Descartes e o Racionalismo - Parte III - o Racionalismo - continuação
... Dentre as quais as correntes de tendência empirista que se destacavam pela virulência. Noutras, de conteúdo peripatético – e mesmo as do próprio Aristóteles – verificou-se certo equilíbrio entre o Racionalismo e o Empirismo; mas, nas de caráter puramente empirista, como a Escola de Filodemo de Gádara (c.110 AEC – Jordânia) e as Escolas Céticas a tese racionalista foi quase que completamente suprimida.
Por outro lado, em várias tendências antigas de matiz racionalista, houve certa composição, na teoria do Conhecimento, com o Intucionismo por conta da crença de que a “Razão Perfeita” equivaleria à “Intuição Completa”.
Em algumas outras, de características místicas, o Racionalismo passou a ser aceito e integrado – após breve recusa dos mais puristas – por se acreditar que os elementos místicos seriam a culminância do processo racional no quesito do Saber.
Porém, o fim do Império Romano abriu as portas para as trevas da Idade Média e um novo elemento surgiu no horizonte: o Cristianismo católico. Em pouco tempo, a nova corrente teológica filosófica assumiu a preponderância espiritual e abocanhou a maior parte do poder secular, material.
A partir de então a disputa entre “Fé” e “Razão” passou a dominar o cenário filosófico e se tornou uma obsessão encontrar algum equilíbrio entre ambas; ou, melhor ainda, encontrar uma maneira de se “comprovar racionalmente (sic)” a existência dos objetos da fé (Deus, santos, céu, inferno etc.).
Essa obsessão, amplamente patrocinada pelo Clero, já que isto consolidaria seu poder, produziu várias distorções no Racionalismo tradicional, culminando com o surgimento do chamado “Racionalismo Medieval”, cuja principal função (peço licença aos amáveis leitores para repetir um termo vulgar) era criar várias “contas de chegar”; ou seja, uma espúria e forçada adequação dos elementos racionais e lógicos, com o intuito de “comprovar (sic)” a veracidade dos atos litúrgicos e da doutrina em si. Confirmar teses e teorias que só tem alguma validade quando são mantidas no terreno da abstração, da credulidade, da fé.
E essa procura, sob o patrocínio e a coordenação do Clero, não mediu esforços para atingir seu objetivo, pois a racionalização dos dogmas “legitimava” o Poder das elites clericais e nobiliárquicas, que não pouparam meios e fundos para conseguirem o intento. Todavia, apesar das pressões psicológicas, sociais e das torturas físicas e morais, via, Santa Inquisição, o resultado das fraudes só conseguiu convencer o populacho mantido na ignorância.
Para aqueles que tinham algumas luzes, o “novo” Racionalismo era apenas uma excrescência que o tempo se incumbiria de exterminar, pois não havia como concordar com a tese de que “ser racionalista” resumia-se em admitir que toda Realidade – e principalmente a “Realidade Suprema”, ie, Deus – era “racional” por ser “completa e facilmente compreendida pela mente humana (sic)”.
Podia-se, é verdade, usar-se os princípios genuínos do Racionalismo tradicional em outras ciências; mas não na Teologia (o estudo de Deus) e, por consequência, nem nas questões decorrentes, como, por exemplo, a Ética, que são vitais para o Ser humano, enquanto Ser social.
Um triste absurdo, entre tantos outros daquele perí-odo, que só teve fim com o declínio do Catolicismo, a partir das Reformas de Lutero (Martinho – 1483-1546 – Alemanha) e de Calvino (João – 1509-1564 – França); bem como, com surgimento das chamas do Renascimento que trouxe à luz homens como Descartes.
Com efeito, o impulso dado pelo racionalista francês à visão filosófica e a enorme influência que ele exerceu sobre o Pensamento ocidental pode ser visto não só como uma luz nas trevas medievais, mas, também como um resgate das grandes Escolas Filosóficas da Antiguidade.
