Filosofia Moderna e Contemporânea - RUSSELL, Bertrand - O Ócio Produtivo, A Filosofia Analítica, o Logicismo, o Ecocentrismo
1872 – 1970
A Filosofia Analítica, o Logicismo e o Ecocentrismo.
Se hoje, com alguns avanços inegáveis no campo Tecnológico, com reflexos no terreno da Moralidade, tais opiniões ainda são objetos de severas censuras, imagine- se quando foram exaradas, há cerca de meio século, por esse brilhante matemático que se tornou um dos mais influentes Filósofos do nosso tempo.
Contudo, um estudo despido de pré juízos e de pré conceitos revela, até aos mais empedernidos censores, a Profundidade, o Alcance e a Correção do Pensamento desse Pacifista generoso e atuante. Ver-se-á que o seu, é um caminho que merece ser seguido.
Já em 1905, Max Weber, em sua obra “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo” apontava para o fato de que a junção entre crenças religiosas fundamentalistas (e/ou místicas) e Capital acumulado agia como detonador da mediocrização da vida, fazendo com que ela fosse considerada apenas em seus aspectos físicos, materiais e indigentemente religioso. O empobrecimento da Cultura, da Abstração e da Sublimação já estava além da pressuposição, mas ainda não era tão ostensivamente visível quanto na atualidade.
Seguiu essa vereda o Pensar de RUSSELL, do qual faremos primeiramente um brevíssimo resumo na sequência, excetuando propositalmente a parte em que o mesmo expôs a sua “Lógica”, sua “Filosofia Analítica” e o seu “Ecocentrismo”, que receberão as merecidas linhas no final do trabalho.
1 – nossas atitudes diante do Trabalho são Irracionais.
2 – por um lado admitidos que qualquer Trabalho seja bom e tenha valor por si mesmo.
3 – porém, atribuímos valores diferentes para diferentes trabalhos.
4 – essa contradição entre o nosso hipócrita discurso que dá importância àquilo que no intimo julgamos Não ter, causa-nos Infelicidade. Também nos torna infelizes a hierarquização do Trabalho, principalmente se o nosso não é reconhecido como importante (nem para nós mesmos e, principalmente para os demais) e, consequentemente, não nos rende boa remuneração, tampouco prestigio. Note-se, ainda que se diga cinicamente e segundo o “Politicamente Correto” que é, sim, importante e valoroso.
5 – a opção óbvia para sanar ou minorar a infelicidade seria escolher dentre as opções que nos agradam, um Trabalho genuinamente valoroso tanto para nós próprios, quanto para a Sociedade a que pertencemos. Mas é claro que isso nem sempre é possível e quase nunca depende exclusivamente da vontade singular do indivíduo. É preciso que uma conjunção de fatores ocorra (a Economia em desenvolvimento, por exemplo) para que tais oportunidades se apresentem. Portanto, pelas dificuldades encontradas, o resultado final é o surgimento da Infelicidade.
6 – todavia, para RUSSELL, independentemente da maior ou menor satisfação que o Trabalho possa oferecer, o certo seria que trabalhássemos menos e utilizássemos o tempo livre para exercitar a Criatividade, a aquisição de Cultura verdadeira e de Saberes que nos acrescentassem enquanto pessoas.
Bertrand Russel nasceu no País de Gales, na Grã Bretanha, no seio da Aristocracia. Desde criança inclinou-se para a Matemática e a estudou na Universidade de Cambridge, onde travou relações com Alfred North Whitehead, seu futuro parceiro na obra “Principia Mathematica” que lhe deu a fama de ser um dos maiores Eruditos da Modernidade. Também em Cambridge, conheceu Ludwig Wittgenstein a quem influenciou profundamente.
