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AQUELES DIAS

Eu entrei e deixei a porta entreaberta. Não sei se passaram por ela maus fluídos, mas um peso soturno recaia sob mim, vindo do meu teto, e uma angústia me enclausurava dentro dos  quatro cantos do meu quarto.
Tomei um copo de água empoeirado que estava sob a mesa, e sentei na cama pensando no que fazer dali para frente. Figuravam a lembrança do sexo e dos cheiros que me transportavam  a  antigas realidades vívidas, como eu no dia em que fui dado ào mundo. Fui dado sem querer, pois nunca me tomei por digna criatura para muito.
Recostei então a cabeça no travesseiro macio, estava tão cansado que não chorei. Sentia-me tão preguiçoso que não procurei o que comer após oito horas em jejum. Não tomei banho e não troquei a cueca de dois dias. Estava cruelmente cansado para me mover, só queria repousar, sentir o mal estar da hipoglicemia e me fartar de sonhar com o improvável.
E bebendo deste veneno do sonho improvável com o latejar de fome da cabeça, sabia que me pegaria revoltado antes que a madrugada caísse. Era o tempo necessário para que eu achasse tudo uma grande bobagem: os sonhos pelos quais me sentia incapaz de buscar, e a injeção ineficaz de ânimo efêmero que aplicava em mim mesmo.
O quarta escurecera por completo, as janelas e cortinas fechadas já não tinham mais um fio d e luz para deixar passar por seus vãos. Então levantei-me após duas horas de inércia fatídica para acionar o interruptor da luz. Quando o quarto iluminou, senti uma ardência nos olhos que logo foi-se esvaindo em projeções de manchas que estouravam ante minha visão. Senti-me ainda mais cansado e enjoado.
Eu estava com fome, mas meu corpo parace ter-se conformado com a proposta do dia: inércia lamentosa. Logo eu iria, quando já não pudesse conter a enxaqueca, buscar algo doce para ingerir. Provavelmente não tomaria banho até o dia seguinte, vestiria uma roupa surrada qualquer para dormir e permeneceria com fome até que fosse obrigado a levantar para o cumprimento de meus afazeres. Pelos quais eu não tinha qualquer apresso ou responsabilidade.
Sabia que havia acionado em mim um modo "automático", robótico, e eu era tão jovem. Mas ainda que me pegasse criticando minha auto-censura demasiadamente juvenil, eu sabia que não poderia me encontrar tão cedo, quando escolhi habitar um nicho atmosferizado por sono, odor de armário trancado e ar de poeira, por não abir as janelas da casa. E nela o cheiro de murrinha, como o descreveria um velho. E na boca gosto de massa de pão velho.
Diante de mim, senti descontento, desapontamento ao lembrar a promessa que eu fora um dia. Levantei da cama, fui até a porta na intenção de caçar algo para comer na cozinha, mas me detive antes que chegasse ào corredor. Segundos depois já estava afundado no colchão que já devia estar tão cansado de te me ter pesando sobre ele.
Por fim tirei a a roupa, lancei a cueca no chão, e que importava se a fosse vestir no dia seguinte também. Senti desejo de sexo, mas estava obeso demais para buscar fora de casa. Então restou-me meu sexo e minha mão. Quis crer que seria prazeroso. De fato não foi, mas  aliviante.
Senti-me enojado de meu sêmen semelhante a cola, criando gomos que iam-se encardindo enquanto esfregava as mãos que eu não lavara desde que sai de casa de manhã.
Levantei-me então, e fui à pia do banheiro livrar minhas mãos daquele grude encardido. A fome assinalava sua potência com latejos ainda mais fortes na minha cabeça, mas estava preguiçoso de mais, obeso demais, torpe e porco.
Voltei para meu colchão com aroma de murrinha, que a esta altura pareceu ao meu nariz mais agradável por dissipar-se no vento produzido pelas espátulas do ventilador que eu ligara naquele instante.
Cansado de me fazer “desapetecer” da vida com minha inconformidade leviana, liguei a televisão. Continuei com o corpo esticado à pesar sobre o colchão. Levantei mais uma vez só para apagar a luz. Havia esquecido que tinha fome, mas a sede eu aliviei com o resto da água daquele copo sobre a mesa.
Afundei o corpo no colchão, desta vez era para apagar a visão. Em algum momento a televisão desligou ao cumprimento da programação que eu havia feito, e eu caí num sono profundo. No dia seguinte, provavelmente eu teria a impressão de ter sonhado vários sonhos que não se conectavam, durante toda a noite, e isto teria me fatigado.
Provavelmente eu levantaria da cama, no dia seguinte, sentindo aquela maldita dor de cabeça, que além da fome surgiria com a pressão involuntária que faz meu maxilar, o amassar dos dentes superiores e inferiores. Os médicos chamam de bruxismo, eu chamo de agonia mal amansada. E todo dia é todo dia assim.
Já estou acostumado com dores de cabeça de naturezas diversificadas. Mas é tão ruim sentir dor de cabeça. Tão ruim...

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quinta-feira, outubro 27, 2011 - 00:37

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