E tal foi a importância desse acontecimento, que não foram poucos os eruditos que passaram a considerá-lo como o “Pai” da Filosofia moderna; proclamando que ao Racionalismo estariam vinculadas todas as teses filosóficas; e que em seu ideário estava a maior tentativa de racionalizar completamente a Realidade. Exemplo dessa veneração pode ser visto, por exemplo, no Pensamento do historiador Francisco Romero (historiador contemporâneo) que tece soberbas loas ao intento cartesiano de reduzir a Realidade ao Racionalismo (ou à Idealidade).
Porém, os elogios de Romero, bem como os demais, devem ser vistos com cautela, pois nas filosofias de Descartes e doutros racionalistas, como Ma-lebranche, Spinoza, Leibniz, Wollf (Alemanha – 1679-1754) etc. existem outros elementos e não só a racionalidade. E é certo que esses grandes mestres também fizeram um trabalho esplêndido com esses outros temas, principalmente no quesito do Conhecimento.
Ademais, as teorias modernas do Racionalismo só atingiram o seu nível de complexidade e de abrangência porque os autores antigos, e mesmo alguns Filósofos medievais, já haviam aumentado o leque de possibilidades da Razão, cabendo-lhes, portanto, parte significativa nos créditos.
Contudo, é óbvio que Descartes é digno de todos os elogios e das maiores considerações, pois foi de seu intelecto superior que nasceu o mais importante incremento à arte de raciocinar.
Continua...
Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, Primavera de 2014.
Submited by
Prosas :
- Login to post comments
- 5341 reads
other contents of fabiovillela
Topic | Title | Replies | Views | Last Post | Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Sadness | Noturno | 0 | 1.109 | 01/10/2012 - 12:07 | Portuguese | |
Poesia/General | To ber or not | 0 | 1.962 | 01/09/2012 - 12:31 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Outro Caminho | 0 | 814 | 01/07/2012 - 11:59 | Portuguese | |
Poesia/General | Narguilé | 0 | 2.685 | 01/06/2012 - 12:11 | Portuguese | |
Poesia/General | Arabesco | 0 | 1.684 | 01/05/2012 - 18:27 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | Navios | 0 | 3.248 | 01/04/2012 - 13:29 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Teria Sido | 0 | 2.045 | 01/03/2012 - 11:40 | Portuguese | |
Poesia/General | Romã | 1 | 1.705 | 01/02/2012 - 22:38 | Portuguese | |
Poesia/General | Novo | 1 | 1.142 | 12/31/2011 - 16:22 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Traição | 0 | 1.707 | 12/28/2011 - 12:28 | Portuguese | |
Poesia/General | Novo Ano do Dragão | 0 | 1.973 | 12/27/2011 - 11:36 | Portuguese | |
Poesia/General | Sátiras | 0 | 1.455 | 12/26/2011 - 14:02 | Portuguese | |
Poesia/Love | Alameda | 0 | 2.230 | 12/24/2011 - 12:43 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Fernanda Atriz | 0 | 1.177 | 12/22/2011 - 09:56 | Portuguese | |
Poesia/Love | Arco-Iris | 0 | 1.774 | 12/21/2011 - 10:33 | Portuguese | |
Poesia/Love | Voragem | 1 | 1.567 | 12/19/2011 - 22:01 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | João | 0 | 1.122 | 12/18/2011 - 10:37 | Portuguese | |
Poesia/General | Calendários Astecas | 1 | 1.846 | 12/17/2011 - 00:28 | Portuguese | |
Poesia/Love | Vésper | 0 | 1.240 | 12/15/2011 - 10:56 | Portuguese | |
Poesia/General | Poços de Caldas | 0 | 1.882 | 12/14/2011 - 14:29 | Portuguese | |
Poesia/General | As Matinas | 0 | 1.715 | 12/12/2011 - 18:52 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Érika | 1 | 4.264 | 12/11/2011 - 23:31 | Portuguese | |
Poesia/General | Cult | 0 | 1.499 | 12/11/2011 - 22:11 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | A Lágrima e a Chuva | 0 | 489 | 12/10/2011 - 10:38 | Portuguese | |
Poesia/General | Grande Irmão | 0 | 839 | 12/09/2011 - 19:12 | Portuguese |
Add comment