Procura-me

Pensas em mim.
Sei que sim.

Imaginas o meu olhar, penetrante. Grande. Delineado.
Supões o meu sorriso, rasgado, matreiro, na graça da minha voz serena. Alegre e despreocupado.
O rosto alongado de feições finas, ou quadrado de feições rudes?

Idealizas o meu cheiro sem saberes o aroma.
Será doce? Será forte?
Cheiro a malícia ou a pureza?

Tentas descrever o toque do que me caracteriza. É macio ou áspero?
Sentes como ele flui pela tua mão? Ou será que não consegues movê-la?
Trago no rosto a expressão em mim possuída.
Olho-te e sei que me desejas. Sinto-te sem te sentir.

Sou como uma viola nas mãos do artista. Fazes música comigo.
O meu corpo modela-se a ti consoante o teu toque.
Sei que me procuras, que me imaginas.
Uma fina linha nos separa.
É como uma linha alternativa, supõe, furtiva.
Invado-te o ar com murmúrios.
Substantivos e verbos á força das palavras moídas hipercondensadas em ti.
Em mim. Em nós.

Procura-me.