Meus senhores, silêncio, por favor...

As pancadas de Molière abrem em solenidade
o palco onde me descalço e me dispo...
O publico nem respira, vira os olhos para o chão,
onde repousam as roupas quentes da minha dor...
O amor é um cenário triste que insiste em permanecer
ao fundo, moribundo, mórbido, mordido, marcado...
Entram as figurantes que se afiguram a mulheres,
cabelos longos, traços embriagados em silhuetas esguias...
As mão bandeiras de nacionalidades vazias
onde dormem soldados que morreram sem saber porque guerra...
Nelas se enterra o desejo que prometeste e esqueceste a seguir,
como enxada em terra infértil...
O meu corpo é a nudez dos teus princípios,
mostro-o a mundo em nome do teu enxovalho...
Vendi-me por ti,
para que o teu preço fosse saldado
nas lágrimas que não mereço,
mas que me lavam em pudor e sal...
O amor é o chão pisado do palco,
frio,
sujo,
ignorado pelo publico entesado...
(De mãos enfiadas nos bolsos rotos
a simularem um nervoso miudinho
no acto satisfeito de tremerem...)
Tu foste cada uma das pancadas de Molière
ou de outro qualquer,
talvez de ti mesmo...

Inês Dunas

Libris Scripta Est

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Sábado, Abril 9, 2011 - 11:34

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Comentarios

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Olá amiga

Esplêndido!!!!!! Abraço

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Meus senhores, silêncio, por favor...

Lindo e maravilhoso seu poema, embora triste!

Gostei muito como sempre,

MarneDulinski

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