Um de seus objetivos era popularizar a Filosofia. Que ela atingisse ao cidadão médio. E foi essa aproximação com o Povo que o levou ao Ativismo Social, ao Pacifismo e ao bom combate a favor da Educação de qualidade e do Ateísmo (no sentido de laicizar o Estado e exterminar as crendices e superstições religiosas que levam à exploração dos mais humildes). Também lutou vigorosamente contra o Armamento Nuclear e produziu numerosas obras populares de Filosofia, num sério e belíssimo trabalho de conscientização da população. Morreu aos 97 anos, por complicações de uma gripe, deixando uma herança intelectual difícil de ser igualada.
Pelo inicio desse Ensaio, pode-se imaginar que RUSSELL não fosse produtivo, mas, em verdade, o trabalho duro não lhe foi estranho. Escreveu sólidas e copiosas obras que reúnem em suas milhares de páginas um Sistema de Pensamento que prima pela Racionalidade (sua Lógica tornou-se um paradigma) e Correção. Foi, e ainda é, um dos autores que mais influenciou o nosso modo de Pensar, contribuindo decisivamente para a criação de uma Corrente Filosófica a que se deu o nome de “Filosofia Analítica”. E, como se disse, exerceu um Ativismo Sócio e Pacifista intenso e bem orientado.
Isso posto pode-se perguntar por que ele, um dos Pensadores mais produtivos, tanto insistiu para que o Trabalho fosse reduzido?
Em seu Ensaio “Elogio ao Ócio”, de 1932, época da Grande Depressão, que parecia tratar de um tema extremamente inadequado ao momento, pois a apologia ao ócio quando o desemprego atingia um terço da população ativa em alguns lugares do Mundo não seria condizente com um Pensamento retilíneo, ao qual, o Mundo se habituara, ele responde parcialmente essa questão.
Para ele, o próprio caos econômico e social que se vivia era, precisamente, o resultado de um conjunto de atitudes motivadas por antigas e equivocadas noções que endeusavam o Trabalho. E que foi, justamente, por conta desse endeusamento e da consequente e contínua ampliação do Trabalho irracional que a crise aconteceu. A falta de tempo para Criar, Estudar, Analisar, Racionalizar as questões econômicas, não permitiu que se evitasse o desastre. O Trabalho, executado sem o menor questionamento sobre seus limites, objetivos e fundamentos levou ao seu autoextermínio.
O que é o Trabalho?
Para RUSSELL a definição de que é o Trabalho pode ser dividida em duas classificações:
1 – o Trabalho que busca alterar a posição de uma matéria (ou de transformá-la) na superfície da Terra, em relação à outra matéria. Esse seria o tipo mais básico, fundamental: o “Trabalho Braçal”.
2 – o segundo tipo é “Dizer às outras pessoas para alterarem a posição de uma matéria em relação à outra matéria”. Sendo esse tipo, passível de ser subdividido indefinidamente.
Em resumo, o Trabalho que faz e o Trabalho de quem manda outrem fazer.
É possível ter pessoas empregadas para Supervisionar* pessoas que movem a matéria. Ou empregar outras pessoas para supervisionarem os Supervisores. Outras para fiscalizarem esses últimos e assim sucessivamente. Ou, pessoas para dar Conselhos sobre como empregar pessoas. Ou, ainda, como empregar pessoas para gerir aqueles que dão Conselhos e, novamente, assim indefinidamente.
NOTA do AUTOR - Supervisionar* - com esse verbo pretende-se representar todo um processo de treinamento, cobrança, punição, premiação, normatizações etc.
O primeiro tipo de Trabalho, segundo RUSSELL, tende a ser pesado, penoso, desagradável, mal remunerado e pouco ou nada atrativo. Já o segundo, tende a ser mais suave, prazeroso, bem remunerado, atraente etc.
Claro que os dois tipos definem os dois tipos de Trabalhadores – operários e supervisores (ou burocrata) – e estes se relacionam a duas Classes Sociais distintas (e mais ou menos antagônicas, conforme a conjuntura do lugar e da época): a “Classe Operária” e a “Classe Média”. A elas, o filósofo acrescentou mais uma: a do “Proprietário Ocioso” (reminiscências de sua Aristocracia natal?), que evita qualquer Trabalho e que depende do Trabalho dos outros para manter sua ociosidade.
