Trecho de: A última margarida

Karina estacionara o carro ao lado desta saída, e tivera que levar o marido na cadeira de rodas até a rua. Enquanto o filho manobrava a cadeira para perto da entrada do veículo, uma mulher se aproximou deles. Cabelos negros e longos, amarrados com um lenço colorido. Roupas largas, com rendas, colares, uma cigana.
Karina temeu que ela fosse talvez uma ladra, com uma quadrilha por ali, escondida. Tentou apressar as coisas, mas ela chegou bem perto de Cássio e disse:
_ Senhor, posso ler sua mão?
_ Não, por favor. Quer algum dinheiro, eu lhe dou, mas sinto em não acreditar nisso.
_ Eu não quero o seu dinheiro. Só tenho que lhe dizer algo. Precisa me ouvir.
_ Diga então. O que quer?
_ Eles estão prometidos um ao outro. Infelizmente, muita coisa ruim ainda vai acontecer. Mas nada poderá separá-los. Nem a morte.
_ De que está falando? O que quer dizer com isso?
_ Apenas o que eu lhe disse. Estão ligados, são almas gêmeas. Se um se for, em breve, o outro também irá.
Dizendo isso, jogou no colo de Cássio, uma margarida murcha, com poucas pétalas, se afastou rapidamente, virando a esquina e sumindo no meio das pessoas.
O filho mais velho indagou o pai:
_ De quem aquela mulher estava falando? Que coisa estranha!
_ Sei lá! Deve estar louca, não entendi nada. Vamos embora. Trocou um olhar com Karina, de cumplicidade, sabiam bem do que se tratava, e ele estremeceu ao lembrar-se de suas palavras. Olhou para a flor e a jogou fora.
A viagem foi tranqüila, porém cansativa. Cássio sentia dores, e a cigana não lhe saía do pensamento. Como ela sabia? Que coisas ruins ela se referia? Nem a morte... Temeu pelo irmão, mas ele estava tão bem quando saiu de lá! Só ia passar por alguns exames e logo viria para São Paulo, para terminar sua recuperação em casa.
Resolveu esquecer o assunto. Não lhe agradava estas videntes, pareciam sempre trazer consigo um mau agouro. E ainda tinha muito em que pensar.