Chuva ácida...

Há um sabor a chuva na noite dos teus olhos,
um gotejar de lamento ácido,
que corrói as palavras e as rasga numa dor contida...
Talvez tenha sido um tormento efémero,
infantil, imaturo, ridículo até...
Um amor de verão que começou porque estavas receptivo
e te apetecia devorar o mundo em gargalhadas,
mas não terminou sem te trazer a noite...
Perdeu a beleza pueril de construir castelos na areia molhada
e hoje é um sofrimento puro que te veste da cabeça aos pés...
Sim. Amaste.
A pontuação já explicou tudo.
Terminou, como terminam as férias grandes dos miúdos...
Passou a correr e tu ficaste para trás,
encolhido, cheio de medo, cheio de vazio...
E o frio abraçou-te e choveste e desfolhaste-te
e hibernaste dentro de uma concha, ou de uma caverna sem luz...
A espera de uma Primavera que nunca veio,
que se atrasou a ver as flores à janela e se esqueceu de ti...
Houveram gestos de promessas que não fizemos,
que comeram os restos que ficaram no prato das frustrações...
E aqui jazem as migalhas das ilusões todas,
entre a chuva que escorre por ti abaixo,
debaixo do olhar de tanta gente,
que não sente o sabor a amor nos teus olhos...

Inês Dunas

Libris Scripta Est

Submited by

Lunes, Diciembre 12, 2011 - 21:50

Poesia :

Sin votos aún

Librisscriptaest

Imagen de Librisscriptaest
Desconectado
Título: Moderador Prosa
Last seen: Hace 11 años 40 semanas
Integró: 12/09/2009
Posts:
Points: 2710

Comentarios

Imagen de Odete Ferreira

Tal como a chuva ácida destrói

Tal como a chuva ácida destrói, secando tudo à sua volta,

onde antes floresceram as belas plantas da terra,

assim este amor nasceu e se apagou, não sem a dor do processo...

Gostei de te ler!

Bjo

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of Librisscriptaest

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Poesia/Tristeza Quimeras... 2 5.854 06/27/2012 - 15:00 Portuguese
Poesia/General Presa no transito numa sexta à noite... 2 3.381 04/12/2012 - 16:23 Portuguese
Poesia/Dedicada Santa Apolónia ou Campanhã... 2 2.557 04/06/2012 - 19:28 Portuguese
Prosas/Otros Gotas sólidas de gaz... 0 2.674 04/05/2012 - 18:00 Portuguese
Poesia/General Salinas pluviais... 1 2.917 01/26/2012 - 14:29 Portuguese
Prosas/Otros Relicário... 0 3.105 01/25/2012 - 12:23 Portuguese
Poesia/General A covardia das nuvens... 0 3.597 01/05/2012 - 19:58 Portuguese
Poesia/Dedicada Arco-Iris... 0 3.830 12/28/2011 - 18:33 Portuguese
Poesia/Amor A (O) que sabe o amor? 0 3.506 12/19/2011 - 11:11 Portuguese
Poesia/General Chuva ácida... 1 2.874 12/13/2011 - 01:22 Portuguese
Poesia/General Xeque-Mate... 2 3.179 12/09/2011 - 18:32 Portuguese
Prosas/Otros Maré da meia tarde... 0 3.017 12/06/2011 - 00:13 Portuguese
Poesia/Meditación Cair da folha... 4 3.764 12/04/2011 - 23:15 Portuguese
Poesia/Desilusión Cegueira... 0 3.316 11/30/2011 - 15:31 Portuguese
Poesia/General Pedestais... 0 3.388 11/24/2011 - 17:14 Portuguese
Poesia/Dedicada A primeira Primavera... 1 3.259 11/16/2011 - 00:03 Portuguese
Poesia/General Vicissitudes... 2 3.534 11/15/2011 - 23:57 Portuguese
Poesia/General As intermitências da vida... 1 3.691 10/24/2011 - 21:09 Portuguese
Poesia/Dedicada O silêncio é de ouro... 4 2.947 10/20/2011 - 15:56 Portuguese
Poesia/General As 4 estações de Vivaldi... 4 3.944 10/11/2011 - 11:24 Portuguese
Poesia/General Contrações (In)voluntárias... 0 3.384 10/03/2011 - 18:10 Portuguese
Poesia/General Adeus o que é de Deus... 0 3.345 09/27/2011 - 07:56 Portuguese
Poesia/General Limite 2 4.647 09/22/2011 - 21:32 Portuguese
Poesia/General Quem nunca fomos... 0 3.931 09/15/2011 - 08:33 Portuguese
Poesia/General Antes da palavra... 1 4.313 09/08/2011 - 18:27 Portuguese