NOTA do AUTOR – observe-se que RUSSELL não faz alusão ao Trabalho desenvolvido por Intelectuais e por Artistas. Seu foco concentrava-se no Trabalho assalariado, cuja efervescia da época jogava para o Centro da Ribalta, dando-lhe a exclusividade do nome “Trabalho”. Essa observação, aliás, talvez explique a contradição, já citada, sobre a sua apologia à redução do Trabalho e a sua vigorosa produção, na medida em que ele, como maioria de seus contemporâneos, colocava o labor intelectual em outro nicho de atividade.
A História, segundo RUSSELL, está repleta de exemplos de pessoas que apesar de trabalhar duro por toda a vida, recebem em contrapartida apenas o mínimo necessário à sua própria sobrevivência e à de sua família. Enquanto isso, qualquer excedente que produzem é expropriado por Guerreiros, pelo Clero ou pelas Classes Dominantes. Ou pelos três em conjunto. Ou, ainda, pelos dois primeiros a mando do terceiro, ou pelos segundos em conluio com a Elite.
E também nos mostra a História que são esses espoliadores que sempre costumam exaltar “a virtude do trabalho honesto”, num cínico, mas bem sucedido exercício de “lavagem cerebral” das categorias obreiras. Falseiam a exploração que cometem, revestindo-a de uma aura de dignidade. Lustram com ares de respeitabilidade um sistema injusto e cruel, demonstrando a falácia da retórica que arengam quando exaltam o trabalho degradante, penoso, mal remunerado e mal visto.
É, pois, o fato de termos consciência desse cinismo, dessa hipocrisia, dessa demagogia que nos deve estimular a combatê-lo numa luta sem tréguas. E, indo além, exigir uma reavaliação da “Ética do Trabalho”, porque ao aceitarmos o soez discurso sobre a “labuta honesta” o que fazemos, na realidade, é legitimar (haja vista que legalizada já foi por obra de espúrios conchavos políticos) a nossa própria opressão. A opressão que todos sofrem, exceto, claro, os herdeiros das Elites e os larápios que a ela acendem.
NOTA do AUTOR – ressalte-se, nesse trecho, a grandeza de espírito de RUSSELL que ao criticar as Elites, não hesita em atacar a sua própria origem e condição social. Uma autocrítica tão rara, quanto carateres como o dele.
Ao (a) leitor (a) certamente não passou despercebido que na análise que o Filósofo faz da Sociedade, principalmente na questão sobre a “Luta de Classes”, existe uma variedade de teses pinçadas do Ideário de Karl Marx. Ainda que RUSSELL não abraçasse o Marxismo em sua totalidade, as teses comunistas encontraram eco em seus anseios por uma Sociedade mais racional e justa. Mas a sua censura aos Regimes Capitalistas é idêntica às que fez aos Regimes Socialistas, pois via em ambos tenazes que prendiam o Sujeito a um Sistema que lhe era brutalmente imposto.
A outra influência que o marcou sobremaneira, como já se disse, veio do estudo da obra de Max Weber, “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, de 1905. Nela, o trecho que trata da “Base Moral” que fundamenta nossas atitudes em relação ao Trabalho também não escapou da acidez de sua critica, pois para ele, as “Bases Morais” ali assentadas são caducas e malévolas por conterem os mesmos vícios que ele já denunciara. Lá, encontram-se, por exemplo, afirmativas do tipo: “o Trabalho é um Dever e uma Obrigação” e quetais.
Mas, ora, quem disse isso? O Deus bíblico judaico-cristão, ao expulsar Adão do Paraíso? Mas que legitimidade pode ter um “Ser” mitológico, criado e perpetuado pela carência e pela fantasia humana, para impor tal condição que sempre descamba para a exploração do Homem pelo Homem? Ademais se esse “Ser” só existe para quem foi adestrado em lhe acreditar, com que Direito se pretende transformar a fé de um grupo (ainda que numerosíssimo) em regra Universal?
