CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

Victor Hugo: Os trabalhadores do Mar – Primeira Parte: O Senhor Clubin : Livro Segundo : Mess Lethierry - Capítulo III : A velha língua do mar

Os marinheiros das Channel-Islands são puros gauleses. Estas ilhas, que se vão fazendo inglesas, conservaram-se muito tempo autóctones.

O camponês de Serk fala a língua de Luís XIV.

- Há quarenta anos, achava-se ainda na boca dos marinheiros de Jersey e de Aurigny o idioma marítimo clássico. Fazia crer que estávamos em plena marinha do século XVII. Um arqueólogo especialista poderia ir estudar ali a antiga linguagem de manobra e de batalha esbravejada por Jean Bart naquele porta-voz que aterrava o Almirante Hidde.

O vocabulário marítimo dos nossos pais, quase inteiramente renovado hoje, era ainda usado em Gueresey, em 1820. O navio que suporta o vento era bom boulinier (bom de bolina); dizia-se do navio que se afeiçoa ao vento, por si mesmo, apesar das velas de proa e do leme, vaisseau ardent (navio que se aguça); entrar em movimento era prendre aire (tomar o vento); pôr-se à capa era capeyer (capear); apanhar o vento por cima era faire chapelle (tocar em vento); agüentar bem sôbre a amarra era faire teste; estar em confusão a bordo era être en pantenne; ter o vento nas velas era porter-plain (levar em cheio).

Hoje nada disto se diz. Diz-se hoje louvoyer (bolinar); dizia-se leauvoyer, diz-se naviguer (navegar), dizia-se nager; diz-se virer vent devant (virar por davante), dizia-se vidonner vent devant; diz-se aller de ávant (seguir avante), dizia-se tailler de l'avant, diz-se tirer d áccord (alar à uma), dizia-se haller d áccord, diz-se déraper (arrancar o ferro), dizia-se déplanter; diz-se embraquer (tesar), dizia-se abraquer, diz-se taquets (cunhas), dizia-se billons; diz-se burins (passadores), dizia-se tappes; diz-se balancines (amantilhos), dizia-se valancines; diz-se tribord (estibordo), dizia-se stribord, diz-se les hommes de quart à bâbord (homens de quarto a bombordo), dizia-se les basbourdis.

Tourville escrevia a Hocquincourt: Nous avons single (singramos).

Em vez de Ia-rafale (a lufada), le raffal; em vez de bossoir (turcos), boussoir; em vez de drosse (bossa), drousse; em vez de loffer (arribar), faire une olofée; em vez de elonger (alongar), alonger, em vez deforte brise (vento fresco), survent, em vez de sout (paiol),fosse; em vez de jouail (cepo de âncora), jas; tal era, no começo deste século, a língua de bordo nas ilhas da Mancha.

Ouvindo falar um marinheiro de Jersey, Ango ficaria abalado. Em quanto no resto do mundo as velas faseyaint (panejavam), barbeyaient nas ilhas da Mancha. Saute-de-vent (cambar o vento) era folle-vente. Só ali se empregavam os dois modos góticos de amarração, a valturre e a portuguesa. Só ali se davam ordens destas: Tour-et-choque! - Bosse et Bitte! - Já um marinheiro de Granville dizia le clan (o gorne); e ainda o marinheiro de Saint-Aubin ou de Saint-Sampson dizia lè canal de pouliot. O que era bout-dálonge (postura) em Saint-Malo, era em Saint-Hélier oreille d'âne. Mess Lethierry, como o duque de Vivonne, chamava o tosado de convés la tonture.

Foi com este idioma extravagante que Duquesne bateu Ruyter, que Duguay Trouin bateu Wasnaer, e Tourville em 1681 atravessou em pleno dia a primeira galera que bombardeou Argel. Hoje é língua morta. A gíria do mar é outra. Duperré não poderia entender Suffren.

Não menos se transformou a língua dos sinais; e há grande distância entre as flâmulas encarnada, branca, azul e amarela de Labourquedonnaye e os dezoito pavilhões de hoje, arvorados dois a dois, três a três e quatro a quatro, dão para as necessidades da combinação distante, 70 000 combinações, suprem tudo, e, por assim dizer, prevêem o imprevisto.

Submited by

domingo, maio 24, 2009 - 16:04

Poesia Consagrada :

No votes yet

VictorHugo

imagem de VictorHugo
Offline
Título: Membro
Última vez online: há 13 anos 23 semanas
Membro desde: 12/29/2008
Conteúdos:
Pontos: 159

