TER OU SER ?

TER OU SER?

Vivemos num mundo capitalista
Onde o importante não é o ser.
Um mundo deveras individualista,
Que prega que quanto mais riquezas se ter
Maior felicidade se poderá obter.

Aquele carro “zero” cheirando a novo,
Uma casa confortável na praia,
Uma conta bancária e aplicações financeiras,
Uma moto linda que atenção atraia,

Uma imensa propriedade no campo,
Uma casa com piscina e área de lazer,
Tudo em nome do prazer.

Esses exemplos e outros mais,
Todos prometendo a “felicidade pelo ter”,
Certamente algum deles é importante,
Mas daí a dizer que felicidade garante
É ilusão do capitalismo.
É acreditar em papai noel, em duendes,
E em promessas de amantes.

Os bens trazem conforto e prazer,
Mas sozinhos não trazem felicidade.
Precisam das pequenas coisas
E do que se pode ser.

Coisas pequenas como um refrigerante,
Um delicioso sorvete, uma lasanha,
Um abraço apertado e aconchegante,
Um beijo que se dá e se ganha,

Uma amizade sincera e verdadeira,
Uma palavra amiga na hora sofrida,
São algumas das pequenas grandes riquezas
Que fazem o diferencial de uma vida.

Algumas pode-se com dinheiro comprar.
A maioria, gratuitamente, receber e dar.
Mas antes de tudo, é mister ser.

Ser humano, ser amigo,
Ser simples, ser abrigo,
Ser sincero, ser acessível,
Ser agradável, ser sensível.

Esta cultura capitalista,
Em que o ser é preterido ao ter,
Impõe-nos seguir “à risca”
Sua cartilha egoísta:
Respeitar acima de tudo a propriedade,
O conhecimento, o direito à posse,
Onde tudo é privativo,
Visando nossa “felicidade”.

Eis que aborrece o diferente,
Unilateral, altamente excludente.
Impede-nos a realização pessoal,
Molda nossas mentes.
Faz-nos proletariado
A seu serviço tão somente.

Ganhando bem ou mal
Somos todos serviçais,
Trabalhando para os burgueses,
Defendendo seus ideais.

O sentido da felicidade está em nós,
No buscar a essência do ser.
Não está na posse, na propriedade,
Naquilo que possamos ter.

Basta a herança do capitalismo,
A busca pelo ter em seu egoísmo.
Queiramos evoluir, ascender
Não na propriedade, mas no ser.

Ser alguém, ser humano...
Ser alguém que não tema
Rejeitar todo esse sistema
E que não mais sofra o dilema:
ter ou ser?

Autor: Sandro T. Nogueira – Rio Novo do Sul(ES) – Novembro/2003