Filosofia Sem Mistérios - Dicionário Sintético

SUBSTANCIALISMO e SUBSTÂNCIA - o termo “Substância” vem do Latim “SUBSTANTIA” e é recorrente no estudo de Filosofia. Na seqüência mencionaremos algumas das principais abordagens sobre o vocábulo:

1.Substância é tudo aquilo que “é” em si mesmo, que existe por si próprio; e que é capaz de sustentar, como se fosse uma sólida base, todos os atributos, ou características, pertencentes à Coisa da qual é a Essência. É a “Realidade Efetiva”, a base onde se apóiam os acidentes1, as qualidades do Objeto, como, por exemplo, formato, cor, tamanho etc.
1 – Acidente: tudo aquilo que não pertence à Essência, que é fortuito, que acontece acidentalmente, sem regularidade.

2.Para Descartes (1596/1650, França) a Substância é definida da seguinte maneira: “porque dentre as Coisas Criadas algumas são de tal natureza que não podem existir sem outras, nós as distinguimos daquelas que só tem necessidade do concurso ordinário de Deus, denominando estas de Substâncias e aquelas de atributos ou qualidades dessas Substâncias”. Em outros termos: dentre todas as Coisas que existem, algumas dependem de outras para existirem. São estas as chamadas “qualidades ou atributos”, como, por exemplo, a cor, o formato etc. As outras Coisas para existirem dependem apenas da Vontade de Deus (sic) e são chamadas de “Substâncias ou Essências”. Veja-se o exemplo a seguir:
Para que a “cor verde” exista, é necessário que seja exposta em outra Coisa. Só passa a existir porque coloriu uma Substância, a qual, ao contrário, existe de fato sem necessidade de ser pintada de “verde”.

3.Para Spinoza (1632/1677, Holanda) e outros filósofos, apenas Deus pode ser visto como Substância. Em suas palavras: “por Substância, entendo aquilo que “É” em si e que é concebido por si, isto é, aquilo cujo conceito não necessita do conceito de outra coisa, a partir do qual deve ser formado”. Em outros termos: Substância é aquilo cuja compreensão é feita a partir da própria Coisa, do Conceito que se tem daquela Coisa; sendo desnecessário, portanto, compreender antes outro Conceito.

4.Aristóteles e os adeptos da Escolástica (Corrente Filosófica que surgiu a partir da Patrística, a filosofia dos Padres da primitiva Igreja Católica. Seu principal objetivo era conciliar os dogmas da Fé com o Raciocínio ou Razão) classificaram a Concepção ou o Conceito de Substância em:

a.Substância Primeira – ou “OUSIA PROTÉ” – é o Sujeito (a essência do SER real, que suporta os atributos daquele Ser) do qual se afirma ou se nega algum predicado e que não é, ele mesmo, como tal, predicado de nada. Em outros termos: é a Essência do Individuo. Essência que é a base que sustenta todas as outras características (ou atributo ou predicados) desse Indivíduo. Essência que NÃO é predicado (ou atributo, ou característica) de outro Individuo, ou de outra Coisa.

b.Substância Segunda – é uma abstração, o tipo geral, aquilo que caracteriza uma classe de objetos. Em outros termos: de certa forma é a “Idéia” de Platão; isto é, a forma ou a fôrma, o modelo de uma espécie ou de uma classe de objetos. A “Idéia Cavalo”, por exemplo, fornece as linhas gerais que caracterizam essa espécie de SER, os quais podem apresentar diferenças pontuais, individuais, mas todos obedecem ao formato geral de sua espécie.

Para Aristóteles (384/322, Macedônia) Substância é “a categoria mais fundamental, sem a qual as outras não podem existir”. Em sua “Metafísica” escreveu: “é apenas a Substancia que é absolutamente primeira, tanto logicamente no plano do conhecimento quanto temporalmente”.
De fato, como poderia não ser a primeira em termos de Tempo se é dela que derivam todas as outras categorias (ou maneiras de se afirmar algo de um sujeito)? E, também, fica claro que é separada das outras categorias, pelo mesmo motivo. Em termos de Lógica essa primazia também não poderia deixar de existir, pois ao se definir algo, necessariamente indica-se primeiro a sua classe ou espécie (a sua Substância). Por isso é que se diz, por exemplo:

O cavalo é marrom – a “espécie Cavalo” é a Substância. A cor marrom é uma característica daquele individuo.

