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A CONCORDIA - E N T R E A M O R E A F O R T U N A - II

DRAMA PARA MUSICA, EM UM SÓ ACTO

SCENA II

Os Amores e a Fortuna, que desce rapidamente
em um globu, ladeada de Genios

AMOR

Porém aos olhos meus que objecto assoma !
És tu, deusa fallaz, és tu, Fortuna,
De phantasticos bens depositaria,
Tantas vezes, ou sempre a Amor contraria?

FORTUNA

Sou eu, menino audaz, sou eu, que ufana
No dia mais credor ás graças minhas,
Entre os mil Genios que meu globo enfeitam,
Venho sobre estes campos deleitosos
Ratificar-lhe as ditas,
Ditas, que, em honra á minha dôce alumna,
Em honra á bella Analia,
Soltas das leis do tempo aqui florecem.
Pasmas, insano Amor, de que a Fortuna,
Cujas glorias motejas,
Baixe ao feliz terreno,
Onde raro penhor da Natureza,
Mortal quasi divina
Em dobro com meus dons, com meus afagos
Triumpha, resplandece ?
Mais que a ti me pertence honrar seu dia,
Desdiz muito da minha a essencia tua,
É de outro gráo meu nume.
O respeito, o prazer, bastões, e os sceptros
São dadivas., são mimos
D'esta mão bemfazeja,
D'esta mão, que á de Jove apenas cede.
Com ella o mundo antigo, o novo mundo,
(Que, productor de Analia,
Sobresáe ao primeiro)
Com ella quanto existe abranjo, illustro.
E tu de vãos de leites,
Ou mortaes dissabores
Frivolo auctor, e venenosa origem,
De que os mesmos favores
Ao que os possue affligem,
Tu, que duros farpões atraiçoados
Ás molles almas, de que és deus, apontas,
Assim com voz proterva, assim me affrontas ?

AMA

Queres, menino insano,
Oppôr-te ás leis do Fado !
De meu poder sagrado
Teu nume é vão rival.

Senhoreava os entes
Tua influencia outr'hora,
Mas o meu sceptro agora
E' sceptro universal.

AMOR

Debalde, varia deusa, te glorías
Co'as dadivas, que choves sobre o mundo,
Frageis, caducos bens, que o vulgo anhela,
Do vicio vezes mil, e raras vezes
Da virtude instrumentos.
Analia encantadora,
Alma brilhante no favor não cega
D'essa mão, que nomêas bemfeitora.
Thesouros de candura, e de belleza,
Seus lucidos costumes
Tem dôce origem na moral dos numes:
Pensas acaso que teus dons seriam
Capazes de atear não puro affecto
No consorte preclaro,
A quem protege Amor, Minerva escuda?
Esse, que em laços de ouro unido á bella,
O nectar gosta nos encantos d'ella ?
Muito se deve a mim, tudo a seus olhos,
Da gloria que remata os meus triumphos
Agentes milagrosos.
Atréve-se a Fortuna a ter-me em pouco ?
Entre as classes divinas
Presumes que teu gráo me sobr'eleva ?
Eu sou pura nascente,
Manancial perenne
D'alta harmonia, universal, e eterna:
Sem mim ao mar, á terra, até aos deuses
Pezo insoffrivel a existência fôra;
Por mim na immensidade, errantes, fixos
Milhões scintillam de assombrosos mundos:
Por mim no seio das equóreas lapas
Ardem, cubicam, reproduzem, crescem
Os mudos nadadores.
Eu sou, que ás varias, enramadas plantas
Dou alma, dou fragrancia, flôres, fructos;
Sou eu, que aos bravos tigres,
Aos jubados leões converto as iras
Em rugido amoroso.
Por mim, tu, rôla, arrulas,
Geme a tenra, innocente, ingenua pomba;
Por mim subsiste, annexo á formosura,
Principio inexhanrivel de ternura.

ARIA

Por Amor conseguem vida
Homens, peixes, aves, flôres:
Do céo cabe aos moradores
Rir da morte,
Mas por sorte
Tambem meus escravos são.