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of VictorHugo

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Fotos/ - Victor Hugo 0 979 11/24/2010 - 00:36 Português
Poesia Consagrada/Conto Victor Hugo: Os trabalhadores do Mar – Primeira Parte: O Senhor Clubin : Livro Quinto : O Revólver - Capítulo VII : Compradores noturnos e vendedor tenebroso 0 1.142 11/19/2010 - 16:54 Português
Poesia Consagrada/Conto Victor Hugo: Os trabalhadores do Mar – Primeira Parte: O Senhor Clubin : Livro Quinto : O Revólver - Capítulo VIII : Carambola da bola vermelha e da bola preta 0 989 11/19/2010 - 16:54 Português
Poesia Consagrada/Conto Victor Hugo: Os trabalhadores do Mar – Primeira Parte: O Senhor Clubin : Livro Quinto : O Revólver - Capítulo IX : Informação últil às pessoas que esperam ou receiam cartas de além-mar 0 1.293 11/19/2010 - 16:54 Português
Poesia Consagrada/Conto Victor Hugo: Os trabalhadores do Mar – Primeira Parte: O Senhor Clubin : Livro Quarto: “O Bagpipe” - Capítulo III : A Canção Bonny Dundee acha um Eco na Colina 0 1.182 11/19/2010 - 16:54 Português
Poesia Consagrada/Conto Victor Hugo: Os trabalhadores do Mar – Primeira Parte: O Senhor Clubin : Livro Quarto: “O Bagpipe” - Capítulo IV : Justa Vitória é Sempre Malquista 0 992 11/19/2010 - 16:54 Português
Poesia Consagrada/Conto Victor Hugo: Os trabalhadores do Mar – Primeira Parte: O Senhor Clubin : Livro Quarto: “O Bagpipe” - Capítulo V : Fortuna dos Náufragos Encontrando a Chalupa 0 1.210 11/19/2010 - 16:54 Português
Poesia Consagrada/Conto Victor Hugo: Os trabalhadores do Mar – Primeira Parte: O Senhor Clubin : Livro Quarto: “O Bagpipe” - Capítulo VI : Boa Fortuna de Aparecer a Tempo 0 1.094 11/19/2010 - 16:54 Português
Poesia Consagrada/Conto Victor Hugo: Os trabalhadores do Mar – Primeira Parte: O Senhor Clubin : Livro Quinto : O Revólver - Capítulo I : A Palestra na pousada João 0 1.082 11/19/2010 - 16:54 Português
Poesia Consagrada/Conto Victor Hugo: Os trabalhadores do Mar – Primeira Parte: O Senhor Clubin : Livro Quinto : O Revólver - Capítulo II : Clubin descobre alguém 0 1.249 11/19/2010 - 16:54 Português
Poesia Consagrada/Conto Victor Hugo: Os trabalhadores do Mar – Primeira Parte: O Senhor Clubin : Livro Quinto : O Revólver - Capítulo III : Clubin leva uns objectos e não os traz 0 1.149 11/19/2010 - 16:54 Português
Poesia Consagrada/Conto Victor Hugo: Os trabalhadores do Mar – Primeira Parte: O Senhor Clubin : Livro Quinto : O Revólver - Capítulo IV : Plainmont 0 1.128 11/19/2010 - 16:54 Português
Poesia Consagrada/Conto Victor Hugo: Os trabalhadores do Mar – Primeira Parte: O Senhor Clubin : Livro Quinto : O Revólver - Capítulo V: Os Furta- Ninhos 0 1.275 11/19/2010 - 16:54 Português
Poesia Consagrada/Conto Victor Hugo: Os trabalhadores do Mar – Primeira Parte: O Senhor Clubin : Livro Quinto : O Revólver - Capítulo VI: A Jacressarde 0 1.049 11/19/2010 - 16:54 Português
Poesia Consagrada/Conto Victor Hugo: Os trabalhadores do Mar – Primeira Parte: O Senhor Clubin : Livro Terceiro:Durande e Déruchette - Capítulo VI : Lethierry entra na glória 0 787 11/19/2010 - 16:54 Português
Poesia Consagrada/Conto Victor Hugo: Os trabalhadores do Mar – Primeira Parte: O Senhor Clubin : Livro Terceiro:Durande e Déruchette - Capítulo VII : O mesmo padrinho e a mesma padroeira 0 728 11/19/2010 - 16:54 Português
Poesia Consagrada/Conto Victor Hugo: Os trabalhadores do Mar – Primeira Parte: O Senhor Clubin : Livro Terceiro:Durande e Déruchette - Capítulo VIII : A melodia Bonny Dundee 0 678 11/19/2010 - 16:54 Português
Poesia Consagrada/Conto Victor Hugo: Os trabalhadores do Mar – Primeira Parte: O Senhor Clubin : Livro Terceiro:Durande e Déruchette - Capítulo IX : O homem que advinhou quem era Rantaine 0 743 11/19/2010 - 16:54 Português
Poesia Consagrada/Conto Victor Hugo: Os trabalhadores do Mar – Primeira Parte: O Senhor Clubin : Livro Terceiro:Durande e Déruchette - Capítulo X : Narrativas de viagens de longo curso 0 653 11/19/2010 - 16:54 Português
Poesia Consagrada/Conto Victor Hugo: Os trabalhadores do Mar – Primeira Parte: O Senhor Clubin : Livro Terceiro:Durande e Déruchette - Capítulo XI : Lance de olhos aos maridos eventuais 0 798 11/19/2010 - 16:54 Português
Poesia Consagrada/Conto Victor Hugo: Os trabalhadores do Mar – Primeira Parte: O Senhor Clubin : Livro Terceiro:Durande e Déruchette - Capítulo XII : Exceção no caráter de Lethierry 0 1.158 11/19/2010 - 16:54 Português
Poesia Consagrada/Conto Victor Hugo: Os trabalhadores do Mar – Primeira Parte: O Senhor Clubin : Livro Terceiro:Durande e Déruchette - Capítulo XIII : O desleixo faz parte da graça 0 1.049 11/19/2010 - 16:54 Português
Poesia Consagrada/Conto Victor Hugo: Os trabalhadores do Mar – Primeira Parte: O Senhor Clubin : Livro Quarto: “O Bagpipe” - Capítulo I : Primeiros Rubores de Aurora ou de Incêndio 0 1.125 11/19/2010 - 16:54 Português
Poesia Consagrada/Conto Victor Hugo: Os trabalhadores do Mar – Primeira Parte: O Senhor Clubin : Livro Quarto: “O Bagpipe” - Capítulo II : Gilliatt vai Entrando Passo a Passo no Desconhecido 0 1.068 11/19/2010 - 16:54 Português
Poesia Consagrada/Conto Victor Hugo: Os trabalhadores do Mar – Primeira Parte: O Senhor Clubin : Livro Primeiro: Elementos de uma má reputação - Capítulo VII : Casa embruxada, morador visionário 0 856 11/19/2010 - 16:54 Português