As memórias de uma nuvem

Perigosamente conto as memórias de uma nuvem.
Quando nasceu, não mais que um pingo, uma gota,
que pingou e respingou,
foi levada na corrente e resvalou,
caiu bela e dispersa, e quando chegou,
por fim ao seu destino,
notou...
que não tem fim.
E subiu, elevada em vapor brumoso,
juntou-se a outras,
amigas de infância,
pingas e pingas e pingas,
e gotinhas amigas de correrias,
companheiras de rodopios,
levadas ao longe por rios,
tragadas por rias e mares e por fim,
juntas, de novo juntas,
na nuvem que passa.
Não uma, mas um bando delas,
dando o ar da sua graça.
E lá ao longe, mais além,
eis que se acinzenta todo o céu,
e cá em baixo todos fogem ao abrigo.
Aquela nuvem, agora fria de tristeza,
descobre por fim o fim do seu destino.
Não ter um amigo.
Cá em baixo, quem a recebe de bom grado?
Ninguém, ninguém,
nem eu,
é assim a natureza.
 

Submited by

Tuesday, February 22, 2011 - 17:09

Poesia :

No votes yet

neomiro

neomiro's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 12 years 33 weeks ago
Joined: 02/13/2011
Posts:
Points: 550

Add comment

Login to post comments

other contents of neomiro

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Love o meu amor é uma Camélia 0 914 02/22/2011 - 16:34 Portuguese
Poesia/Love O Beijo 0 896 02/22/2011 - 16:31 Portuguese
Poesia/Thoughts O que é um sonho? 0 965 02/22/2011 - 16:30 Portuguese
Poesia/Meditation A minha presença 0 1.044 02/22/2011 - 16:29 Portuguese
Poesia/Disillusion A Tristeza 0 869 02/22/2011 - 16:27 Portuguese