Remniscência

Recordo-te, ou talvez não, porque és para mim, extremamente real.
Volto-me e estas aí, sorrindo-me, o teu olhar habitualmente atento a tudo fixo em mim.
Desfias as palavras que dissemos, em espiral de sonhos e preces.
Em tudo, tu vives.
De como me afectava essa tua estranha forma de amar, solene, como se te despedisses a cada gesto, suave, como se as tuas mãos me desenhassem na pele o mapa acidentado do nosso percurso.
Como se participasse do teu sonho, mas tivesse de te esperar, à margem, temendo que me escapasses por entre os dedos para esse teu mundo volátil de sonhos e medos.
E de como contigo podia escutar o silêncio das coisas que nao podemos possuir, porque são eternas e te abraçava longamente para afastar a tua intermitente ausência.
Tudo à minha volta me recorda a tua presença como se nunca houvesses partido e, de repente, me batesses à porta.