Filosofia Sem Mistérios - Dicionário Sintético
INTELECTUALISMO e INTELECTO – antes de abordamos o Sistema, será oportuno discorrermos sobre o vocábulo raiz: Intelecto.
Do Latim “INTELECTTUS” de “INTELLIGERE” = compreender.
Na antiguidade grega, precisamente com o florescimento de ANAXÁGORAS (pré-socrático 499/428 aC.), o termo Intelecto (NOUS, em grego) passou a significar o Principio (ou a Lei Geral) de Ordenação (ou de organização) do Cosmo. Por extensão (indevida, para alguns), também passou a simbolizar a faculdade (ou capacidade) do Ser Humano pensar. Capacidade essa que refletia a “Ordem Cósmica”, por lhe ser análoga, embora, é claro, de outras dimensões.
Esse “enobrecimento” do Intelecto passou a diferenciá-lo (por ser considerado Superior) das Sensações, dos Desejos, dos Apetites e doutras características vistas como próprias de “Seres Inferiores”, como os animais, por exemplo. Segundo Aristóteles (384/322 aC. Macedônia, região contigua à Grécia) “O Intelecto é a parte da Alma com a qual esta conhece e pensa”, ou seja, o Intelecto é a “ferramenta” que a Alma usa para conhecer e pensar.
Na Escolástica1, principalmente com TOMÁS DE AQUINO (1227/1274, Itália) desenvolveu-se a noção de Aristóteles, acima citada, definindo o Intelecto como “a capacidade (ou faculdade) que o Homem tem de “entender, compreender, criar Conceitos2 e Pensar por “idéias gerais, formuladas por outros”, ou de forma abstrata.
Como o correr do Tempo, os Conceitos de Aristóteles e da Escolástica foram separados em duas vertentes, como se verá a seguir:
1. INTELECTO AGENTE ou ATIVO – quando o Intelecto é o Agente (quem faz e/ou promove um acontecimento) que transforma as SENSAÇÕES captadas pelos Sentidos (visão, audição, tato, paladar e olfato) em PERCEPÇÕES; isto é, o conjunto que resultou das Sensações organizadas. Essas Percepções, através de movimentos intelectuais, tornam-se Abstratas, Inteligíveis (compreensíveis) e adquirem a condição de CONCEITOS2. Dessa noção é que surgiu a célebre Sentença (ou frase): nada está no Intelecto, que não tenha estado antes nos Sentidos. (Tempos depois, essa Sentença foi retomada por HUME para defender o Empirismo*). Após TOMÁS DE AQUINO, tomou a hegemonia na Filosofia Escolástica o célebre SANTO AGOSTINHO (354/430, atual Argélia), para quem o “Intelecto Agente ou Ativo” pode ser visto como a “Luz Divina” ou a “Iluminação” que permite ao Homem entender e conhecer.
2. INTELECTO PACIENTE ou PASSIVO – conforme a tradição Aristotélica e Escolástica é o oposto, obviamente, do Intelecto Ativo. É, então, considerado como a Capacidade de receber e organizar (pela reflexão, dedução e outros processos mentais) os CONCEITOS e as IDÉIAS que foram produzidas pelo Intelecto Ativo. Mal comparando, seria uma espécie de Arquivo que guarda os Conceitos, Idéias, Noções, etc. após lhes ter submetido a um novo ordenamento, a uma nova organização.
O termo “Intelecto”, na Atualidade, vem sendo progressivamente substituído pelo vocábulo “Entendimento”.
INTELECTUALISMO – é o Sistema de Pensamento que coloca o “Intelecto”, ou “Entendimento” como a base indispensável, e talvez única, de todo SABER e de toda AÇÃO dos Seres Humanos.
Essa condição de primazia torna-o contrário ao Experimentalismo*, pois afirma e prega a Superioridade das Funções Intelectuais que são, ao cabo, o “porto” onde todas as outras se abrigam. É a doutrina que tem como “Bem Supremo” o Pensamento Conceitual ou Discursivo (isto é, o pensamento capaz de criar um conceito, após processar corretamente as informações que lhe chegaram. Discursivo, exatamente por ter feito todas as operações intermediárias: como o Raciocínio, a dedução e a demonstração. Seguiu o “curso” correto). Segundo, pois, esse Sistema “A Realidade ou o Real” é inteligível (compreensível) bastando para tanto o uso da Razão ou do Raciocínio. O uso do Intelecto.
