“From above to below”
Quando a facilidade de escrever se insubordina, escrevo e escrevo e escrevo; transformo-me em caudilho do que digo, converso conversas sem contexto quando a ocasião não me facilita a escrita, como agora de certeza, nada me ocorre que valha a pena ser escrito ou conversado, nem me convenço do que afirmo ter uma ordem certa, alfabética.
O labirinto é o Fauno e uma única tarefa ou entrada imortal só na alma e na do poeta, o fio da meada.
A fome e a sede são circunstâncias.
Defino-me como a excepção intuitiva, não entendo os outros nem pretendo ser entendido por todos, não ajo nem ando como a maioria das pessoas.
Não me sinto culpado por não me fazer entender, é uma questão de consciência e de princípio não uma tragédia.
A fome e a sede são insignificâncias perante a existência de cada um, mas concorrem e especializaram-se, cada uma à sua forma para o triunfo da mente humana e para que as palavras falem às vezes connosco e as entendamos.
A noção simples de existência é esmagada pela sede e pela fome mais que pela miséria insana, embora sejam uma trindade, uma trilogia, outra palavra em voga e em moda; Já o que me costuma manter vivo é um desejo de comer e beber, absurdo para alguns, para outros, compreensível ou a regra “Sine-Qua-Non”.
Defino-me como a excepção, não pela inteligência ou habilidade, mas pela simplicidade e pela intuição, como água de uma fonte ou um pedaço de pão na mão de um miserável esfomeado mas autêntico guru, assim sou eu e sempre, serão a sede e a fome também autênticas quanto o Jonas e a Baleia.
Basta-me ver rosas, beber vinho e uma conversa com a cabeça ou o estulto projecto de a manear assim como um mundo.
O vinho ajuda a sanear injustiças e a reparar o esplendor da beleza feminina, uma dádiva da natureza, um requinte, uma arte, um conforto.
Quando a finalidade ao escrever é de desvendar territórios remotos, temos que contar com a nossa competência de aventureiros mas também com a capacidade das lanças hostis, a disciplina de falanges nómadas ou do açoite do deserto na lona das caravanas, a bigorna do sol-rei nas têmporas das hostes guerreiras, os pórticos inúteis no coração da Mongólia guardados por fiéis disciplinados e profecias que a história nega aos de hoje.
Quando a facilidade de escrever se insurge da rotina dos meus hábitos, surgem-me pensamentos nos nós dos dedos e nos actos mais tacanhos ou mesquinhos, sendo a distracção um contraponto, a abstracção uma costureira e a teia forma o que penso, o fio da meada ou o reverso da moeda.
A bebedeira é um profundo bem-estar e podemos encontrar a nosso carácter atrás dele, em longas taças, em pequenos goles.
Para mim a vista é o julgar que se vê, o crer que se vê sem ver; o paladar, um ritual degustativo, quando chega ao palato o sabor do chocolate derretido na língua assim como o café junto com o açúcar, inseparáveis quanto o charuto dispendioso e o fumador rico, anafado, o sultão de Constantinopla com o séquito do harém, todas com longas tranças e a fumaça das mil e uma noites.
O excesso de recordações é uma contrariedade infinita, torna-me suspeito de incompetência e incapaz de viver “do novo”, sem encontrar soluções no “atrasado”, “From above to below” sujeito apagado e cerimonial do que assumi como sendo igual ou equiparado a genial, sendo absurdo isto tudo, esta ida “non stop”, nesta ideia de vida, “Non invicta Rúmen est”.
Joel Matos (06/2018)
http://namastibetphoto.blogspot.com/
Submited by
Poesia :
- Inicie sesión para enviar comentarios
- 2853 reads
Add comment
other contents of Joel
Tema | Título | Respuestas | Lecturas | Último envío | Idioma | |
---|---|---|---|---|---|---|
Ministério da Poesia/General | Igual a toda'gente... | 287 | 4.517 | 03/30/2019 - 12:10 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/General | À excelência ! | 160 | 6.152 | 03/30/2019 - 12:08 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/General | Contraditório, só eu sou... | 181 | 3.805 | 03/30/2019 - 12:07 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/General | Cuido que não sei, | 172 | 5.164 | 03/30/2019 - 12:05 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/General | “Semper aeternum” | 211 | 6.390 | 03/30/2019 - 12:04 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/General | Sei porque vejo, | 222 | 5.141 | 03/30/2019 - 12:04 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/General | O poço do Oráculo… | 30 | 1.246 | 12/02/2018 - 19:39 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Intervención | (Os Míseros não Têm Mando) | 17 | 8.706 | 12/02/2018 - 19:34 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/General | Canto ao dia, pra que à noite não… | 19 | 512 | 12/02/2018 - 19:13 | Portuguese | |
Poesia/General | (Meu reino é um prado morto) | 24 | 4.028 | 12/02/2018 - 19:04 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/General | Canção Cansei | 24 | 2.921 | 12/02/2018 - 19:02 | Portuguese | |
Poesia/General | Tenho um conto pra contar | 16 | 1.825 | 12/02/2018 - 19:00 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Aforismo | não sei quem sou | 21 | 3.746 | 12/02/2018 - 18:58 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/General | Prazer da busca… | 17 | 913 | 12/02/2018 - 18:56 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/General | Com a mesa encostada aos lábios… | 12 | 1.041 | 12/02/2018 - 18:47 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/General | Porque Poema és Tu | 22 | 1.336 | 12/02/2018 - 18:47 | Portuguese | |
Poesia/General | Nêsperas do meu encanto… | 16 | 2.190 | 12/02/2018 - 18:45 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/General | Natureza viva | 13 | 1.097 | 12/02/2018 - 18:44 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Aforismo | aresta ou | 10 | 7.476 | 11/28/2018 - 17:38 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Dedicada | teresa dia bom | 12 | 2.355 | 11/28/2018 - 17:35 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Gótico | ragon | 10 | 9.799 | 11/28/2018 - 17:33 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Aforismo | par | 10 | 5.987 | 11/28/2018 - 17:27 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Dedicada | Joel | 10 | 5.131 | 11/28/2018 - 17:26 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Dedicada | Vanda | 11 | 6.635 | 11/28/2018 - 17:23 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Aforismo | comentarios | 10 | 2.931 | 11/28/2018 - 17:20 | Portuguese |
Comentarios
.
.
.
.
.-
.-