História esquimó da criação
Era uma vez um velho esquimó que se chamava eternidade, um dia estava ele dormindo e tinha um sonho em que chorava convulsivamente. No dia seguinte quando acordou nas suas mãos corria um fio de água, ele soprou nos dedos e nasceu um profundo rio. Eternidade sentiu que o rio se sentia sózinho, então abriu a boca e sobre aquelas águas cairam diferentes espécies de peixes que dançando no corpo do rio projectavam uma luz para o espaço e de repente se criava o céu, as estrelas, o sol, a lua, as nuvens. Eternidade beijou-as e logo se transformavam em chuva, eternidade pegou nalgumas gotas e pensou fazer o homem, com as gotas fez os olhos, depois olhou dentro daqueles olhos e sentiu que neles faltava poesia, pegou numa gota que havia dentro dos olhos atirou-a para o chão e nasceu uma árvore. Eternidade pensou: - Vou cortar um pouco da sua madeira e fazer uma escultura e fez a mulher. Perguntou eternidade aquela mulher se ela lhe podia dar o sorriso dos seus lábios para completar o homem. De repente eternidade tinha uma duvida. Devo criar uma criatura alegre ou uma criatura triste? Estava ele com estes pensamentos quando começou afazer movimentos com os braços e viu ele um animal que rastejava. Serpente que era o nome do bicho quando esta enfiava a cabeça na terra isso era a tristeza do homem, quando levantava a cabeça para o céu isso era a tristeza dele, contudo eternidade sentia que faltava algo, olhou o sol e pediu-lhe um pouco de fogo e levou esse fogo para dentro do homem que começava a sentir-se estranho, assim feliz e triste, parece que nele despertava um sentimento que agora conhecemos como paixão. O homem olhou eternidade e olhou a mulher e perguntou com a linguagem do silêncio como poderia expressar aquela sua emoção? Eternidade pegou na raiz da árvore com que esculpira a mulher e colocou aquela raiz na garganta do homem e logo estava ele possuido pelo dom da palavra. A mulher chegou perto dele e bebeu um pouco do som dos lábios do homem e tinha dentro dela uma palavra que não era do homem, nem era de outro bicho qualquer, nem era dentro das flores e era no entanto uma palavra universal. A mulher soletrou como se entoasse uma musica a palavra amor.
Eternidade o esquimó da criação que muitos julgam que não dorme pediu ao homem que lhe contasse uma história para adormecer um Deus. O homem mais uma vez pediu a eternidade que olhasse dentro dos seus olhos e eternidade escutou o vento que sabia histórias de pastores e de guerreiros e sabia todo o mistério que havia nas palavras do homem e com o frio das palavras dele criou um continente. Eternidade olhou aquele lugar e disse: vou cantar para me aquecer e logo ao lado tinha outro continente quente e selvagem e eternidade estava aprendendo que um Deus não sabe tudo, ele estava descobrindo coisas sobre geografia. Virou a sua cabeça para a direita e era dia ou voltava a sua cabeça para a esquerda e era noite.
Eternidade caminhou em direcção á água do rio, deitou-se sobre as suas águas e na margem estavam o homem e a mulher, depois chegaram outros homens e outras mulheres, chegaram outros contadores de histórias tão bons que fazem adormecer a criação, que até eternidade se esquece das coisas que criou.
lobo
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 2886 reads
Add comment
other contents of lobo
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Prosas/Thoughts | a palavra dentro do corpo | 0 | 2.622 | 11/18/2010 - 23:47 | Portuguese | |
Prosas/Others | Não estava nos livros essa angustia | 0 | 2.713 | 11/18/2010 - 23:47 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | Há aquele momento em que o gesto decide criar o mundo | 0 | 2.355 | 11/18/2010 - 23:47 | Portuguese | |
Prosas/Others | Por cima do muro | 0 | 2.847 | 11/18/2010 - 23:47 | Portuguese | |
Prosas/Contos | A nuvem que é um anjo e que me quer levar para casa | 0 | 1.927 | 11/18/2010 - 23:47 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | A fragilidade do mundo | 0 | 2.117 | 11/18/2010 - 23:47 | Portuguese | |
Prosas/Others | desassunto | 0 | 2.699 | 11/18/2010 - 23:47 | Portuguese | |
Prosas/Ficção Cientifica | O desafinador de criações | 0 | 3.145 | 11/18/2010 - 23:47 | Portuguese | |
Prosas/Others | Os meus gastos dias | 0 | 1.613 | 11/18/2010 - 23:47 | Portuguese | |
Prosas/Others | Deitou-lhe terra sobre os pés | 0 | 1.952 | 11/18/2010 - 23:47 | Portuguese | |
Prosas/Others | gatos entre paginas | 0 | 1.429 | 11/18/2010 - 23:47 | Portuguese | |
Prosas/Contos | Vais começar a voar | 0 | 1.962 | 11/18/2010 - 23:47 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | O que se pode fazer quando a noite dorme no teatro | 0 | 2.396 | 11/18/2010 - 16:32 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Em s Bento ou água benta ou atrevimento | 0 | 2.437 | 11/18/2010 - 16:27 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Os soldados mostram ás estrelas ferimentos de guerra | 0 | 3.032 | 11/18/2010 - 16:27 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | o entendimento completo da morte. | 0 | 1.586 | 11/18/2010 - 16:15 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | O corpo cansado descançou nos livros | 0 | 1.846 | 11/18/2010 - 16:15 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Agora é a água dentro dele que canta | 0 | 1.707 | 11/18/2010 - 16:08 | Portuguese | |
Poesia/Comedy | Faço a barba com a caligrafia dos poemas | 0 | 1.295 | 11/18/2010 - 16:01 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Esclarecimento | 0 | 3.008 | 11/17/2010 - 23:41 | Portuguese | |
Poesia/Comedy | Anda alguem a desacertar o relogio do mundo parte 2 | 0 | 1.932 | 11/17/2010 - 23:41 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Na rua havia homens feridos | 1 | 1.394 | 09/16/2010 - 16:32 | Portuguese | |
Prosas/Letters | Carta | 1 | 3.887 | 09/15/2010 - 21:31 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Quebrasse o frágil vidro do relógio, | 2 | 2.637 | 09/11/2010 - 01:52 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Quero ouvir outra vez | 1 | 2.047 | 09/10/2010 - 03:52 | Portuguese |
Comments
Re: História esquimó da criação
Eternidade caminhou em direcção á água do rio, deitou-se sobre as suas águas e na margem estavam o homem e a mulher, depois chegaram outros homens e outras mulheres, chegaram outros contadores de histórias tão bons que fazem adormecer a criação, que até eternidade se esquece das coisas que criou.
Gostei da história, espero que a eternidade não se esqueça de nós!!!
:-)