Palavras Nunca Ditas

No sótão eu me encontro. Dentro deste quarto envelhecido pelo tempo, entre estas paredes tingidas pelo silêncio da paz, por cima do chão e por baixo do tecto de madeira que já tanto viveram e presenciaram, oiço o cantar da chuva a bater no telhado. Cantar suave e tão reconfortante que me faz sentir tão aconchegado e tranquilo.

No meio deste silêncio quebrado pela chuva, no meio desta serenidade, lembrei-me de ti. És bela e no entanto nunca to disse. Conquistas-me de dia para dia e não precisas de te esforçar para tal, o teu ser natural encarrega-se disso. Não sei o que fizeste a meus olhos mas no meio de tudo o que é mais belo só a ti contemplam, apenas a ti enaltecem. Fazem de ti perfeita, num mundo conquistado pela imperfeição. Posso tocar-te, posso beijar-te, mas nada passa do olhar, pintado da cor do teu. Oh! Quanta tristeza e alegria estes olhos me trazem! Passaria horas a admirar-te e no entanto não me cansaria. Como eu gostava de estar aí, no teu recanto, ajoelhado à face da tua cama, a ver-te dormir. Invejo os anjos por isso. És bela e eu amo-te.

No fundo, tudo isto, para te desejar: “Boa noite!”, numa noite em que me é difícil adormecer.

(Foram estas as palavras que, por falta de coragem e por excesso de receio, nunca te foram enviadas. Preferi então eterniza-las, com tinta preta, numa das folhas deste livro. Quem sabe um dia, as possas ler…)