Óperas, guia para iniciantes - O BARBEIRO DE SEVILHA - Resenhas. Parte I


Barbeiro de Sevilha
 

Autoria – Rossini (Giochino Antonio – 1792-1868 – Itália)
Libreto – Cesare Sterbini
 
Personagens:

Almaviva, o Conde – interpretado por um tenor.

Bartolo, Doutor – médico e tutor de Rosina. Interpretado por um Baixo.

Rosina – protagonista feminina. Interpretada por uma Soprano.

Fígaro, Barbeiro e “faz tudo” – interpretado por um Barítono.

Don Basílio – professor de música. Interpretado por um Baixo.

Fiorello – empregado do Conde Almaviva. Interpretado por um Baixo.

Berta – empregada de Don Bartolo. Interpretado por uma Soprano.

Ambrógio – servidor de Don Bartolo. Interpretado por um Baixo.
 

Época e local

Sevilha, Espanha, século XVIII.
 
Enredo

O primeiro ato dessa “Ópera Buffa” tem como cenário uma rua de Sevilha onde o jovem e galante Conde de Almaviva prepara uma serenata em homenagem a uma linda jovem por quem se apaixonou após tê-la avistado em algumas ocasiões.
Junto dele estão Fiorello, seu criado, e os músicos que se esmeram na execução das melodias, como, por exemplo, na ária para Tenores e guitarra, “Ecco Ridenti in Cielo”.
Além dessa outras músicas são tocadas e, então, o espectador assiste ao primeiro momento “buffo” da Ópera quando os músicos se recusam a parar a serenata, inoportunamente agradecidos pela excelente remuneração que o Conde lhes oferece. E, realmente, o fim da audição só acontece após certo tempo, quando fica claro para todos que a jovem não virá à janela ou ao balcão.
Enfim sozinho Almaviva se posta sob a marquise de sua amada até que um rumor de passos obriga-o a se esconder; porém, o temor é injustificado, pois quem se aproxima é Fígaro, com quem já havia travado relações noutra localidade.
Loquaz como de hábito, Fígaro entoa a popularíssima cavatina* “Largo Al Factótum** (Fígaro aqui... Fígaro ali... Fígaro lá...)”, com a qual conta que além de ser o barbeiro da cidade é, também, um verdadeiro “faz tudo” em Sevilha, graças às suas inúmeras habilidades e ao seu conhecimento quase total da cidade e de seus habitantes.
Após essa entusiasmada apresentação, ele e o Conde começam a traçar um plano para que Almaviva consiga adentrar o casarão e cortejar a doce Rosina. Fígaro lhe conta que a moça é discípula e não filha do velho doutor Bartolo e também fala sobre as qualidades, os sonhos e os desejos da mesma. Em resposta, Almaviva diz-lhe que adotará o pseudônimo de “Lindoro” e que ocultará, num primeiro momento, a sua posição de nobreza e a sua fortuna, pois almeja ser amado apenas por si mesmo e não por suas posses.
Enquanto ambos arquitetam o plano, Rosina e o doutor Bartolo surgem no balcão. A jovem traz um papel semioculto na mão que logo desperta o ciúme e a ira do velho, mas ela, ardilosamente, diz-lhe tratar-se apenas do enredo de uma Ópera muito popular chamada de “Precaução inútil (sic)”.
Sem atentar para a ironia da moça, ele ordena-lhe que se recolha e avisa aos criados para que proíbam a entrada de qualquer pessoa na casa, com exceção de Don Basílio, o professor de música da jovem. Em seguida, Bartolo sai apressado rumo ao Tabelião para pedir urgência nos trâmites dos papeis de seu casamento com a tutelada.
Antes de lhe obedecer, Rosina deixou cair o papel que segurava, no qual convida o romântico seresteiro a visitar-lhe, avisando-o da saída de seu tutor.
Através da ária “Se Il Mio Nome”, Almaviva aceita o convite e já usando o falso nome de Lindoro, apresenta-se como um homem pobre, incapaz de lhe proporcionar uma vida de luxo e riqueza. A jovem começa a responder-lhe falando da iminência de seu casamento, mas é bruscamente interrompida.
