Spinoza e o Panteísmo - Parte I


Preâmbulo – Spinoza
 
Antes do ano 70 DEC já acontecia um importante movimento migratório dos hebreus em direção a Tiro, Sidon e outras localidades situadas no Oriente, mas só a partir da queda de Jerusalém, tomada pelo Império Romano naquele ano, é que a retirada se generalizou, sob o titulo de “diáspora”, em direção ao Ocidente, chegando a quase todos os recantos banhados pelo Mediterrâneo – Atenas, Antioquia, Alexandria, Cartago, Roma, Marselha etc. – e dividindo-se em duas correntes principais, das quais, uma seguiu os cursos dos rios Danúbio e Reno, indo, depois, para a Polônia e para a Rússia; enquanto a outra tomou a direção da península ibérica, principalmente, a Espanha.
Embora não tivessem sequer um idioma comum, os diversos grupos de judeus conseguiram preservar as suas tradições e os seus ritos e apesar da perseguição hostil que sofreram em quase todos os destinos, tiveram êxitos materiais e sucesso na tarefa de preservar e repassar aos jovens a história, a religião e a filosofia de seu povo, consolidando, assim, o sentimento de comunidade.
Dessa sorte, os judeus que se estabeleceram na península ibérica prosperaram, aproveitando-se da tolerância dos dominadores mouros; porém, quando esses foram vencidos e expulsos, as perseguições não tardaram, menos por implicância religiosa e mais por cobiça financeira, haja vista que a célebre habilidade monetária os fizera importantes capitalistas e credores de grande parte da atividade econômica e até da monarquia encabeçada pelo rei Fernando, em 1492.
E como as pressões aumentaram de modo exponencial, restou-lhes apenas converter-se ao Catolicismo ou abandonar as suas posses e partir para outras paragens. A grande maioria fez a segunda opção para preservar a sua crença e os seus valores e aconteceu, então, quase que outra diáspora, onde, novamente, não faltaram hostilidades aonde chegassem, como, por exemplo, na França, na Inglaterra e em várias nações africanas.
Raros foram os portos onde encontraram alguma simpatia e foi em um desses, a tolerante Holanda, que uma família de judeus portugueses se estabeleceu. Ali seria o novo lar dos Spinoza.
E o desenvolvimento da comunidade hebreia alavancou o progresso da nação, trazendo como resultado um longo período de tranquilidade e de prosperidade. Todavia, a harmonia no seio judaico sofreu um considerável abalo quando em meados do século XVII surgiu uma controvérsia doutrinária na sinagoga protagonizada pelo jovem e inquieto Uriel A. Costa*, que havia abandonado vários dogmas ortodoxos e escrito um vigoroso tratado onde combatia a ideia de vida após a morte.
Os rabinos mais conservadores fizeram-no retratar-se em público e de forma humilhante, pois temiam que a Igreja e a sociedade católica holandesa pudessem ficar ressentidas e passassem a lhes hostilizar, já que a vida no além é uma das premissas básicas do Cristianismo. Humilhado por ter que se desdizer e pelas críticas que recebeu, o jovem Ariel acabou cometendo suicídio.
O episódio, contudo, não se encerrou completamente com esse desfecho trágico, pois a partir dele começou a florescer certa ebulição doutrinária que em seguida tornou-se política e social, acarretando no final um desenlace infeliz para a comunidade, como veremos mais adiante.
E o caso repercutiu profundamente em uma criança que já era apontada como uma das futuras luzes da religião e do povo hebreu, pois naquele ano, 1642, Baruch Spinoza, com oito anos de idade, já demonstrava a centelha de genialidade que posteriormente o faria ser conhecido como “o maior judeu dos tempos modernos”.

Nota do Autor – a história do jovem Uriel foi escrita pelo dramaturgo Gutzkov e ainda hoje é representada em vários teatros pelo mundo.

Produção e divulgação de Pat Tavares, lettre, l´art et la culture, assessora de Imprensa e de RP., do Rio de Janeiro em Junho de 2014.

Submited by

Saturday, July 19, 2014 - 17:10

Prosas :

No votes yet

fabiovillela

fabiovillela's picture
Offline
Title: Moderador Poesia
Last seen: 8 years 42 weeks ago
Joined: 05/07/2009
Posts:
Points: 6158

Add comment

Login to post comments

other contents of fabiovillela

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Love Espelho 0 3.509 12/26/2012 - 13:56 Portuguese
Poesia/General As Estações 0 4.001 12/23/2012 - 14:19 Portuguese
Poesia/General Speratio 0 4.819 12/19/2012 - 20:43 Portuguese
Poesia/General Preso Tempo 0 2.768 12/18/2012 - 11:23 Portuguese
Poesia/Fantasy A Rua da Meia-Noite 0 3.964 12/14/2012 - 11:42 Portuguese
Poesia/General Auto de Açucena 0 3.370 12/10/2012 - 11:22 Portuguese
Poesia/Dedicated Gesto 0 3.422 12/09/2012 - 12:17 Portuguese
Poesia/Love Que Sejam 0 7.736 12/07/2012 - 11:33 English
Poesia/Passion Dança do Ventre 0 3.116 12/03/2012 - 14:12 Portuguese
Poesia/General Macabéa Envelhecida 0 3.137 12/02/2012 - 11:24 Portuguese
Poesia/Dedicated Praça Tahril 0 1.638 11/25/2012 - 12:35 Portuguese
Poesia/Love Diques 0 4.180 11/23/2012 - 11:10 Portuguese
Poesia/General Finda Poesia 1 1.336 11/21/2012 - 23:25 Portuguese
Poesia/Love Labiríntico 1 2.960 11/20/2012 - 18:45 Portuguese
Prosas/Teatro PROMETEU Acorrentado - PANDORA e a Esperança 0 9.260 11/17/2012 - 22:26 Portuguese
Poesia/Sadness Travessia 0 1.434 11/13/2012 - 13:19 Portuguese
Prosas/Teatro Medeia, a Tragédia de hoje 0 6.550 11/12/2012 - 10:42 Portuguese
Anúncios/Miscellaneous - For Sale SOBREVIVENDO COM O CÂNCER LINFÁTICO - 2ª Edição 0 6.384 11/11/2012 - 12:05 Portuguese
Poesia/Fantasy Godot 0 13.513 11/11/2012 - 11:52 English
Poesia/General Old Age 0 2.131 11/05/2012 - 14:34 Portuguese
Poesia/Sadness Mater Dolorosa 0 2.341 11/02/2012 - 11:15 Portuguese
Poesia/Dedicated As Meninas 0 3.366 10/23/2012 - 11:39 Portuguese
Poesia/General Nostalgia 0 3.096 10/22/2012 - 11:54 Portuguese
Poesia/Dedicated A Atriz 5 4.908 10/19/2012 - 14:28 Portuguese
Poesia/Dedicated Morangos 0 2.490 10/14/2012 - 12:26 Portuguese