela Mistral)

A mesa, filho, está posta
em brancura quieta de nata,
e em quatro muros que mostram sua cor azul
dando brilhos, a cerâmica.

Este é o sal, este o azeite
e ao centro o Pão que quase fala.
Ouro mais lindo que ouro do Pão
não está nem em fruta nem em retama,

e do seu cheiro de espiga e forno
uma fortuna que nunca sacia.
O partimos, filhinho, juntos,
com dedos duros e palma branda,

e tu o olhas assombrada
de terra preta que dá flor branca.
Abaixada a mão de comer,
que tua mãe também a abaixa.

Os trigos, filho, são do ar,
e são do sol e da enxada;
porém este Pão "cara de Deus"*
não chega as mesas das casas;

e se outras crianças não o tem,
melhor, meu filho, não o tocares,
e não tomá-lo melhor seria
com mão e mão envergonhadas

*No Chile, o povo chama ao pão de "cara de Deus"

Gabriela Mistral (1889-1955), poetisa chilena, Nobel de Literatura de 1945. Poema traduzido por: Teresa Almeida Pina.

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Sunday, July 17, 2011 - 12:06

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