Rousseau e o Romantismo - Parte I - Preâmbulo

Recorda-se o leitor (a) que no capítulo anterior citou-se o antagonismo entre os ideários de Voltaire e o de Rousseau, ainda que ambos se abrigassem sob o manto do Iluminismo.

Em verdade, aquele conflito especifico repetia o eterno movimento pendular que constitui a essência do Pensamento filosófico: a alternância entre o predomínio de uma tendência caracterizada por um pensar mais associado à realidade física, concreta; e a predominância de uma corrente mais ligada ao abstrato, espiritual, sentimental, sobrenatural.

Tendências que não podem ser classificadas como “superior” ou “inferior”, haja vista que cada qual tem seu mérito se adéqua às condições que a civilização enfrenta naquela quadra do tempo, já que são resultantes da conjuntura histórica do momento. São teses e antíteses que nunca serão resolvidas em uma síntese superior, pois se tal sucedesse ter-se-ia o “conhecimento total”, que sabemos ser impossível em virtude das limitações da mente humana. Assim sendo, resta-nos aproveitar a existência do contraditório que esse embate propicia e ver no mesmo a faísca que acende as novas luzes do Saber.

Isso dito, colocaremos na sequência algumas características que diferenciam o Romantismo do Sentimentalismo, e logo na sequência iniciaremos as considerações sobre o maior expoente dessa corrente, Jean Jacques Rousseau.

01) Otimismo filosófico;
02) Providencialismo;
03) Tradicionalismo
04) Titanismo,
sendo:

Otimismo filosófico – a convicção de que a realidade é tudo aquilo que deve ser; e de que é sempre perfeita e racional. Graças a tal otimismo, o Romantismo tende a exaltar como sublime a dor, a infelicidade e o próprio mal, pois a magnitude superlativa do “espírito” também se manifesta nos aspectos negativos da realidade, superando-os e até os resolvendo. Exemplo claro dessa tendência é a Filosofia de Leibniz, entre outros.

Providencialismo histórico – a história é um processo necessário (no sentido filosófico) no qual a “Razão Infinita (O Espírito, Deus)” se manifesta ou se realiza. Por isso, na história nada há de irracional ou inútil. Entre o Romantismo e o Racionalismo observa-se a seguinte diferenciação:
O Racionalismo associa a “tradição” com a ignorância, a superstição, os preconceitos, a violência, as fraudes e a “história” com o processo de reconhecimento dessas negatividades e de esforço para libertar-se delas. O Romantismo, ao contrário, considera que a tradição e a história são manifestações “Razão Infinita”, sendo ambas, portanto, verdade e perfeição.

Tradicionalismo – em conformidade com as características acima, tem-se o Iluminismo-Racionalista como crítico e revolucionário; enquanto o Romantismo é conservador, tradicionalista, enaltecendo sempre as instituições e as tradições.

Titanismo – configurado no culto e na exaltação ao “infinito” ou pela negação simples do “finito” que o raciocínio pode demonstrar através do pensamento lógico, atado às regras da física, da matéria. O Romantismo não considera impossível a existência do sobrenatural, do miraculoso, do fantástico, bem como da capacidade humana de se ir além das barreiras concretas. O titã grego Prometeu é um símbolo clássico dessa concepção, já que representa a rebeldia; o avanço para além dos limites da física e das Leis.

Produção e divulgação de Pat Tavares, lettré, l´art et la culture, assessoria de Imprensa e de Comunicação com o Público. Rio de Janeiro, Primavera de 2014.

Submited by

Wednesday, October 8, 2014 - 00:16

Prosas :

No votes yet

fabiovillela

fabiovillela's picture
Offline
Title: Moderador Poesia
Last seen: 8 years 17 weeks ago
Joined: 05/07/2009
Posts:
Points: 6158

Add comment

Login to post comments

other contents of fabiovillela

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Prosas/Others Óperas, guia para iniciantes - O BARBEIRO DE SEVILHA - Resenhas. Parte II 0 3.285 02/27/2015 - 15:18 Portuguese
Prosas/Others Óperas, guia para iniciantes - O BARBEIRO DE SEVILHA - Resenhas. Parte I 0 5.289 02/24/2015 - 20:46 Portuguese
Poesia/Sadness Ana e a Bala Perdida 0 2.613 02/22/2015 - 15:14 Portuguese
Prosas/Others Óperas, guia para iniciantes - CARMEN - Resenha. 0 3.639 02/20/2015 - 18:03 Portuguese
Poesia/General A Quaresmeira de Poços 1 1.766 02/18/2015 - 19:37 Portuguese
Prosas/Others Óperas, guia para iniciantes - AÍDA - Resenhas 0 5.910 02/12/2015 - 17:09 Portuguese
Poesia/General Amores e Realejos 0 2.548 02/09/2015 - 13:17 Portuguese
Prosas/Others Óperas, guia para iniciantes - Mme. Butterfly - Resenhas 0 2.467 02/05/2015 - 15:20 Portuguese
Poesia/Love Infinitos 0 2.438 02/02/2015 - 13:42 Portuguese
Poesia/Love Recomeços 0 1.114 01/31/2015 - 18:40 Portuguese
Poesia/Sadness Anjos e Esquinas 0 2.294 01/30/2015 - 19:38 Portuguese
Prosas/Others Óperas, guia para iniciantes - Parte IX - Quadro Sinótico e breve Glossário 0 3.960 01/27/2015 - 13:41 Portuguese
Prosas/Others Óperas, guia para iniciantes - Parte VIII - A Ópera no Brasil 0 6.460 01/26/2015 - 21:02 Portuguese
Poesia/Love Aqui 0 1.386 01/25/2015 - 23:26 Portuguese
Prosas/Others Óperas, guia para iniciantes - Parte VII - A Ópera Alemã. 0 6.894 01/23/2015 - 19:46 Portuguese
Prosas/Others Óperas, guia para inciantes - Parte VI - A Ópera francesa. 0 1.811 01/22/2015 - 23:59 Portuguese
Poesia/General A face no espelho 0 2.994 01/21/2015 - 01:09 Portuguese
Prosas/Others Óperas, guia para iniciantes - Parte V - O desenvolvimento da ópera italiana. 0 3.818 01/20/2015 - 18:56 Portuguese
Prosas/Others A Ópera no Ocidente - Parte IV - Uma breve história - A Ópera italiana. 0 8.570 01/19/2015 - 19:23 Portuguese
Prosas/Others Ópera, guia para iniciantes - Parte III - Apêndice "O estilo Kunqu" 0 2.932 01/16/2015 - 14:10 Portuguese
Prosas/Others Óperas, guia para iniciantes. A história da ópera. A ópera chinesa. 0 4.339 01/15/2015 - 20:58 Portuguese
Prosas/Others ÓPERAS, guia para iniciantes - Parte I - Sinopse 0 2.885 01/14/2015 - 13:12 Portuguese
Poesia/Love Quartos 1 1.800 01/13/2015 - 21:35 Portuguese
Prosas/Others Descartes e o Racionalismo - Parte XIV - Apêndice, o Empirismo - segunda parte 0 4.451 01/08/2015 - 14:26 Portuguese
Prosas/Others Descartes e o Racionalismo - Parte XIII - Apêndice "O Empirismo" 0 4.093 01/07/2015 - 14:37 Portuguese