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VERSÕES LYRICAS II

As forjas de Lemnos

(Traduzida livremente de J. B. Rousseau)

Na famosa caverna, onde Vulcano
Forja, e tempéra do Tonante as armas,
Venus pedia aos horridos artistas
Recheassem de lucidos virotes
O dourado carcaz do filho astuto:
As Graças, os Prazeres
Lhe prestavam seus dons, e seus encantos.
O carrancudo esposo
Junto á fragoa immortal crestado, e cheio
Das saltantes faiscas,
* As mãos do ferro e fumo enxovalhadas,
* Nas faces crespas o suor em fio,
D'est'arte affervorava
Co'a voz, e exemplo os Cyclopes membrudos:

Eia, socios, trabalhemos,
Obedeça-se ao que manda
Venus bella, dôce, e branda,
Mãe das Graças, e de Amor.

«Folies tumidos soprando
Mais e mais o fogo atêem.
Labaredas nos rodêem
Com terrifico fragor:

«Rubro o ferro escume, e ferva,
Lide a mão com força enorme,
Settas, farpas, dardos forme;
E, brandindo a cada instante,
Na bigorna resonante
Cáia o malho atroador.

«Eia, socios, trabalhêmos,
Obedeça-se ao que manda
Venus bella, dôce, e branda,
Mãe das Graças, e de Amor,.»

Instigado por elle, assim Vulcano
Á voluvel consorte
Obrava contra si terríveis armas;
Quando o numen da guerra, inda horroroso
Das mostras de recente mortandade,
Entra, os olhos em braza, as mãos sanguentas,
E — «Que fazeis (exclama)
Filho de Juno; artífices do raio?
Para entreter meninos ociosos
Ante a forja voraz estaes suando ?
Por isso, por tão pouco, e tanto á pressa
Esta caverna horrisona rebomba ?

«Que trabalho vergonhoso !
Eia, em cinzas transtornae-o:
Ou deixae tão futil brinco,
Ou não mais forjeis o raio.»

Mas em quanto vozêa, em quanto affronta
O afadigado irmão, e as duras Brontes,
Eis farpa vingadora o pune e fere.
Que repentino ardor lhe inflamma o sangue !
Que pejo, que rubor lhe accende as faces !
Quer fallar, mas a voz nos lábios morre,
Dirige a vista ao céo, turba-se e geme:
Cede emfim; perde a côr, e o orgulho, as forças,
E seus olhos confusos, vagos, froixos
Já presos por Amor, já namorados
Param no seio da benigna Venus:
Revendo-se depois no rosto amado,
Terno sorriso o coração lhe acolhe.

Vós, que domaes a terra,
Despi audaz furor;
Sabei que o Deus da guerra
Só é o deus de Amor.

Não lhe agraveis a gloria,
Tremei de o irritar;
E dares-lhe a victoria
Querer-lh'a disputar.

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domingo, novembro 1, 2009 - 18:18

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Bocage

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