Aflito, ele pede auxílio a Fígaro, pois entende a urgência de se impedir aquele nefasto arranjo matrimonial. O “Factótum” lembra-se, então, da chegada de um batalhão à cidade e sugere que Almaviva se faça passar por um oficial e que, nessa posição, busque alojamento na casa, conforme a praxe da época.
O dueto relativo a esse estratagema encerra a primeira cena.
A segunda cena desse primeiro ato é ambientada em uma das salas do casarão onde Rosina entoa a ária “Una Voce Poco Fá”, que conta uma história símile a que está vivendo: uma voz que há pouco escutou, já toca o seu coração. Em seguida a música passa a fazer menção ao seu tutor e às suas intenções e ela se despe de cerimônias e se autodefine como alguém gentil, doce e pacífica, mas, também, aguerrida em defesa de seus interesses e de suas vontades. Uma víbora impiedosa se lhe forem contrariados os sonhos e desejos.
Finda a ária, ela se retira do recinto que, então, passa a ser ocupado pelo velho Bartolo e por Don Basílio, que além de professor de música, também é o Agente Matrimonial que está cuidando do casamento. O ancião explica-lhe que tem muita pressa em realizar o casamento, pois teme que sua tutelada se apaixone por um de seus vários pretendentes.
E o casamenteiro lembra, a propósito, que um desses admiradores é o próprio Conde de Almaviva, a quem urge afastar, já que ele é um concorrente de muito peso.
Concorde com o risco, Bartolo pede-lhe auxílio para afastar esse risco e o professor entoa a célebre ária “La Calunnia” que sugere a maneira mais eficaz de afastar uma pessoa: a calúnia, a intriga, a maledicência. Será preciso, segundo seus pérfidos argumentos, lançar calúnias sobre o nobre pretendente até que ele se sinta acuado e não lhe reste alternativa a não ser mudar-se de localidade, vez que a sua reputação foi jogada na lama. Afinal, ninguém resiste a uma intriga, já que a mesma é como uma brisa suave que se insinua sorrateira entre o populacho e vai se avolumando com os acréscimos que as pessoas lhe colocam, até que, no fim, torna-se um tufão que a tudo arrasa. Ao pobre caluniado, resta apenas o desprezo e o ódio de todos e, em consequência, a vontade de morrer.
Essa ária, além da beleza superior, também se notabilizou por ser extremamente descritiva do comportamento humano. Para muitos, é uma variante do “Realismo” que, então, vicejava na literatura da época.
Ao fim da mesma, os dois idosos se retiram e a cena fica vazia por alguns instantes. Na sequência, Rosina recebe a visita de Fígaro que se diz primo de Lindoro e lhe pede que escreva um bilhete confirmando o seu interesse no rapaz. Ela finge hesitar, mas, na verdade, ela já havia feito tal bilhete e o mesmo é de tal modo explicito que Fígaro deixa de ter qualquer dúvida em relação aos seus sentimentos. Ela está pronta para o amor e não há nada mais que ele possa ensinar-lhe.
Nesse entretempo, Bartolo regressa a casa e ao perceber a falta de uma folha de papel adivinha que Rosina usou-a e se põe a pressioná-la para que ela confesse a quem escreveu. Ela resiste às suas investidas e ele se irrita com as suas negaças, censurando-a asperamente, através de uma ária extremamente vigorosa.
Ela não responde aos seus insultos e abandona a cena que, em seguida, é ocupada por Almaviva, disfarçado em um oficial bêbado que insiste em se hospedar ali, apesar da tenaz resistência que lhe opõe o velho Bartolo. Uma pantomima que o Conde sustenta por algum tempo, enquanto busca meios para entregar um novo bilhete para sua amada...
 
Continua...