Outro ponto que mereceu suas criticas azedas foi a nossa tendência de equipararmos Trabalho e Virtude. E daí não hesitarmos em classificar como desprovido de Virtude aquele que se rebela contra a “Moral de Rebanho” e se recusa a fazer o que lhe desagrada apenas para ser aceito pelo grupo ao qual pertence.
O conjunto das nossas noções sobre o Trabalho, segundo RUSSELL, leva-nos a crer que as nossas atitudes em relação ao mesmo são complexas e incoerentes. A partir desse ponto, estabelece-se a pergunta: o que se pode fazer para solucionarmos o impasse?
Nada muito misterioso, conforme o Filósofo. Basta que passemos a olhar o Trabalho por aquilo que ele realmente é; ou seja, tão somente aquilo que contribui para que tenhamos uma vida material dotada de segurança e conforto. Que esqueçamos as antigas e tolas superstições sobre “a dignidade do trabalho”; “que o trabalho enobrece o Homem” e quejandos. Que suprimamos qualquer conotação superior indevida.
NOTA do AUTOR – deixemos de lado as ideias de “Realização Pessoal” para o que realmente importa: a produção e o exercício de atitudes e obras que satisfaçam a nossa vaidade, nosso ego e que, com alguma sorte, possa beneficiar outrem. Que os “felizardos” que encontram essa satisfação no trabalho cotidiano e remunerado gozem desse privilégio, mas que não se esqueçam de que são maiores e mais importantes que qualquer trabalho que executem; e que não deixem de sempre submetê-lo a um rigoroso exame que o isente das contaminações por modismos superficiais, ou por objetivos menores.
Quando fazemos tal exame é difícil evitar a conclusão de que devemos, de fato, trabalhar menos, pois o trabalho excessivo, na maioria dos casos, não gera benefícios efetivos a quem o realiza. Quase sempre a sua miséria (se não a material, mas certamente a criativa, emocional, intelectual) é do mesmo tamanho que a daquele que trabalha menos. Ademais o desgaste físico e emocional/intelectual acaba produzindo tantos males que um eventual excedente na renda acaba sendo consumido com cuidados para minorar o mal causado. Além, é claro, dos problemas que o afastamento das Artes, da Cultura em geral, acarreta ao trabalhador em sua condição de pessoa. Condição, aliás, que definha continuamente, tornando-o uma mera besta de carga, bitolada pelo seu indigente cotidiano laboral. A inútil busca por mais e mais bens materiais, subtrai-lhe o Sublime, o Abstrato e o remete à vala comum dos insumos descartáveis.
Atualmente é patente entre os especialistas que o ato de brincar é para as crianças muito mais que uma atitude prazerosa. Na verdade é uma forma eficientíssima de se desenvolver o Raciocínio, a Imaginação, a Criatividade e os outros elementos mentais que a farão ser mais, ou menos, inteligente.
Para RUSSELL, processo semelhante se verifica em todas as fases da vida. A recreação (preferencialmente recheada com Arte e Cultura de conteúdos superiores e não os meros entretenimentos que pupulam entre os meios de comunicação em massa) continua fundamental para que o exercício das habilidades mentais do indivíduo não seja ensombrecido pela monotemática conversa acerca do trabalho. Pela repetitiva narração de suas realizações, dificuldades, conquistas etc. Assuntos típicos dos indivíduos que desconhecem outras variantes da vida e se agarram à sua pseudoimportância num escritório qualquer, para impor sua malquerida companhia. Segundo o Filósofo: “mover a matéria, não é absolutamente um dos propósitos da vida humana”.
Ao permitirmos que o Trabalho ocupe todo nosso tempo, não viveremos plenamente, já que estaremos condenados a viver apenas na dimensão do concreto, do material. Para RUSSELL, o lazer é necessário para repor à vida o que ela tem de significado efetivo.
