Desejos vãos (Florbela Espanca)

Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o sol, a luz intensa
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão é ate da morte!

Mas o mar também chora de tristeza...
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos céus, os braços, como um crente!

E o sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as pedras... essas... pisá-as toda a gente!...
Florbela Espanca - Fanatismo

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não es sequer razão do meu viver,
Pois que tu es já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo , meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu es como Deus: Princípio e Fim!..."

Florbela Espanca, belíssimo soneto interpretado e musicado pelo Fagner.

Submited by

Thursday, September 15, 2011 - 10:13

Poesia :

No votes yet

AjAraujo

AjAraujo's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 6 years 38 weeks ago
Joined: 10/29/2009
Posts:
Points: 15584

Add comment

Login to post comments

other contents of AjAraujo

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Intervention Desencanto (Manuel Bandeira) 0 909 08/17/2011 - 20:57 Portuguese
Poesia/Intervention Minha grande ternura (Manuel Bandeira) 0 1.173 08/17/2011 - 20:54 Portuguese
Poesia/Meditation Enquanto a chuva cai (Manuel Bandeira) 0 863 08/17/2011 - 20:52 Portuguese
Poesia/Intervention A morte absoluta (Manuel Bandeira) 0 2.174 08/17/2011 - 20:47 Portuguese
Poesia/Thoughts Arte de Amar (Manuel Bandeira) 0 2.654 08/17/2011 - 20:44 Portuguese
Poesia/Disillusion Surdina (Olavo Bilac) 0 717 08/17/2011 - 12:28 Portuguese
Poesia/Love O Amor e a Morte (José Régio) 0 2.439 08/17/2011 - 12:25 Portuguese
Poesia/Intervention Solidão (Pedro Homem de Mello) 0 1.244 08/17/2011 - 12:23 Portuguese
Poesia/Intervention O que eu sou... (Teixeira de Pascoaes) 0 749 08/17/2011 - 12:21 Portuguese
Poesia/Intervention Fim (Álvaro de Campos) 0 1.499 08/17/2011 - 12:16 Portuguese
Poesia/Meditation Memória (Carlos Drummond de Andrade) 0 641 08/17/2011 - 12:14 Portuguese
Poesia/Intervention A hora da partida (Sophia de Mello Breyner Andresen) 0 3.513 08/17/2011 - 12:12 Portuguese
Poesia/Intervention Canção da Partida (Cesário Verde) 0 1.600 08/17/2011 - 12:09 Portuguese
Poesia/Text Files Biografia: Cora Coralina(1889-1985), poetisa brasileira, natural de Goiás. 0 7.360 08/17/2011 - 01:21 Portuguese
Poesia/Meditation Mascarados (Cora Coralina) 0 1.666 08/17/2011 - 01:12 Portuguese
Poesia/Dedicated Minha Cidade (Cora Coralina) 0 414 08/17/2011 - 01:10 Portuguese
Poesia/Dedicated Rio Vermelho (Cora Coralina) 0 608 08/17/2011 - 01:08 Portuguese
Poesia/Dedicated Bem-te-vi bem-te-vi... (Cora Coralina) 0 2.083 08/17/2011 - 01:06 Portuguese
Poesia/Meditation Todas as Vidas (Cora Coralina) 0 601 08/17/2011 - 01:04 Portuguese
Poesia/Text Files Biografia: Mário Quintana (1906-1994), poeta, escritor e jornalista brasileiro. 0 4.563 08/15/2011 - 17:48 Portuguese
Poesia/Intervention Ah! Os relógios (Mário Quintana) 0 925 08/15/2011 - 17:38 Portuguese
Poesia/Disillusion Canção dos romances perdidos (Mário Quintana) 0 582 08/15/2011 - 17:35 Portuguese
Poesia/Love Canção do amor imprevisto (Mário Quintana) 0 1.542 08/15/2011 - 17:33 Portuguese
Poesia/Love Bilhete (Mário Quintana) 0 668 08/15/2011 - 17:30 Portuguese
Poesia/Dedicated As mãos do meu pai (Mário Quintana) 0 518 08/15/2011 - 17:28 Portuguese