Cem Avós, Sem Netos!
Felizes daqueles que não viram ninguém partir
Esvoaçando pelo ar num rasto de fumaça,
Na emboscada liberdade ao encontro dos seus.
Aqueles, que abalaram um dia pela madrugada
E não disseram nada!
Num dia brilhante ou numa manhã cinzenta,
De sol escondido e inseguro ainda pela madrugada cerrada,
De uma chuva a premiar muito baixinho um segredo
Miudinho ao coração de quem fica.
Apenas para quedar e segurar as lágrimas
Que teimam em cair teimosas, as ingratas!
Felizes dos pequenos que na sua infância assentam os olhos
Em reconfortantes abraços nos sentidos mais apurados
Dos corpos apertados num só amor:
Aos olhos dos antigos que cá ficaram.
Nos troncos das meiguices gratificantes e sábias,
Envoltas aos ramos da grande árvore da experiência
Conhecedoras das emoções, que vos recebem de porta aberta
No conforto de palavras conselheiras.
Desgraçadamente, de quem não os teve!
Em momento algum conheceu a ternura de um abraço quente
E duradouro. Talvez lembrando o sabor a chocolate
De uma cevada acabada de preparar e ainda ferve…
Acompanha com pão cozido pela manhã,
Um pouco de queijo de ovelha e cabra
O doce de ginja e uma tigela de marmelada.
Nalguma casa humilde e pequena,
Nobre em amor, conforto e carinho
Enfeitado com o cheiro de bolinho de chocolate em pequena fatia,
Dispostas sobre a farta mesa umas douradas farófias
No paninho branco de linho bordado,
Em finas cores, ou o já remendado
Pano de algodão manchado de estar arrecadado,
Numa grosseira estopa torcida
Pelas mãos aplicadas das vossas avós!
Ai daqueles que a solidão transporta
Desconhecedores, da liberdade imposta
Desde os tempos versados na origem!
Derrotados, para onde ireis netos, sem lar de avós?
Cansados, por onde andais vós, avós… sem netos!
E quem não os tem, nunca os teve?
Premiai da vida a vossa solidão em grandiosos abraços
Em virtuosos olhares de amor em corpos meninos,
Dos rostos pousados nos braços animados.
Ai daqueles olhos novos e brilhantes
Ai daqueles outros já vividos em inquietude,
Por anos enrugados e escondidos entre os óculos
Da solidão imposta ao convívio da juventude.
Carla Bordalo
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Comments
Re: Cem Avós, Sem Netos!
Que lindo texto Carla, tanto pela forma em si, como pelo seu significado!
Fez-me voltar à minha infancia e lembrar de outros tempos.
Lindo!
Beijo,
Clarisse
Re: Cem Avós, Sem Netos!
Este levo-o comigo e mais não digo por tanto o sentir.
Obrigado Carla
Beijo
Nuno
Re: Cem Avós, Sem Netos!
Minha querida Maria Carla!
Este teu poema além da beleza e doçura extraordinária q o pautam, comoveu-me de uma forma muito especial por motivos muito pessoais, trouxe-me saudade e um sorriso!
Felizes daqueles q souberam dar valor ao mote maravilhoso do teu poema!
Beijinho tão grande em ti e abraço apertadinho!
Inês
Re: Cem Avós, Sem Netos!
Dás voz aos avós esquecidos ou abandonados!!!
Brilhante!!!
:-)
Re: Cem Avós, Sem Netos!
Ai daqueles que a solidão transporta
Desconhecedores, da liberdade imposta
Desde os tempos versados na origem!
Derrotados, para onde ireis netos, sem lar de avós?
Cansados, por onde andais vós, avós… sem netos!
Felizes aqueles netos que foram amados pelos avós, nunca mais se vão esquecer o que é serem amados pela segunda e terceira vez por outros múltiplos pais...
Estou sem palavras.
Belo texto poético Carla.
Abraço.
Vitor.
Re: Cem avós, Sem Netos!
Saudades de te ler..
Assim, devagarinho, bem de macio, com suavidade.
Da mesma forma como escreves.
Por anos enrugados e escondidos entre os óculos
Da solidão imposta ao convívio da juventude.
Uma grande frase engendrada num final entusiasmante.
Gostei bastante Carla!
Re: Cem avós, Sem Netos!
Belo texto Ana Carla.
Virei sempre lê-la e se possível
deixar as minhas palavras e um abraço.
Até sempre!
Vóny Ferreira
Re: Cem avós, Sem Netos!
Carla
Adorei o poema
Tenho 3 netos bébes e adoro estar com eles.
Pena que não tenha mais tempo disponível
Agora este teu poema fez-me lembrar os meus avós que já partiram. Tudo me sabia bem na sua companhia
beijos
Matilde D'Ônix
Re: Cem avós, Sem Netos!
Belíssimo! Voltei à infância, nos braços de meus avós...E amo ainda mais meus queridos netos(Tenho quatro, e 48 anos...)Obrigada por esta leitura tão linda, abraços