O pensamento de RUSSELL, como não poderia deixar de acontecer, encontra sérios adversários, sendo que os une o argumento falacioso de que “não saberíamos o que fazer com o tempo livre”. Ora, mas é justamente por isso que precisamos tê-lo, para iniciarmos o processo de desconstrução desse modelo perverso, injusto e pouco inteligente que foi implantado nas mentes mais humildes a custa de ameaças terrenas e celestes, e de quinquilharias como prêmios. E a partir daí, reaprendermos a exercitar a Criatividade, a capacidade de Sentir, de Abstrair, de Sublimar. Reaprender a sermos pessoas e não apenas peças de uma sórdida engrenagem.
Para o Filósofo foi lamentável termos perdido essa condição, essa grandeza humana. E para ele seria preocupante se o Homem não conseguisse preencher o tempo com atividades que lhe acrescentasse como pessoa. “É uma condenação de nossa Civilização” à medida que sinalizaria que a nossa capacidade para o Superior fora completamente abatida pelo insano “culto à Produção”. E, pior, indicaria que a nossa condição ficou reduzida à condição de uma simples máquina. Que nos tornamos apenas “quem produz”, ao invés de “quem vive”.
RUSSELL acreditava que uma Sociedade que considerasse o lazer com seriedade estaria, na realidade, apta em formar um agrupamento que também levaria a educação de qualidade (e não o mero adestramento para produzir) a sério, produzindo dessa forma indivíduos capazes de fazer e/ou apreciar Arte, Cultura e outras sutilezas do espírito, o que elevaria o Homem, do atual rés do chão, ao nicho que lhe cabe. Produziria, pois, Artistas de fatos e não os tristes arremedos atuais. E, com eles, espectadores, leitores, apreciadores de gosto cada vez mais refinado e inteligente. Bem ao contrário da simplória massa que faz sua catarse aos urros nos entretenimentos em que é admitida. Ter-se-ia, pois, uma Sociedade atenta e predisposta a promover o prazer em formas mais elevadas, completas e duradouras.
Seria enfim, segundo o Pensador, uma Sociedade que perderia o gosto pela brutalidade, pela escravidão, pela violência. Que perderia o gosto pela guerra, por ter adquirido a sabedoria de que o debate racional é capaz de solucionar todas as pendências que surjam.
Mesmo que para isso tivesse que suportar o ônus de ser classificada como elitista e de colocarem seus pressupostos em cheque, alegando que ninguém, nem mesmo RUSSELL, pode ditar o que é o Bom, o Belo etc.
A Vida Equilibrada
Para muitos, as Ideias de Russell são utópicas. Pensam estar longe um consenso de que seja possível reduzir a carga horária de Trabalho para quatro horas diárias e, também, o modo como que essa diminuição levaria à revolução nos hábitos e na própria dinâmica econômica.
Alarmistas de plantão e maus carateres por natureza anunciam que tal modificação trará o caos social e financeiro, além da dissolução dos “bons costumes (leia-se: trabalhar em beneficio das Elites predatórias)” com o aumento na “vagabundagem mundial”. A esse rosário de boçalidades, muitas outras se juntam, tal como ocorreu quando a carga horária foi reduzida de doze (12) para oito (8) diárias, por pressão dos Sindicatos e doutros setores da Sociedade Civil.
NOTA do AUTOR – aqui no Brasil, por exemplo, o Conde Francisco Matarazzo, dono das Empresas epônimas, não titubeou em afirmar que essa redução significava o fim do País (sic).
Outros mais equilibrados apostam que o Tempo se encarregará de ajustar as arestas. Porém, mesmos estes se juntam a vários outros Pensadores sérios para discordarem da tese de RUSSELL que afirma ser o processo de industrialização o fator que nos libertará do “Trabalho Braçal”. Argumentam que os insumos (as matérias primas) sempre precisarão vir de algum outro lugar e que, portanto, será preciso “mudar a matéria, ou alterar a sua posição”. Será sempre necessário extrair, refinar e preparar a matéria a ser industrializada, ou seja, será sempre necessário o “Trabalho Braçal”.
