Gaivotas
Quando te vi, estavas sentada no muro olhando fixamente um ponto no infinito. Passei mesmo à tua frente e nem desviaste o olhar um segundo sequer. Fixei-me no teu semblante e fiquei ao longe a contemplar a tua tez pálida, nessa tua postura pura, perdida nos teus pensamentos. De longe a longe, prendias um caracol dos teus suaves cabelos loiros, que insistiam em separar-se do ondear dos teus filamentos. Tentei adivinhar porque te prendias assim, absorta em pensamentos, ignorando tudo à tua volta.
Chegavas sempre á mesma hora e procuravas quase sempre o mesmo lugar, como se estivesses numa plateia procurando o teu assento. Eu, sigo-te com o meu olhar e não consigo parar de perscrutar o enigma da tua presença silenciosa, aqui neste lugar.
Oiço o canto definido das gaivotas esvoaçando sobre o mar, como se entoassem um cântico em tua honra. Ao longe, ouve-se o toque de um sino badalando 12 vezes.
Mais dois segundos e levantas-te permitindo-me relancear o teu perfil adelgaçado envolto nesse teu manto recatado. Os teus cabelos balanceavam ao ritmo da brisa que vinha do mar empurrada pelas vagas. O sol, brilhou com todo o seu esplendor sobre ti, como se tivesse nascido só para ti, e foi então que me deitaste um olhar.
Foi quando te vi, como se fosse a primeira vez na minha vida. Esse teu olhar cativante alvejou – me enquanto caminhavas com toda a formosura transformada em passos lentos. Como são belos os teus olhos, e que paz irradia deles. Como é singela e cheia de graça a tua silhueta. Enche-me de ternura a poesia que vem de ti nesse teu simples olhar. Senti o teu odor perfumado trazido pelo vento quando partiste daqui.
Um dia deixaste de vir. Mas tenho voltado a este lugar, vezes sem conta, na esperança de te ver surgir como de costume. Guardo o teu lugar, enxotando quem se atreve a tocar no teu assento. Fico horas olhando o vazio, revivendo esses dias e escutando apenas as gaivotas que ao longe lamentam: Ela não vem, ela não vem!
Maria Escritos
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