O CAMINHO ATÉ BELÉM
Como estava triste Belém ao cair daquela tarde, principalmente porque era a época das chuvas. A viagem tinha sido longa e cansativa. Chegaram ao entardecer com aquela pequena caravana, que foi se formando pelo caminho, mas todos se dispersaram procurando acomodações. Ela era tão menina, tão franzina, e aquela barriquinha se projetava para frente denunciando uma gravidez adiantada, e balançava para lá e para cá na cadência decidida de seus passos. Os pés inchados doíam. As roupas úmidas pesavam no corpo, e as dores pouco a pouco aumentavam.
Estavam ambos cansados, mas seus semblantes aprisionavam a paz e a tranqüilidade que as estrelas despejavam com o orvalho sobre Belém. O chão enlameado, e as pedras escorregadias faziam com que ela segurasse firme nos braços de José, que a amparava e perguntava em cada porta se havia ali um cantinho para os dois. Procuraram até o anoitecer. Não havia lugar. Tudo tinha um preço, tudo era pago naquela noite, até para repousar a cabeça. A cidade não os aceitou. Guiados por uma estranha estrela, eles seguiram para as pastagens, fora dos portões da cidade, e se aconchegaram junto aos animais, que se abrigavam sob o teto quebrado de um pequeno estábulo. E ali esperaram, esperaram... Eles já estavam acostumados a esperar. Todas as gerações anteriores também esperaram. Esperaram sob o domínio dos Egípcios. Esperaram quatrocentos anos na Babilônia. Jó esperou a vida inteira. Seus pais e avós esperaram por um rei forte e poderoso, esperaram por um libertador. O povo esperava um salvador que os livrasse dos romanos. José e Maria também esperavam. Esperavam um filho.
Concluindo
José e Maria estavam acostumados a esperar e todas as gerações anteriores também esperaram...
Falo por mim: jamais perco o trem. Procuro chegar antes e não gosto de esperar. Mas porque não podemos esperar? Porque damos prazo para as ocupações divinas? Porque atrelamos sempre nossos compromissos espirituais às nossas ocupações terrenas? Porque nosso consolo espiritual, nosso louvor vem sempre após as soluções de nossos problemas materiais? Se sobrar tempo, eu vou! Qual é a nossa prioridade? Porque tudo tem que ser sempre na hora e do nosso jeito? Se chover, temos muita habilidade para transformar a chuva em desculpa para alguma coisa. Se fizer sol, também. Ah! As artimanhas do fiel. Deus as conhece todas, e os párocos também. Não podemos esperar? Temos muitos compromissos? E o nosso compromisso com Deus, não é tão importante, quanto?
O chão enlameado, e as pedras escorregadias faziam com que ela segurasse firme nos braços de José...
Não deixamos ninguém segurar nosso braço, não gostamos de amparar? Se o chão estiver molhado, se as pedras estiverem escorregadias, já é motivo para nosso tropeço? É motivo para que desistamos?
A cidade não os aceitou. Guiados por uma estranha estrela, eles seguiram para as pastagens...
José e Maria procuraram, pediram e ouviram muitos “nãos” até o anoitecer. Nós só aceitamos sim como resposta, porque o nosso ponto de vista é o certo. Ficamos grudados no relógio e reclamamos pelos 15 minutos que esperamos a mais. Esta espera não é de Deus? Não é para Deus? Esses minutos não são a favor da evangelização? Se somos irresponsáveis quando atrasamos, o que somos quando não aguardamos os atrasados? Si temos que ser manjedoura, então Belém deve ser nosso coração. Por isso que digo:- Como está triste Belém ao cair da tarde. Como está triste Belém nesta estação das chuvas. Vamos procurar Belém dentro de nós. Com certeza vamos encontrar a história de um casal que com resignação muito esperou para trazer um menino ao mundo. - J. Thamiel
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