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ODES ANACREONTICAS XII

12

Á Illustrissima e Excellentíssima Senhora
D. Marianna Joaquina Pereira Coutinho

Piedosa, excelsa heroina,
Tu, que em transcendente altura,
Com alma quasi divina
De uns evitaste a ruina,
De outros creaste a ventura:

Tu, que em formosa união
Com refulgente nobreza
(Accidental condição)
Ligas mais alta grandeza,
Grandeza do coração:

Tu, que á mãe do luso estado,
Chorada, augusta rainha,
Mereceste honroso agrado,
Colhe os ais, que te encaminha
Triste victima do Fado.

Teus brandos, faceis ouvidos,
Ouvidos ha tantos affeitos,
Senhora, a attender gemidos
De roucos, anciados peitos,
Pela desgraça opprimidos:

Teu favor, tua piedade,
Com que viva ao céo te elevas,
Abriguem minha anciedade,
Versos nascidos nas trevas,
Entre a dôr, e a adversidade:

Pezado grilhão me opprime,
Duro carcere me fecha,
Tecem-me d'um erro um crime,
E a vil calumnia não deixa
Que a compaixão se lastime.

Sombra, qual o Averno escura,
Impios zoilos derramaram
Em vida de crimes pura:
As cadêas me forjaram,
Forjaram-me a desventura.

Eis doloso, eis negro véo
Meu são caracter encerra;
Monstros me pregoam réo,
Tornam-me odioso á terra,
Fingem-me rebelde ao céo:

Desesperada agonia
Aggrava mais minha sorte,
E a meus olhos noute, e dia
Gira o phantasma da morte
Co'a turva melancolia.

Desparziu preces em vão
Angustia, que em mim se exalta;
Mas no centro da afflicção
Conheço que inda me falta
Invocar teu coração.

Esse adoravel thesouro,
Thesouro da natureza,
Furtado ao seculo de ouro,
Póde expellir-me a tristeza,
E mal peor, — o desdouro.

Não te imploro, alta matrona,
Como aquelle, a quem o enxame
De vicios mil desabona,
E em si cáe depois que infame
Sobre o delicto resona.

Eu, desvalido mortal,
Ludibrio de sorte injusta,
Amei sempre, avesso ao mal
As leis da virtude augusta,
As leis da recta moral.

Se casuaes erros fiz
(Socios da edade imprudente)
Meu desvario infeliz
No coração innocente
Não teve infesta raiz.

Da vaidade activo ardor,
Que o peito inexperto inflamma,
Das Musas suave amor,
Sede implacavel de fama
Me sumiram n'este horror.

Em versos não baixo, ou rude
A teu animo propicio
Já sagrar louvores pude:
Se grato me fôra o vicio,
Eu não cantára a virtude.

Meu crime é ser desgraçado,
Ou talvez não ser indigno
De attraír da Fama o brado:
Um bando inerte, e maligno
D'inveja me fere armado.

Risonhas, ternas Camenas
Sobre mim lançavam flôres
Viçosas, brandas, amenas,
E com benignos favores
Affagavam minhas penas.

Dom divino, almo, e lustroso
(Que a raros o céo dispensa)
Azedou tropel damnoso:
O mérito é grave offensa
Ao coração do invejoso.

Alma gentil, não presumes
Que exaggera altivo abalo
Torpes, sordidos ciumes;
Se de mim com gloria fallo,
Honro a dadiva dos numes.

Mas á triste, á maviosa
Phrase da consternação
Já volve a voz lamentosa;
Mais cubico a compaixão,
Q'um nome, que mal se gosa.

Não te interesse o valor
(Se algum tem) do vate afflicto,
Commova-se o dissabor,
A desgraça, o pranto, o grito,
Que demandam teu favor.

Exerce efficaz valia
Que me serene a fortuna,
Irosa fortuna impia:
Para guarida opportuna
Meus ais, minhas ancias guia.

Pelo misero intercede,
Que a ti recorre em seus males,
Que prompto auxilio te pede:
O que pódes, o que vales
Por minhas angustias mede.

Dá-me a luz, que respirei
No seio da humanidade;
Roga que se abrande a lei,
A que a doce liberdade
Submisso, e mudo curvei.

Que, ainda que a rota lyra
No chão desprezivel jaz,
E a Musa, que já delira,
Sem harmonia, sem paz,
Em vez de cantar suspira:

No meu estro aniquilado
Revivendo a morta chamma,
Te daria eterno brado,
Se ha muito o grito da Fama
Não te houvera eternisado.

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domingo, setembro 20, 2009 - 23:26

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Bocage

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