Atravesso a estrada

Atravesso a estrada
o bicho no vidro traseiro do automóvel
A multidão a passar á beira dos olhos, a passar ás portas da fabrica, a saudar os tanques que desfilam na praça. E os braços erguem-se elevando á altura das bocas uma onda de champanhe. Tu despes a blusa e mexes a língua num modo sensual, os militares com as mãos dentro das calças, faltam alguns minutos para o fuzilamento, ontem foi domingo dia do Senhor, não se mata ninguém e contudo se morre não importando se é domingo. Os braços levantados assim como quem eleva a taça, a contagem decrescente, a rolha que salta assim a bala que sai do cano e se projecta na direcção do corpo imóvel.

Lobo 012