O ultimo dia:

Hoje é o dia do meu aniversário.
Faço 15 anos e já vivi quase tudo.
Podia falar-te da espera, do tempo que não escoa, do lamento que emerge do silêncio, entre paredes nuas, caiadas, da angústia da felicidade quando antevejo a partida e também do sol que brilhou, das coisas amadas, do corpo ainda jovem feito luz, feito nada.
Não o farei agora, naufraga, o corpo aguardando com expectativa, o calafrio que precorre os corpos em queda livre. Contigo.
Não posso esqueçer-te porque para mim o esquecimento não é de todo possível.
É desejável.
A própria ideia de te esquecer é amável e cruel.
Quimera.
Como um déspota reinas no meu universo nú.
Asssumiste-me com brutal suavidade.
Vieste para ficar,
Para me enlouquecer.
Para me desvendares o sentido da vida.
A renúncia e a redenção.
É estranha a demarcação que o amor opera na memória, destruíndo tudo o resto e preservando o essencial.
Cheia deste amor por ti, estou ausente.
Não tenho presente.
Nem vontade.
Não sei se te desejo.
Nutres-me e dás-me vida.
Não sei o que fazer contigo.
Sem ti.
Partiste.
E Eu? Que farei com toda esta liberdade aprisionada?
Não quero voltar para casa.
Hoje é, indiscutivelmente, o último dia.

Morgana Ray