PAISAGEM

Cuspir no chão,
Escarrar da alma o veneno
E tossir o sangue epiceno
Que traz uma tuberculose infecta
É preparar-se para o manjar dos corvos.

Vomitar no soalho de cerâmica,
Urinar do íntimo a podridão
Que putrifica nas veias a saúde
É aguardar o vexame do coma
Que levará à campa uma vida satânica.

Defecar num tapete persa,
Lambuzar o âmago do pus amargo
Que nauseabunda a ferida gangrenada
É o apêndice de uma enfermidade eclética
Que deixará no sepulcro uma anatomia tétrica.

Encher o ambiente de gases intestinais,
Abrir a boca para o hálito impuro
Que sufoca do olfato o orvalho pestilento
É amordaçar o esqueleto oblongo
Na morada última de uma sepultura perpendicular!

DE  Ivan de Oliveira Melo

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Wednesday, November 4, 2020 - 02:15

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