Sabedoria popular...

Estavam la na mesa a conversar, já quase ébrios, angustiados, tentando em vão formular alguma coisa sensata a respeito do mundo atual, e nada saía além de lastimações, idiossincrasias, incompreensões e retóricas vazias. Então Simone disse:
-Jean Paul, já vou para casa, esta reórica é infrutífera, andamos em círculos discutindo quem veio primeiro o ôvo ou a galinha. Depois já estamos velhos e desgastados e tu não tomou teu remédio para a hipertensão hoje.
- Vai tu se quiser Simone, vou ficar mais, sou um homem livre, um livre pensador e depois não tenho coragem de deixar Friedrich aí, temo que cometa alguma loucura contra a própria vida,e além do mais, Rimbaud não está em condições de ir para casa só, pode vomitar e aspirar.
E os três voltaram a sua conversa infrutífera, a respeito das causas do sofrimento humano.
E iam e viam, Russeau, apareceu no bar, olhou com cara de desdém e saiu sem dizer nada. Sócrates em um canto conversava com um raio de sol.
Enquanto isso a senhora que servia as mesas, sem querer ouvia as agônicas conversas a respeito do ser e do mundo. A profusão de idéias, os tortuosos caminhos que o pensamento humano percorre.
Um exortava o suícido, outro a auto análise, outro a sensação do dia, viver o momento, mas todos com suas possíveis soluções e distorcidas percepções regadas a ópio e absinto.
Já cheia, cansada, a pobre senhora já não sabia mais o que fazer para que eles fossem embora, pois já muito ia a hora do bar fechar. Já meio irritada resolveu por fim a situação.
Bateu palmas e pediu um minuto de atenção:
- Senhores, desculpe a intromissão, mas já são altas horas e nada se decide nessa conversa de vocês. Mas tenho a solução. Já senti tudo isso que vocês sentem, já achei muito sem sentido tudo isso, já pensei em me matar, em entender, em sentir, em tudo, desde o dia que comecei a pensar observei que não vinha me sentindo bem, então, como minha cabeça estava ruim, fui ao médico. E desde então nunca mais sofri, tá certo que parei de pensar, mas quem precisa afinal das contas? Se vocês não querem ir ao médico, eu consigo com uma vizinha que tem uma prima que trabalha no hospital e ela sempre consegue. Vocês querem que consiga uma receita de Prosac para vocês?
Hegel se levantou na hora: " Isso!!!! Fluoxetina é ópio do povo"!!! E já ébrios todos brindaram ao novo movimento que se desvendava ao olhos deles, começou então a se fundamentar o "farmacolismo escatológico contemporâneo "

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Thursday, August 20, 2009 - 20:04
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analyra

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marialds's picture

Re: Sabedoria popular...

Gostei muito da colocação da tua prosa, gostosa de ler, colocaste com ficção cientifica, mas achei mais afável e leve.
Bom isto é interpretação e não tem haver com caso.
É linda e parabens.

analyra's picture

Re: Sabedoria popular...

Muito grata Marialds, antes de mais nada, estás muito bem na foto. Adorei escrever esta prosa, é uma observação um pouco debochada da atualidade onde quase todos com maIS de 30 anos usam fluoxetina, ou algum outro antidepressivo, não condeno quem usa, pois realamente o mundo é entristecedor e temos pouco ou quase nada a fazer além de tentar não pensar e sobreviver.
Grande abraço. Aprecio imensamente teus comentários, eu que ando preguiçosa e comentando pouco.

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