É claro que se pode dizer tal frase de outras maneiras, mas aqui estamos trabalhando com a idéia de Lógica, de uma sucessão ordenada, organizada.

SUBSTANCIALISMO – é, pois, a Doutrina que afirma existir a “Substância” ou a “Essência”, cuja existência independe da percepção do Homem. Em termos coloquiais pode-se dizer que é a afirmativa de que “o Mundo, enquanto substância continua existindo enquanto eu durmo”.

Submited by

Tuesday, June 15, 2010 - 00:04

Prosas :

No votes yet

fabiovillela

fabiovillela's picture
Offline
Title: Moderador Poesia
Last seen: 8 years 1 week ago
Joined: 05/07/2009
Posts:
Points: 6158

Add comment

Login to post comments

other contents of fabiovillela

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Love Ausentes 0 1.547 01/05/2015 - 01:04 Portuguese
Poesia/Love O Gim e o Adeus (2015) 0 1.760 12/31/2014 - 15:02 Portuguese
Prosas/Others Descartes e o Racionalismo - Parte XII - A Metafísica 0 2.527 12/29/2014 - 20:06 Portuguese
Poesia/General Gauche 0 1.543 12/26/2014 - 19:50 Portuguese
Prosas/Others Descartes e o Racionalismo - Parte XI - O Método 0 2.563 12/24/2014 - 21:01 Portuguese
Prosas/Others Descartes e o Racionalismo - Parte X - A Geometria Analitica 0 3.511 12/24/2014 - 20:57 Portuguese
Poesia/Love Quietude 0 1.034 12/21/2014 - 22:03 Portuguese
Prosas/Others Descartes e o Racionalismo - Parte IX - O primeiro filósofo moderno - Cogito Ergo Sun 0 3.397 12/20/2014 - 21:29 Portuguese
Prosas/Others Descartes e o Racionalismo - Parte VIII - A época e o ideário básico 0 2.839 12/20/2014 - 21:25 Portuguese
Prosas/Contos Farol de Xenon 0 2.491 12/20/2014 - 01:40 Portuguese
Prosas/Others Descartes e o Racionalismo - Parte VII - Notas Biográficas 0 2.867 12/19/2014 - 13:56 Portuguese
Poesia/Meditation Sombras 0 2.099 12/18/2014 - 00:21 Portuguese
Prosas/Others Descartes e o Racionalismo - Parte VI - Preâmbulo e índice de obras 0 3.206 12/17/2014 - 14:07 Portuguese
Prosas/Drama Nini e a Valsa 0 3.898 12/17/2014 - 01:56 Portuguese
Poesia/Love As brisas e as rendas 0 1.581 12/15/2014 - 22:08 Portuguese
Prosas/Others Descartes e o Racionalismo - os Tipos de Razão Filosófica 0 2.044 12/13/2014 - 19:53 Portuguese
Poesia/Love Desencontros 0 1.573 12/10/2014 - 20:41 Portuguese
Poesia/Love Navegante 0 1.873 12/05/2014 - 01:21 Portuguese
Poesia/Love Evoé 0 1.866 12/03/2014 - 01:17 Portuguese
Prosas/Others Descartes e o Racionalismo - Parte IV - o Racionalismo 0 2.336 12/01/2014 - 15:21 Portuguese
Poesia/Love A Face 0 1.273 11/30/2014 - 00:20 Portuguese
Prosas/Others Descartes e o Racionalismo - Parte III - o Racionalismo - continuação 0 3.967 11/27/2014 - 15:33 Portuguese
Prosas/Others Descartes e o Racionalismo - Parte II - o Racionalismo 0 1.793 11/26/2014 - 15:03 Portuguese
Poesia/Love A Dança 0 904 11/23/2014 - 19:28 Portuguese
Prosas/Others Descartes e o Racionalismo - Preâmbulo (Apêndice: a Razão) 0 2.477 11/22/2014 - 21:56 Portuguese