CONCURSOS:
Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia? Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.
Fica o não dito por dito (Ferreira Gullar)
o poema
antes de escrito
não é em mim
mais que um aflito
silêncio
ante a página em branco
ou melhor
um rumor
branco
ou um grito
que estanco
já que
o poeta
que grita
erra
e como se sabe
bom poeta(ou cabrito)
não berra
o poema
antes de escrito
antes de ser
é a possibilidade
do que não foi dito
do que está
por dizer
e que
por não ter sido dito
não tem ser
não é
senão
possibilidade de dizer
mas
dizer o quê?
dizer
olor de fruta
cheiro de jasmim?
mas
como dizê-lo
embora o diga de algum modo
pois não calo
por isso que
embora sem dizê-lo
falo:
falo do cheiro
da fruta
do cheiro
do cabelo
do andar
do galo
no quintal
e os digo
sem dizê-los
bem ou mal
se a fruta
não cheira
no poema
nem do galo
nele
o cantar se ouve
pode o leitor
ouvir
( e ouve)
outro galo cantar
noutro quintal
que houve.
(e que
se eu não dissesse
não ouviria
já que o poeta diz
o que o leitor
– se delirasse -
diria)
mas é que
antes de dizê-lo
não se sabe
uma vez que o que é dito
não existia
e o que diz
pode ser que não diria
e
se dito já não fosse
jamais se saberia
por isso
é correto dizer
que o poeta
não revela
o oculto:
inventa
cria
o que é dito
( o poema
que por um triz
não nasceria)
mas
porque o que ele disse
não existia
antes de dizê-lo
não o sabia
então ele disse
o que disse
sem saber o que dizia?
então ele sabia sem sabê-lo?
então só soube ao dizê-lo?
ou porque se já o soubesse
não o diria?
é que só o que não se sabe é poesia
assim
o poeta inventa
o que dizer
e que só
ao dizê-lo
vai saber
o que
precisava dizer
ou poderia
pelo que o acaso dite
e a vida
provisoriamente
permite.
Ferreira Gullar, In: Em alguma parte alguma, p. 21-25, Ed. José Olympio, 2010.
Submited by
Poesia :
- Se logue para poder enviar comentários
- 1894 leituras
other contents of AjAraujo
Tópico | Título | Respostas | Views |
Last Post![]() |
Língua | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Dedicado | Elegia ao Outono | 1 | 2.233 | 03/20/2012 - 23:16 | Português | |
Poesia/Dedicado | Da Terra brotam os Grãos... Sementes de vida | 0 | 3.017 | 03/19/2012 - 21:51 | Português | |
Poesia/Intervenção | A mística da poesia | 0 | 2.188 | 03/19/2012 - 21:48 | Português | |
![]() |
Videos/Música | Both Sides Now (Joni Mitchell) | 0 | 4.498 | 03/19/2012 - 21:22 | inglês |
![]() |
Videos/Música | We're All Alone (Johnny Mathis & Petula Clark) | 0 | 5.655 | 03/19/2012 - 21:07 | inglês |
![]() |
Videos/Música | Angel of the Morning (The Pretenders) | 0 | 14.782 | 03/19/2012 - 20:45 | inglês |
![]() |
Videos/Pessoal | I´ll stand by you, live (Chrissie Hynde, from music of The Pretenders) | 0 | 24.386 | 03/19/2012 - 20:45 | inglês |
![]() |
Videos/Música | I'll stand by you - The Pretenders (with lyrics) | 0 | 6.617 | 03/19/2012 - 20:45 | inglês |
![]() |
Videos/Música | Downtown (Petula Clark) | 0 | 5.612 | 03/19/2012 - 20:45 | inglês |
Poesia/Intervenção | Passado, Presente e Futuro (José Saramago) | 0 | 3.148 | 03/11/2012 - 20:29 | Português | |
Poesia/Intervenção | Não me peçam razões (José Saramago) | 0 | 3.612 | 03/11/2012 - 20:25 | Português | |
Poesia/Pensamentos | A Regra Fundamental da Vida (José Saramago) | 0 | 2.846 | 03/11/2012 - 20:20 | Português | |
Poesia/Intervenção | Questão de Palavras (José Saramago) | 0 | 3.136 | 03/03/2012 - 21:28 | Português | |
Poesia/Aforismo | Premonição (José Saramago) | 0 | 2.365 | 03/03/2012 - 21:23 | Português | |
Poesia/Fantasia | Água azul (José Saramago) | 0 | 2.181 | 03/03/2012 - 21:19 | Português | |
Poesia/Dedicado | Santanésia: Terra dos Sonhos - resta uma saudade! | 0 | 3.622 | 02/26/2012 - 15:45 | Português | |
Poesia/Aforismo | Ruptura: o dia do basta aos modismos | 0 | 2.027 | 02/26/2012 - 15:30 | Português | |
Poesia/Aforismo | O tempo (José Luis Appleyard) | 0 | 1.987 | 02/24/2012 - 10:00 | Português | |
Poesia/Intervenção | Insônia (Rafael Diaz Icaza) | 0 | 2.004 | 02/24/2012 - 09:55 | Português | |
Poesia/Dedicado | Alfonsina e o mar (Félix Luna) | 0 | 4.220 | 02/24/2012 - 09:46 | Português | |
Poesia/Dedicado | Roça de Milho | 0 | 2.059 | 02/23/2012 - 15:43 | Português | |
Poesia/Intervenção | A hora de ir-se | 0 | 3.629 | 02/23/2012 - 15:13 | Português | |
Poesia/Dedicado | Os Glaciares da Patagônia: salvemos! | 0 | 3.969 | 02/23/2012 - 15:11 | Português | |
Poesia/Intervenção | Caminheiro (Ossip Mandelstam) | 0 | 3.230 | 02/22/2012 - 12:02 | Português | |
Poesia/Intervenção | Chuva Oblíqua (Fernando Pessoa) | 0 | 2.918 | 02/22/2012 - 11:59 | Português |
Add comment