Assim, apesar das oposições que lhe são feitas, o Ideário de RUSSELL encontra inúmeros defensores, cujo peso intelectual e moral corroboram a correção da proposta de se reconsiderar as Ideias, que por força de perniciosa indução, acabam nos parecendo naturais e definitivas. Revalidar a necessidade de reexaminarmos não só nossa vida profissional, mas a existência como um Todo, e aceitarmos o fato de que há, sim, virtude em parar, relaxar, divagar, criar, pensar. Cuidar do nosso lado afetivo, intelectual, espiritual. Reassumirmos nossa condição de agente da vida e abandonarmos de uma vez por todas a noção de sermos apenas um penduricalho descartável. Ou, nas palavras do Filósofo: “até agora continuamos a ser tão enérgicos (sérios, introspectivos, melancólicos – ainda que disfarcemos) quanto éramos antes que existissem as máquinas; em relação a isso temos sido tolos, mas não há razão ou motivo para que essa tolice continue para sempre”.
Logicismo, Filosofia Analítica e Ecocentrismo.
Como já mencionado, RUSSELL elaborou algumas das teses filosóficas mais influentes do século XX e com elas ajudou a fomentar uma das mais ricas tradições do Pensamento Filosófico, a chamada “Filosofia Analítica”. Abordaremos brevemente os seguintes tópicos:
A “Filosofia Analítica”, como se sabe, tem como objetivo o esclarecimento de Conceitos, Afirmações, Métodos, Argumentos e Teorias, dando a cada qual o melhor de sua análise e cuidados. Dentre outros, RUSSELL estudou profundamente o Logicismo, ou a Lógica Simbólica (de fundamentação ou embasamento da Matemática), no qual afirma que todas as “Verdades Matemáticas (2+2=4; ab=ba)” – e não só as “Verdades Aritméticas”, como propusera o filósofo Gottlab Frege – podem ser deduzidas (ou supostas racionalmente) a partir de algumas poucas “Verdades Lógicas”; e todos os Conceitos Matemáticos podem ser reduzidos ou simplificados a uns poucos Conceitos Lógicos Primitivos.
Essa tese surgiu em 1901, com a descoberta feita por RUSSELL da solução de um paradoxo (o qual, por isso recebeu o seu nome) no Sistema de Lógica do filósofo Frege. Para resolvê-lo, RUSSELL propôs a “Teoria dos Tipos (Teoria Simples dos Tipos e, depois, Teoria Ramificada dos Tipos)” cujo cerne era impor certas restrições à suposição de que qualquer Propriedade ou Característica de uma Entidade (de um Tipo [ou formato] Lógico) pudesse ser também, uma característica de outra Entidade (do mesmo, ou de outro Tipo Lógico). Segundo ele, o Tipo (ou formato) de uma Propriedade deve ser mais elevado, superior, ao formato ou Tipo da Entidade ao qual corresponde e, por isso, só a essa mesma entidade é que pode ser atrelado.
Outro pilar dessa tese é a “Teoria das Descrições Definidas (em oposição, aliás, às suas ideias anteriores)”. Para o Filósofo, a “Análise Lógica” precisa de frases declarativas que contenham descrições bem definidas, objetivas, como, por exemplo: “o número primo par”; “o atual rei da França” etc. Pois, frases assim NÃO exprimem apenas coisas individuais, singulares, mas, ao contrário, expressam as chamadas “proposições russelinas” que são Conceitos ou Proposições gerais. Segundo essa tese, a Teoria das “Descrições Definidas” não associa a tais “descrições” um significado, tampouco uma demonstração, haja vista que trata de noções gerais e não individuais.
Vejamos o exemplo na frase abaixo:
“O número primo par é maior que um (1)”.
Na ótica de RUSSELL, embora aparente representar uma afirmativa singular, a frase representa uma afirmativa, ou uma proposição geral, pois ele faria a seguinte leitura:
“Existe pelo menos um número primo par e, também, existe no máximo um número primo par. E, ainda, esse número primo par é maior que um (1)”.