Porém, a partir do inicio do século XX o termo “Intelectualismo” passou a ser usado, também, como adjetivo pejorativo. Rotulando-o como se fosse uma enfermidade psicótica ou psicológica daqueles que constantemente vivem “fora da realidade”; sempre imersos em “Devaneios” que os afastam dos “mortais comuns”. Também é acidamente criticado o apego exagerado às Idéias, aos Sonhos, aos Projetos em detrimento do lado prático da vida.
1 Escolástica - (Corrente Filosófica que surgiu a partir da Patrística, a filosofia dos Padres da primitiva Igreja Católica. Seu principal objetivo era conciliar os dogmas da Fé com o Raciocínio ou Razão)
2 Conceito – ( a definição dada a um Objeto, Ser ou Fato, após tê-lo estudado e compreendido).
Submited by
Prosas :
- Login to post comments
- 1954 reads
other contents of fabiovillela
Topic | Title | Replies | Views | Last Post | Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/General | Vagos | 0 | 1.143 | 08/21/2014 - 22:37 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte XI - A Ética baseada na Sabedoria | 0 | 2.489 | 08/20/2014 - 16:07 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte XI - A Ética baseada no Saber | 0 | 1.805 | 08/19/2014 - 16:33 | Portuguese | |
Poesia/Love | Habitas | 0 | 3.049 | 08/18/2014 - 14:41 | Portuguese | |
Prosas/Others | Pobres velhos... Tristes tempos... | 0 | 3.710 | 08/16/2014 - 22:32 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | A dor de Cesária | 0 | 746 | 08/16/2014 - 01:38 | Portuguese | |
Poesia/Love | As Histórias | 0 | 3.387 | 08/14/2014 - 16:54 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte X - Matéria e Mente | 0 | 1.772 | 08/14/2014 - 16:46 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Ana e Flávia | 0 | 814 | 08/13/2014 - 15:50 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte IX - Deus e a Natureza | 0 | 2.494 | 08/12/2014 - 23:51 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Os Pais | 0 | 1.740 | 08/10/2014 - 14:53 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte VIII - A Ética - Livro III, IV e V - A Moral Geométrica | 0 | 2.559 | 08/10/2014 - 03:06 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte VIII - Livro II (Da Mente) o Homem | 0 | 656 | 08/08/2014 - 15:41 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte VI - A Ética - Preâmbulo e Livro I | 0 | 1.587 | 08/07/2014 - 15:13 | Portuguese | |
Poesia/General | Saguão | 0 | 1.553 | 08/05/2014 - 16:35 | Portuguese | |
Prosas/Others | Jorge Luis Borges - O OUTRO - Resenha | 0 | 3.366 | 08/05/2014 - 15:40 | Portuguese | |
Poesia/Love | Demiurgo | 0 | 1.592 | 08/03/2014 - 16:43 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte VI - O Progresso do Intelecto | 0 | 1.459 | 08/02/2014 - 22:06 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte V - Tratado sobre a Religião e o Estado | 0 | 2.241 | 08/01/2014 - 16:42 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte IV - após a expulsão | 0 | 2.193 | 07/30/2014 - 14:42 | Portuguese | |
Poesia/Love | Cristais | 0 | 930 | 07/29/2014 - 01:44 | Portuguese | |
Poesia/General | Temporal | 0 | 1.651 | 07/26/2014 - 21:24 | Portuguese | |
Poesia/General | Livres | 0 | 1.513 | 07/26/2014 - 01:05 | Portuguese | |
Poesia/Love | Habitastes | 1 | 1.709 | 07/25/2014 - 23:49 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte II - A formação do jovem Baruch | 0 | 2.048 | 07/24/2014 - 16:08 | Portuguese |
Add comment