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E... Saio... Sobre a cegueira...
Caminho com cem olhos entre homens sem olhos,
cada olhar meu deslumbra um mundo díspar do olhar seu irmão,
como se cada pálpebra fosse um remo trilhando uma corrente diferente...
Não, não há nada que me distinga,
a simplicidade da minha essencia não tem arabescos,
nem existe um mapa de tesouro por desvendar,
nunca tive pretensões de viver além-mim...
Mas, na força motriz que acompanha o universo,
tenho no verso a arma da alma que se acanha perante a ignorância
de quem acha que a força cresce nos braços e não nos laços...
Gostava que me vissem e não me despissem,
mas os cegos experimentam-me pelo tacto...
A minha face cabe-lhes na mão,
o meu coração não lhes cabe em lado nenhum...
Tocam-me de cima a baixo,
um por um...
Contornando os contornos e os adornos femininos,
em gestos pequeninos, com dedos franzinos e sujos....
Deixam-me impressões digitais na alma
e a pele mascarrada da cobiça...
Descarnam-me com a raiva da conquista,
roendo-me os ossos nus e limpando a boca aos meus cabelos...
Os braços que os tentaram abraçar
são os palitos dos dentes afiados
que me comeram aos bocados...
Carrascos de olhos baços,
vazam-me os olhos com colheres
e sinalizam-me a alma com pregos...
E os meus cem olhos choram pelos cegos
que me devoram sem ver...
Pobres dos homens que nunca amaram
porque cegaram ao nascer...
Inês Dunas
Libris Scripta Est
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Poesia :
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Comentários
Re: E... Saio... Sobre a cegueira...
E porque adorei o "Ensaio sobre a cegueira", adorei igualmente o que escreveste!
Está tudo dito!
Beijo enorme minha querida...
Re: E... Saio... Sobre a cegueira...
Gostei do poema, está muito bem construido.
beijo
Re: E... Saio... Sobre a cegueira...
A Humanidade está cega...Desumana, Ódio, Traição, Desamor, Auto-Extermínio da Raça...
...mas existem ainda, pessoas que enxergam e escrevem com maestria, como você fez, e algumas outras, como eu, que entendem e pensam muito parecido...
SUBLIME!
Re: E... Saio... Sobre a cegueira...
O pior tipo de cegueira...aquela que advinda da ablação da sensibilidade. Deixa-nos a alma com gosto de sal, e o corpo, amargo...
Beijos, infinitamente belo.
Re: E... Saio... Sobre a cegueira...
Olá, minha querida Libris,
Sabes, Saramago saiu daqui antes que os homens recobrassem um pingo de visão e "enxergassem" o que falava...
Com muitos de nós também acontecerá, sairemos daqui em meio à cegueira de grande parte dos homens, pois enxergar é profundo, é sair um pouco de si e auscultar o outro...
Parabéns, Libris, por mais esta bela reflexão poética!
Com admiração, um beijo grande em ti.
Lila.
Re: E... Saio... Sobre a cegueira...
Estou emocionadíssimo...
Fantásticamente de rastos depois de ser atropelado pelo poema que és.
Sei lá que dizer pá...
Brilhante!
Abraço