Fiat Lux

Tirei os ferrolhos
dos olhos oxidados.
As cataratas permitiam
ver a silhueta
de um deus lobotomizado.
E na boca, um gosto acre
de sonho quebrantado.
É como despertar do pesadelo
e na cômoda não ter cigarros.
Estou no inferno sem Virgílio
como guia;
Sem coelho branco que contradiga
esta premissa,
e afirme que este é o pais da maravilhas.
Ouço a sinfonia fúnebre
que retunde às discrepâncias.
Então, o homem cria o sistema
sua imagem e semelhança.
Savoranolas, loucos,
pregando suas pútridas missas
pós-coito.
E agora é tarde, a vaidade
embebida nesse cálice;
comeu toda sua carne
e está lambendo os ossos.
Sou Isaac Newton,
embaixo de uma árvore.
Atingido por um livro.
O conceito de gravidade.
O profano e o divino.
Com os pés agrilhoados,
dançando a valsa dos indignos
num baile de querelas,
o retinir das correntes
riscando o assoalho das mazelas.
Com os cotovelos enrugados,
tocando as teclas do teclado.
Idolatrando a Vênus Venérea.
Sou Nietzsche, o demasiado,
num ensaio
sobre a sífilis.
Confabulando os espectros
e o fetiche.
E se a luz, impedia-me
de ver os panoramas sem regras.
Vendei os olhos
e declarei-me: Tirésias,
O sábio que não enxerga.

Bruno Sanctus.