O "7 de Setembro" - Republicado

 Em c. 1.500 dC., certo marujo teve a primazia
 de avistar essa terra de Santa Maria.
 Junto, chegaram capitães, soldados e padres em romaria.
 Acharam-se no El Dourado, lugar d`ouro, prata e especiaria.

 Com a primeira missa, fixou-se a intenção: pilhar nunca seria em demasia.
 À segunda seguiu-se a ação: domar os nativos e extinguir a selvageria.
 Domados e reduzidos a lacaios daquela confraria,
 viram os brasileiros que nem Tupã escaparia.

Mas como isto não bastasse na terra da Sesmaria,
rumaram para África e foi a vez do negro pagar por sua heresia.
Qual heresia? Aquela de ter um deus que lhe sorria.
Tomaram-lhe a liberdade, a dignidade e o que mais havia.
Mudaram-lhe até o Deus. Olorum já não se lhe permitia.

Porém, certo dia, certo Napoleão, colocou a Corte em correria
e para cá mudou-se a realeza. A contra gosto todavia.
Contudo, sem opção, estabeleceu-se o reino nessa freguesia,
até que Bonaparte também passasse. Alguns ficaram. Talvez à revelia.

Nas Minas, certo dentista perdeu a cabeça por ousadia.
Sabia o gajo que a Liberdade é a Mais-Valia.
E como tantos outros ousaram esta doce utopia,
não nos queixemos, pois sempre houve quem lutasse contra a vilania.

Rolaram cabeças e amores, mas veio o que tanto se queria:
declarou-se a Independência, ainda que olvidassem da efetiva alforria.

Governos diversos. Ditadura perversas. Até Democracia;
ainda que se esquecessem de acabar com a triste fantasia
de esconder o horror da miséria e expor a falsa alegria
dos bobos das Cortes. Será uma simplória miopia?

Quem sabe? Talvez um dia...

E assim vamos indo nesta triste calmaria.
Patética travessia! Para alguns, somos os reis da folia ...

Armada a lona, o palhaço autêntico que há tempos não se via
pergunta: tem Marmelada? Têm sim sinhô! É a corrupção que propicia.
Têm latifúndio? Têm sim sinhô! É uma mania.
Têm prostituição infantil? Têm sim sinhô! Turistas gostam de pedofilia.
Têm injustiça social? Têm sim sinhô! É de Deus. É de serventia.
Têm nepotismo? Têm. Mas não fale moço. Ainda lembro da “Otoridade” que me batia.
Têm trabalho escravo? Têm . . mas não fale. Eu nem sei o quanto lhes devia.
E político que se julga patrão e não funcionário público? Tem, por causa da nossa covardia.
Mas não fale . . . sabe como é moço . . . era a ele que eu me vendia.

E agora, seleta platéia, têm solução?
Sei não!
Quem sabe alguém nos auxilia?

Já se fala em CPI, em Rigoroso Inquérito para acabar com esta aleivosia.

Não adianta caro Palhaço que se chama Eu. É só mais uma hipocrisia.
É que são tão poucos os que exercem a quase extinta cidadania.
Até eu, aprendiz inepto de poeta, submeto-me à nova tirania
chamada de Globalização; aquela que uniformiza a minha história, a minha poesia
e que rouba a minha identidade. O que sou e por onde ando já nem sei.
Também ignoro aonde, porque e como errei.
O diabo é que não raro, ao pensar no “7 de Setembro”,
pego-me dizendo que é o “Independence Day”.

Submited by

Friday, September 7, 2012 - 15:43

Poesia :

No votes yet

fabiovillela

fabiovillela's picture
Offline
Title: Moderador Poesia
Last seen: 8 years 25 weeks ago
Joined: 05/07/2009
Posts:
Points: 6158

Add comment

Login to post comments

other contents of fabiovillela

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Love Ausentes 0 2.566 01/05/2015 - 01:04 Portuguese
Poesia/Love O Gim e o Adeus (2015) 0 3.209 12/31/2014 - 15:02 Portuguese
Prosas/Others Descartes e o Racionalismo - Parte XII - A Metafísica 0 5.596 12/29/2014 - 20:06 Portuguese
Poesia/General Gauche 0 2.624 12/26/2014 - 19:50 Portuguese
Prosas/Others Descartes e o Racionalismo - Parte XI - O Método 0 4.986 12/24/2014 - 21:01 Portuguese
Prosas/Others Descartes e o Racionalismo - Parte X - A Geometria Analitica 0 6.280 12/24/2014 - 20:57 Portuguese
Poesia/Love Quietude 0 2.023 12/21/2014 - 22:03 Portuguese
Prosas/Others Descartes e o Racionalismo - Parte IX - O primeiro filósofo moderno - Cogito Ergo Sun 0 4.522 12/20/2014 - 21:29 Portuguese
Prosas/Others Descartes e o Racionalismo - Parte VIII - A época e o ideário básico 0 5.526 12/20/2014 - 21:25 Portuguese
Prosas/Contos Farol de Xenon 0 3.767 12/20/2014 - 01:40 Portuguese
Prosas/Others Descartes e o Racionalismo - Parte VII - Notas Biográficas 0 8.059 12/19/2014 - 13:56 Portuguese
Poesia/Meditation Sombras 0 3.316 12/18/2014 - 00:21 Portuguese
Prosas/Others Descartes e o Racionalismo - Parte VI - Preâmbulo e índice de obras 0 3.949 12/17/2014 - 14:07 Portuguese
Prosas/Drama Nini e a Valsa 0 5.669 12/17/2014 - 01:56 Portuguese
Poesia/Love As brisas e as rendas 0 2.950 12/15/2014 - 22:08 Portuguese
Prosas/Others Descartes e o Racionalismo - os Tipos de Razão Filosófica 0 5.302 12/13/2014 - 19:53 Portuguese
Poesia/Love Desencontros 0 2.584 12/10/2014 - 20:41 Portuguese
Poesia/Love Navegante 0 3.031 12/05/2014 - 01:21 Portuguese
Poesia/Love Evoé 0 3.270 12/03/2014 - 01:17 Portuguese
Prosas/Others Descartes e o Racionalismo - Parte IV - o Racionalismo 0 6.773 12/01/2014 - 15:21 Portuguese
Poesia/Love A Face 0 2.316 11/30/2014 - 00:20 Portuguese
Prosas/Others Descartes e o Racionalismo - Parte III - o Racionalismo - continuação 0 9.419 11/27/2014 - 15:33 Portuguese
Prosas/Others Descartes e o Racionalismo - Parte II - o Racionalismo 0 3.525 11/26/2014 - 15:03 Portuguese
Poesia/Love A Dança 0 1.857 11/23/2014 - 19:28 Portuguese
Prosas/Others Descartes e o Racionalismo - Preâmbulo (Apêndice: a Razão) 0 5.903 11/22/2014 - 21:56 Portuguese