Rousseau e o Romantismo - Parte V- Os Enciclopedistas
Em 1746, com a morte do pai, Jean Jacques herdou uma pequena herança e graças a ela passou a viver mais confortavelmente. Enquanto isso consolidou a sua amizade com Diderot e as relações com outros intelectuais, dentre os quais Condillac1e2 (Etiéne Bonot – 1715-1780 – França) que se ordenara Sacerdote católico em 1740 e ainda não se tornara o renomado Filósofo de algum tempo depois. Nessa ocasião também conheceu o filósofo D´Alembert (Jean Le Round – 1717-1783, França) que redigia com Diderot o “Dicionário Enciclopédico”, do qual, aliás, ele também participou escrevendo alguns verbetes sobre música, graciosamente.
Suas relações, como se viu, incluíam as mentes mais ilustres da época e, além dos citados, nelas também se incluíam o Barão de Grimm - importante crítico literário alemão – e o também germânico Henri Dietrich (1723-1789), mais conhecido com Barão d´Holbach, que se destacava no grupo por seu ateísmo radical, exposto em suas próprias obras (algumas assinadas com pseudônimo Mirabeau) e nos textos de seus protegidos. O barão d´Holbach era uma figura singular que despertava curiosidade e temor, chegando até a ser evitado pelo populacho mais ignaro, que suspeitava que ele tivesse parte com o demônio (sic). E o próprio Rousseau não lhe tinha muita simpatia, como registrou em “Confissões”.
Dessa sorte, Rousseau já estava estabelecido com razoável comodidade e desfrutava das amizades citadas, quando assumiu que vivia maritalmente com Thérèse Le Vasseuer, a criada de quarto do hotel onde ele residia. Com ela, ele gerou cinco filhos, mas ao invés de criá-los, já que gozava de boa situação material, entregou-os a um orfanato alegando não ter condições de educá-los. Em 1768, o casal oficializou o casamento, mas nem assim assumiu a prole que havia gerado.
Ainda em 1745, Rousseau voltou a trabalhar para a família Dupin, primeiro auxiliando a Senhora com as pesquisas necessárias ao livro que ela estava escrevendo sobre a condição da mulher; e, depois, ajudou o Senhor em um projeto para refutar a obra de Montesquieu, “O Espírito das Leis”. Nessa ocasião também contribuiu com um amigo na composição de um ópera rascunhada por Voltaire e Rameau, chamada “Fêtes de Ramire”, que não lhe rendeu sequer os devidos créditos na partitura.
E dentro dessas circunstâncias o tempo passou sem maiores novidades até que em certo dia de 1749, ao dirigir-se à Bastilha para visitar Diderot (que havia sido preso por ofender um nobre em seu livro “Lettré Sur Les Aveugles”), ele viu um cartaz anunciando um concurso literário da Academia de Dijon, sobre o tema “A Restauração das Ciências e das Artes tinha tendido a Purificar a Moral?”.
A perspectiva de vencer o concurso entusiasmou-lhe deveras e o estímulo do amigo Diderot fê-lo inscrever-se célere. O resultado foi a conquista do primeiro lugar com seu trabalho “Discours Sur lês Sciences et lês Arts”, que lhe rendeu a publicação do mesmo, no ano seguinte, e a consolidação de sua fama como Escritor.
Nesse trabalho, “Discurso sobre as Ciências e as Artes”, editado como livro em 1750, ele sintetiza a sua Filosofia social, cujos pontos principais são:
• O conflito existente entre as convenções sociais e a natureza humana.
• A paradoxal superioridade do “estado da natureza” sobre a civilização.
• A bondade do homem corrompida pela Sociedade.
• A necessidade de se retornar a uma vida natural; e
• A Arte e a Ciência como as grandes corruptoras da mente humana.
Vivia o filósofo uma fase dourada, porém, um acontecimento negativo interrompeu a maré favorável, na forma de uma enfermidade que o acometeu.
Em função da moléstia, afastou-se do trabalho com a família Dupin e tentou o mesmo com a agitada vida social que levava. Todavia, ele estava no auge da fama e lhe era impossível viver em sóbrio recolhimento na efervescente Paris e, então, ele se viu obrigado a se retirar para a casa de campo de um amigo, M. Mussard, que após ter-se aposentado de sua bem sucedida carreira como joalheiro, vivia para cuidar de seu jardim.
Ali, em 1752, gozando de toda a tranquilidade, compôs a peça “Le Devin du Village”, cuja exitosa estreia aconteceu na Corte do Rei Luis XV. Em face do êxito obtido, o soberano ofereceu-lhe uma pensão, mas Rousseau a recusou temendo ficar compromissado com o monarca e com a sua liberdade criativa atada por um dever de gratidão. Recusou-se até mesmo a comparecer à cerimônia, preferindo voltar imediatamente para Paris.
Sua recusa foi deplorada por vários críticos e até pelos amigos, como Diderot. Contudo, o estrondoso sucesso da obra blindou-o contra qualquer ameaça de boicote real e consolidou a sua fama. Mais que nunca ele passou a ser requisitado por toda a França.
Todavia, a sua afirmativa de que a música italiana era mais natural e apaixonada que a francesa o indispôs com Rameau e com outras celebridades, que passaram, então, a dizer que a sua música e a sua literatura não condiziam com a sua forma de viver. Em resposta, ele anotou no prefácio de “Narcisse” que “sendo incapaz de suprimir o veneno das Artes e da Literatura (sic), ele estava servindo um antídoto ao veneno, direcionando as armas da corrupção de volta contra a própria corrupção”.
Entre a troca de farpas o debate prosseguiu e teve como resultado final a vigilância que a polícia passou a lhe dedicar, a partir de 1753.
Continua...
Nota do Autor1 – Rousseau já havia conhecido Condillac em uma visita que esse fizera ao seu irmão Jean-Bonet, pai das crianças de que ele era o tutor.
Nota do Autor2 – foi Rousseau quem pediu a Diderot que conseguisse um Editor disposto a publicar a primeira obra de Condillac.
Produção e divulgação de Pat Tavares, lettré, l´art et la culture, assessoria de Imprensa e de Comunicação com o Público. Rio de Janeiro, Primavera de 2014.
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