Uma Carta para André Felipe - 2011
Querido André Felipe; ou devo dizer, Caio Felipe?! Bom, isso não importa agora.
Escrevo essa carta um tanto quanto irônica para dizer que não te amo mais.
Há mais ou menos 1 ano e 9 meses estava eu naquela bendita caixa da verdade (ou devo dizer, "maldita?") quando me deparei com uma foto que me chamou a atenção. Lá estava você, não soube explicar o por quê da admiração, foi meio que amor a primeira vista.
Eu temia que você fosse hétero e que me rejeitasse. Foi um longo e sofrido papo no "MSN" até aparecer uma brecha para descobrir se você era gay ou não. E quando finalmente tive a confirmação de que você "curtia rapazes", uma euforia tomou conta de mim e me senti feliz por imaginar que teria uma chance com você.
Sua frase se exibição era romântica e eu construí a imagem perfeita do "Príncipe do Conto de Fadas". Sempre sonhei em viver um grande amor desses que faz a gente ser capaz de tudo pra estar junto. Um amor que supera todas as dificuldades e adversidades. Não é nem nunca foi fácil para mim aceitar a homossexualidade. Com o passar dos anos construí uma imagem muito frágil e feminina de mim mesmo. Vários fatores me fizeram crer que "gosto de homens". É difícil dizer que ainda sou virgem, já tenho 20 anos e enfrento um quadro lastimável de "Fobia Social" (pesquise na Google), minha relação com as pessoas se tornou cada vez mais limitada. Na escola eu era aquele garotinho estudioso que vivia sozinho pelos cantos; não praticava educação física, pois meu medo de ser observado era terrível. Parece que tudo que faço é errado e que todos fazem um mau juízo de mim. Me sinto meio acuado também perto de outros garotos ( muito medo de ser visto como gay).
Tudo se deve ao fato de eu ter nascido com as "orelhinhas de abano" e sofrer chacotas do tipo, "Ei, orelhão, deixa eu enfiar o cartão ai pra fazer uma ligação." Tive uma infância feliz, disso não posso reclamar, mas com o passar dos anos fui regredindo ao ponto de quase não falar com ninguém e de evitar situações em que eu ficasse em evidência. Cheguei a achar que ninguém me amaria por eu ser um “orelhudo feio”.
Perdão, isso não é uma autobiografia minha, então prossigamos ao real motivo dessa carta. Depois dessa nossa primeira conversa virtual demorou um tempo para reencontrá-lo e quando isso se sucedeu, você estava arrasado, deprimido por não aceitar o fato de "curtir rapazes". Conversamos muito e consegui impedir que você fizesse uma loucura e que atentasse contra sua própria vida, já que desejava sair de carro e se atirar num poste. Nesse dia o amor por você aumentou, eu desejei te acolher em meus braços e curar todas suas dores. Sabe, André, cada vez mais eu tinha a certeza de que amava você. Sei que existia uma grande distância entre nós: você mora em Sorocaba (SP) e eu, em Friburgo ( RJ). Eu não me dava conta de que você ainda era "virtual" pra mim. Eu nunca havia saído com nenhum homem. Com você, eu perdia os medos e não me importava em enfrentar céus e terras pra ficar ao seu lado, eu até me aceitava gay.
Quatro meses depois, estava eu teclando no chat da UOL, quando conheci o Rafael. Ele me deixou confortável e seguro, dizia que também não ligava pra sexo e eu topei sair com ele. Em nosso primeiro encontro; esperei, esperei e nos desencontramos, pensei que ele tinha me dado um cano. Marcamos novamente e dessa vez na frente do Friburgo Shopping, na cidade. Fomos ao cinema e ele me puxou de surpresa, me surpreendendo com um beijo. Tenho um poema que relata isso, você sabe: "Encontro no Cinema". Fiquei com ele mais uns dias, mas sempre nos desentendíamos. Rafael queria me manipular e não me deixava ter opinião própria. Ele preparou uma armadilha pra mim no "MSN", me adicionou se passando por um rapaz bonito e musculoso para testar minha fidelidade. Tudo já ia mal entre nós (eu estava cansado dele me dar bolos. Marcávamos e ele não ia.), acabei dando mole pro bonitão do MSN e foi que ele se revelou dizendo que eu era uma “puta”.
Continua...
{Revirando meus arquivos aqui no PC, encontrei essa carta que comecei a escrever e parei ano passado.
Nem sei porque resolvi compartilhar, era algo tão particular...}
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