Observe-se, ademais, que esse tipo de análise demonstra que as “Descrições Definidas” também funcionam logicamente como quantificadores.
Para RUSSELL, tais expressões desempenham, também, um papel semântico diferente, que é o de mostrar através dos símbolos (as letras, por exemplo) quando o objeto descrito pela “Descrição Definidora” existe concretamente naquele momento e naquele espaço.
Por outro lado, as expressões que se referem diretamente a um Objeto Individual, singular, são classificadas como “Nomes sem Sentido Lógico”, pois um nome prescinde de lógica para existir. O nome “Fabio”, por exemplo, pode perfeitamente existir mesmo sendo ilógico.
O Filósofo foi além e estendeu a sua “Análise das Frases que contenham Descrições Definidas” para as “frases contendo Nomes Próprios comuns”, os quais, segundo ele, são abreviações das “Descrições Definidoras” que se tem em Mente. Assim, por exemplo, quando eu uso o nome “Aristóteles” estou, na verdade, abreviando a seguinte descrição:
o mais célebre discípulo de Platão.
Conhecimento
Em estreita harmonia com as “teses lógicas semânticas” que vimos acima, RUSSELL elaborou algumas Teorias sobre o Conhecimento (tanto o processo de aquisição de Saber, quanto a Sabedoria já adquirida), enfatizando em seus estudos a diferença entre o “Conhecimento Direto” e o “Conhecimento por Descrição”.
Assim, por exemplo, o Conhecimento que se tem sobre a existência de uma “mancha vermelha na parede” pode, segundo RUSSELL, ser expresso numa frase como essa:
Isto é vermelho; ou seja, tem-se o “Conhecimento Direto”.
Por outro lado, o Conhecimento que se tem acerca dos números e de suas relações (por exemplo: o 2 é maior que o1) envolveria “Conceitos Lógicos” e não o Conhecimento direto dos números; ou seja, tem-se, então, o “Conhecimento por Descrição”.
RUSSELL formulou a relação existente entre essas duas formas de Saber no seguinte Princípio:
Todo Conhecimento ou Saber implica que existe a “Relação Direta” do Sujeito que sabe (o sujeito cognoscente) com o Objeto sabido, ou conhecido. Relação que pode ser estabelecida a partir do Conhecimento Direto, ou do Conhecimento por Descrição.
A Ética Ecocêntrica (isto é, a Ecologia como ponto central) coloca a Natureza física, concreta (as plantas, os rios, os bichos etc.) no centro das atenções, enfatizando o fato do Homem ser apenas um mero participante ou componente desse contexto, ao invés de ser seu dono, ou Senhor, como se pensava até pouco tempo atrás.
É uma noção que se contrapõe diretamente à visão anterior, particularmente à adotada pela Civilização europeia em especial e pela Ocidental como um todo. Ao contrário, aliás, da Civilização hindu, africana e nativa americana que se acomodava na Natura sem a pretensão de comandá-la e submetê-la aos seus caprichos e interesses.
A visão Ecocêntrica parte de dois Princípios:
1 – Considera que todos os Seres, tanto quanto os Humanos, têm direito à vida e à dignidade da mesma.
2 – Que é impossível a sobrevivência do Homem se a Natureza for destruída.
Ademais, a Ética Ecocêntrica responsabiliza o Homem pela salvação de todos os Seres (a lenda de Noé e de sua Arca extrapola a mitologia bíblica?), pois ele é o único que tem consciência do que está acontecendo e os meios para reverter o problema, mesmo que seja atualmente quem mais degrada o meio ambiente.
Essa Teoria de RUSSELL encontra cada vez mais adeptos, não obstante alguns Cientistas sérios e capazes duvidarem da responsabilidade exclusiva do Homem como agente motivador das alterações que já se nota no clima e noutras condições do Planeta.
É um debate em que todas as apostas são válidas e possíveis, mas é inquestionável que aos Seres Humanos compete agir com a responsabilidade e sensibilidade que a sua condição impõe.
São Paulo, 19 de Maio de 2012.
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