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MARIA
Ela era puro desdém
Moça fria de Sicília
Tinha açoite no olhar
De superiora pudica
A noite
Me surgia a atiçar
Trazendo consigo
O pecado
Surgia
em forma de praga
Me rompia
com o justo embalo
Embrutecia
com qualquer um
Fora assim desde
o tempo de anseio
Do sal do mundo
Vivia em jejum
Seu amor-título
era o Grão-Cordeiro
Sua morada era capela
Seu variar, a romaria
Seu ápice era o Amém
Seu espelho era Santa Luzia
Mirava como se esfriasse
Ora, mas que queimasse
Por aí
Em qualquer lugarejo
Fingia não estar a par
Do seu dom de danar
Como se estranha
Ao próprio eu
Fingia saber de nada
Nem no que podia dar
Mas basta
um de nós para dizê-lo
Maria
Maria,
Ora Maria
Se eu fosse você
Me abria para a gente ver
Mas por toda gente era sabido
Seu compromisso era a cristandade
Pele lhe dava asco
Como o aviso da maturidade
Queria ser eterna branca
Talvez com pena que voa
Queria o alvará de santa
Antes que o mundo tombasse em Gomorra
Acontece que num certo dia
Desiludida com o mundo
Ela caminhava só
E triste pelo canto dos muros
Havia testemunhado
De todas, a maior maldição
A podridão do santo
Que reinava no harém Vaticano
Vadiagem
Viado
Vadia
Não era plano de Deus
Em choro e revolta gemia
Gritou ao céu:
“Devolvei o que é meu”
Carregava o brilho no olho
Um córrego de torpor no rosto...
Conforto bom para hibernar
Era o corpo das dançarinas
O pano era que escondia
A beleza era celestial
Jus a uma certa Maria
Um dia desnudou os pés
No outro soltou um botão
recusou o excesso de adorno,
desleixada arejou o dorso
Lembro bem:
liberta e à mostra estava
Tempo em que era eu, um garoto
Temente, bobo e frouxo
A espiar pela fresta da porta
Maria
Maria
Santa, Maria
Se eu fosse você
Me abria mais
Pra gente ver
Depois
Do fatal testemunho
Daquela grande heresia
De tamanha sujeira
A fé no seu peito esvaia
Viu então que o cruel destino
não chamava Agueda ou Teresa
Fatalmente era de Maria
Só Maria de Maria...
Com admirável destreza,
sem reverencia ou permissão
Tomou de volta do altar
O estimado coração
Daí lhe vinha o calor
Toda noite a torturar
Regado nos ares do sonho
Nem banho bento para esfriar
Estava tão ressentida
Tão desapontada
Levantou-se, então, decidida
Numa certa madrugada
Era “madruga” vazia
Para um banbino engraxate
a assobiar bicando pedras
Pela rua erma da cidade
O moleque ouviu um pio
Havia de ser bichano
Espreitou a sombra do beco
E viu a tentação no canto
Era Maria de Luzia
Mas o que fazia ali?
Sem tempo de perguntar
Ela já se pôs a despir
O resto não é sagrado
Mas não me cabe detalhar
Gozei de muita sorte, é fato
Sempre hei de me gabar
Verdade,
Sorte é feito raio
Nunca dá
no mesmo lugar
Até hoje,
Eu, homem feito,
se passo
no Beco Bento
me ponho a lembrar
Maria
Maria
Ora Maria
Se eu fosse você,
me abria as pernas
outra vez
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Comentários
Re: MARIA
Parabéns pelo belo poema.
Um abraço,
REF
Re: MARIA
LINDO E LONGO POEMA, MEUS PARABÉNS!
DEESEJOS DE UM MARAVILHOSO ANO NOVO DE 2010,COM TODA SORTE DE TEUS SONHOS BONS, REALIZADOS!
Marne