Tentar ...

Sim, ele era problema, dons bons.
Eu sabia o que estava a fazer e ele também:
- Estávamos a fazer uma coisa muito errada.

Gostei da luz, dos olhos dele.
Gostei de me estar a encantar, gostei acima de tudo,
de não me poder encantar e mesmo assim de me estar a encantar.

Apesar de todo o esforço, o meu poder era uma ilusão.
Apesar do desprendimento, enganava-me o tempo todo.
Nada de alegria, alegria.
Ele fecha a porta e volta para a sua vida real.
Para os dois, porque ele não era egoísta: tristeza, tristeza.

Alegria, alegria. Eu implorava.
E dá para sentir isso o tempo todo?
Eu cobrava-me tanto para ser feliz que às vezes perdia a noção de que já era.
Fugir da felicidade ou fugir com ela?

Num ímpeto de tesão, ou talvez após um trabalho de consciência confusa que,
por preguiça, acabava por se decidir impulsivamente, respondi ao e-mail dele:
- Sim, senhor. Vamos para onde quiseres, à hora que desejares e na posição que preferires.
Nem todas as histórias precisam de ter virgens pálidas chorando às margens de um mar de espumas.

Nem tudo precisa ser romance tuberculoso. Alegria, alegria.
A felicidade, assim como a bebedeira, vai e vem.
A felicidade, assim como o sexo, entra e sai.
A felicidade, assim como ele, era impossível.
Mas não é para tentar sermos felizes que vivemos?