Nota do Autor* - Cavatina - ária curta, sem repetição nem segunda parte.

Nota do Autor** – “Largo Al Factótum” ou “Abra Caminho para o Factótum” é uma ária que se tornou um ícone de popularidade no meio operístico. O termo “Factótum” vem do latim e significa um “servente geral” ou, literalmente, um “faz tudo”.
 


Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, Verão de 2015.
 

Submited by

Tuesday, February 24, 2015 - 21:46

Prosas :

No votes yet

fabiovillela

fabiovillela's picture
Offline
Title: Moderador Poesia
Last seen: 7 years 51 weeks ago
Joined: 05/07/2009
Posts:
Points: 6158

Add comment

Login to post comments

other contents of fabiovillela

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/General Vagos 0 1.097 08/21/2014 - 22:37 Portuguese
Prosas/Others Spinoza e o Panteísmo - Parte XI - A Ética baseada na Sabedoria 0 2.018 08/20/2014 - 16:07 Portuguese
Prosas/Others Spinoza e o Panteísmo - Parte XI - A Ética baseada no Saber 0 1.134 08/19/2014 - 16:33 Portuguese
Poesia/Love Habitas 0 2.942 08/18/2014 - 14:41 Portuguese
Prosas/Others Pobres velhos... Tristes tempos... 0 3.680 08/16/2014 - 22:32 Portuguese
Poesia/Dedicated A dor de Cesária 0 701 08/16/2014 - 01:38 Portuguese
Poesia/Love As Histórias 0 3.165 08/14/2014 - 16:54 Portuguese
Prosas/Others Spinoza e o Panteísmo - Parte X - Matéria e Mente 0 1.545 08/14/2014 - 16:46 Portuguese
Poesia/Dedicated Ana e Flávia 0 694 08/13/2014 - 15:50 Portuguese
Prosas/Others Spinoza e o Panteísmo - Parte IX - Deus e a Natureza 0 1.949 08/12/2014 - 23:51 Portuguese
Poesia/Dedicated Os Pais 0 1.656 08/10/2014 - 14:53 Portuguese
Prosas/Others Spinoza e o Panteísmo - Parte VIII - A Ética - Livro III, IV e V - A Moral Geométrica 0 1.930 08/10/2014 - 03:06 Portuguese
Prosas/Others Spinoza e o Panteísmo - Parte VIII - Livro II (Da Mente) o Homem 0 654 08/08/2014 - 15:41 Portuguese
Prosas/Others Spinoza e o Panteísmo - Parte VI - A Ética - Preâmbulo e Livro I 0 1.313 08/07/2014 - 15:13 Portuguese
Poesia/General Saguão 0 1.379 08/05/2014 - 16:35 Portuguese
Prosas/Others Jorge Luis Borges - O OUTRO - Resenha 0 2.552 08/05/2014 - 15:40 Portuguese
Poesia/Love Demiurgo 0 1.348 08/03/2014 - 16:43 Portuguese
Prosas/Others Spinoza e o Panteísmo - Parte VI - O Progresso do Intelecto 0 1.133 08/02/2014 - 22:06 Portuguese
Prosas/Others Spinoza e o Panteísmo - Parte V - Tratado sobre a Religião e o Estado 0 1.533 08/01/2014 - 16:42 Portuguese
Prosas/Others Spinoza e o Panteísmo - Parte IV - após a expulsão 0 1.762 07/30/2014 - 14:42 Portuguese
Poesia/Love Cristais 0 789 07/29/2014 - 01:44 Portuguese
Poesia/General Temporal 0 1.217 07/26/2014 - 21:24 Portuguese
Poesia/General Livres 0 1.286 07/26/2014 - 01:05 Portuguese
Poesia/Love Habitastes 1 1.577 07/25/2014 - 23:49 Portuguese
Prosas/Others Spinoza e o Panteísmo - Parte II - A formação do jovem Baruch 0 1.549 07/24/2014 - 16:08 Portuguese