Té Analia branda, e bella,
Que os encanta, que os desvéla,
Já pendeu da minha mão.

FORTUNA

Tu, que ostentas de rei da natureza,
Que sacrilego arrogas
Té no arbitrio de Jove imperio summo,
E crês que a teus virotes
Cede o raio, o pregão da omnipotencia,
Rende graças ao dia
Em que Analia mimosa
Dispoz o orgulho meu para a brandura.
Se não fôra este indulto,
Se o momento dourado este não fôra
Em que serena abrindo
Os olhos divinaes á luz primeira,
Em vez de brando chôro,
Soltou sorriso brando,
E ser dos astros vinda
Mostrou na face linda,
Fizera . . .

AMOR

Que fizeras, que attentaras,
Caprichosa deidade,
Contra mais que celeste immunidade ?

FORTUNA

Toda a tua altivez por mim repulsa,
Opprobrio teu seria :
Em quadro viras de affrontosas côres
Teus males, teus perjurios;
Pranto, e sangue por ti fervendo em rios;
A Suspeita rugosa
Perdida entre illusões, entre phantasinas,
Sombras palpando, e crendo;
Viras queixosas, pallidas Saudades,
Já fitos sobre a terra os turvos lumes,
Já vãmente alongados
Para climas ditosos, onde os gostos,
Os bens do coração lhe some a Ausencia;
Viras sobre vulcão de flamma eterna,
Respirando traições, venenos, furias,
De viboras mordidos,
E viboras mordendo,
Os Ciumes, a peste, a morte d'alma;
Viras... mas este dia é sacro a todos,
N'elle até entre nós concordia reine.
N'outro, aos céos menos gratos,
Menos grato á Ventura, á Natureza,
Confessarás, dobrando
Ao pezo da verdade insania altiva,
Que o reforço, a columna,
A base do universo é a Fortuna.

ARIA

Os bens, se alguns crias
Com tua influencia,
Eguaes são na essencia,
Eguaes no prazer.

Os dons, que derramo
Com placido rosto,
Differem no gosto,
Differem no ser.

AMOR

Da lívida suspeita, e vil perjurio,
Da traição, da inconstancia, e da saudade,
Do pranto, e do queixume,
Do rabido ciume,
Inferno de apurados amadores,
Fallas, oh deusa injusta,
Como se fossem meus crueis ministros,
Crueis sequazes meus ! Não consideras
Que o bando horrivel de tão negros males,
Que de Jupiter mesmo azéda instantes,
Prole não é de Amor, sim dos amantes ?
Damnos sem conto, que aos mortaes fulminas,
Onde estão, fraudulosa? Onde se occultam
De raio vingador, que Analia vibra
Dos olhos fulgurantes,
Os companheiros teus, iniqua turba ?
Onde enfunado Orgulho?
Veladora Ambição? Mirrada Inveja?
Onde inerte Preguiça,
Que as almas adormenta
D'esses que amimas, d'esses que te adoram ?
Ah! Se não fôra d'este dia ameno
A gloria, o fasto, o resplendor, e a gala,
Que ethereo lustre eguala,
Talvez, voluvel deusa,
Talvez tuas pizadas não seguissem
Beneficencia, Gloria,
O Jubilo, a Brandura,
Mais, mais socios de Amor que da Ventura.

ARIA
Quando á Virtude
Ventura é presa,
Tórna a belleza
Mais singular:

Que por si mesma
Não é Ventura
Arte segura
Para enlevar.

Mas ah! Benigna mãe, tu, que em teu gremio,
De flôres, e delicias enfeitado,
Commigo a linda infancia acalentaste
De Analia melindrosa,
Descuidas-te em seu dia,
Dia das Graças, dia dos Amores,
Descuidas-te de ornar com teus sorrisos,
Com tua voz divina
O solemne fervor, que tudo inflamma!
Eia, apressa-te, oh mãe!.. . Com vivo adejo
Dirige aqui, dirige
Das pombas amorosas
O niveo par gentil, que enfrêam rosas.

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domingo, outubro 25, 2009 - 17:30

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Bocage

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