PINTINHOS PARA TODOS OS LADOS

Eu tive um vizinho que vivia de braço engessado. Quando conseguia tirar o gesso do braço, quebrava a perna. Quando curava a perna, abria o pulso. Quando não batia a cabeça no poste, prensava o dedo na porta do fusca, ou então quase se esquartejava fazendo a barba.

Acredito que, algumas pessoas tenham propensão a acidentes.
O Zamarian, meu amigo, tinha propensão a incidentes, a interferências. Estava sempre onde não era chamado. Metia o nariz em tudo. Era muito curioso, meio desastrado.

De manhã, ele virava café com leite na toalha, ou derrubava o pão com manteiga no chão. Durante o dia, ele se sujava de graxa nas portas das padarias. Em tinta fresca, ele sempre colocava o dedo.  Nos aniversários, ele deixava cair a cobertura mole do bolo no sapato. Nos casamentos, ele conseguia tropeçar no vestido da noiva.

Um dia, nós tínhamos aproximadamente 14 ou 15 anos, o Zamarian me convidou para ir visitar sua tia na cidade de Americana. Era a primeira vez que eu viajava sozinho e estava muito eufórico. Chegamos lá, no sábado `a tarde, e no domingo cedo estávamos na praça da matriz, nos preparando para conhecer a cidade.
Uma larga avenida se estendia da porta da igreja e terminava na estação do trem. Fomos descendo vagarosamente, tentando imitar a calma e a lentidão do pessoal da região.
Quando percebemos, estávamos nos aproximando de uma roda de respeitáveis senhores que tranquilamente, em círculo, conversavam sobre alguma coisa. No meio deles, no chão, havia uma caixa de sapatos.

O Zamarian deve ter sentido uma atração muito forte pela caixa. Não resistiu. Deu uma corridinha, chutou a caixa arremessando tudo para o ar.
Meu Deus! Foi pintinho pra todo lado!
Ficamos surpresos e apavorados. Alguém mais agressivo podia nos pegar, e... Mas, ninguém reagiu. Recolheram os pintinhos calmamente e continuaram a conversa.

Era como se não existíssemos. Porque?
Por algum motivo não interferimos naquela situação. O mundo continuou girando, e fomos ignorados. Hoje, analisando aquele acontecimento, eu tenho consciência que podemos dizer em público, o que fazemos, o que experimentamos, o que abandonamos e no que acreditamos, sem sermos ouvidos.
Hoje, podemos semear novas idéias, criticar a ortodoxia, o racionalismo, o fundamentalismo sem que não nos dêem atenção.
Podemos nos expor a cada momento sem em nada interferir. Podemos ser ouvidos ou ignorados.
Talvez por isso, a agressividade na comunicação tem atingido o extremo, fabricando até homens-bombas.  Não adianta mais chutar a caixa dos pintinhos e sair. Será uma interferência inoportuna ou irresponsável.

Naquela situação não houve a comunicação desejada, apenas uma interferência numa situação desconhecida. Fomos infrutíferos porque desconhecíamos totalmente nossos receptores. Temos que aperfeiçoar nossa comunicação. A leitura de bons escritores, romancistas e poetas podem nos ajudar. O conhecimento do nosso idioma, da nossa gramática, mais ainda. Vemos em blogs e sites erros muito grosseiros. Como emissores de sonhos e verdades, temos que estar preparados porque é nossa missão.  Nosso código de comunicação está alicerçado em nosso conhecimento.
Se estivermos devidamente preparados, se soubermos como falar, como escrever e a quem nos dirigir, com certeza estaremos contribuindo para um mundo melhor.

J.Thamiel - Uma mensagem para você

Submited by

Friday, May 20, 2016 - 13:20

Prosas :

No votes yet

J. Thamiel

J. Thamiel's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 5 weeks 6 days ago
Joined: 05/02/2016
Posts:
Points: 4127

Add comment

Login to post comments

other contents of J. Thamiel

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Dedicated FÁTIMA 0 1.121 08/18/2016 - 11:13 Portuguese
Poesia/Meditation HUMILDADE 0 1.151 08/17/2016 - 14:35 Portuguese
Poesia/Comedy A VIÚVA DO TENÓRIO 0 3.619 08/17/2016 - 03:33 Portuguese
Prosas/Others A ERA DE CRISTO JÁ ERA? 0 1.595 08/16/2016 - 15:52 Portuguese
Poesia/Love AME A SUA FAMÍLIA 0 3.104 08/16/2016 - 11:10 Portuguese
Poesia/Dedicated O POETA É UM FINGIDO 1 1.212 08/16/2016 - 01:44 Portuguese
Poesia/Fantasy QUANDO DEUS COCHILA 0 1.384 08/15/2016 - 12:30 Portuguese
Poesia/General SURGIMENTO DA POESIA 0 2.418 08/13/2016 - 16:06 Portuguese
Poesia/General SOFRIMENTO DE UM DEUS 0 2.037 08/13/2016 - 00:10 Portuguese
Poesia/Joy ANJOS DA LUZ 0 7.931 08/12/2016 - 11:47 Portuguese
Poesia/Love O SOL E A LUA 0 1.752 08/11/2016 - 11:39 Portuguese
Poesia/General AMOR SEM CIÚME 0 3.045 08/10/2016 - 14:12 Portuguese
Poesia/General A LÍNGUA TORTA 0 6.720 08/10/2016 - 11:14 Portuguese
Poesia/Fantasy O GRILO E O PIRILAMPO 0 1.206 08/09/2016 - 11:53 Portuguese
Poesia/General INCONVENIÊNCIA 0 1.517 08/08/2016 - 22:33 Portuguese
Poesia/General QUANDO O POETA FICA MUDO 0 1.547 08/08/2016 - 10:56 Portuguese
Poesia/General OSSINHOS SOBRE A TOALHA 0 1.267 08/06/2016 - 12:32 Portuguese
Poesia/General O FIM DA POESIA 0 974 08/06/2016 - 11:41 Portuguese
Poesia/General PRA QUE MADRUGAR? 0 2.162 08/05/2016 - 17:50 Portuguese
Poesia/Dedicated BUQUÊ SEM ROSA 0 1.288 08/05/2016 - 12:14 Portuguese
Poesia/General O EGO DO POETA 0 1.710 08/05/2016 - 11:38 Portuguese
Poesia/General "PINTO NO LIXO" 0 2.521 08/04/2016 - 14:27 Portuguese
Poesia/General O ILUMINISMO 0 1.863 08/04/2016 - 11:33 Portuguese
Poesia/General DESABAFO - (Os Illuminatis) 2 1.725 08/04/2016 - 10:48 Portuguese
Poesia/General O TAMANHO DO UNIVERSO 1 1.403 08/03/2016 - 14:27 Portuguese