Tempestade

Anda o mar revolto
Espumando em rebuliço
Amante que é da areia
Nela lhe joga ouriço
Sobre ela concha deita
Em incansável refrega
E ela que se sabia a eleita
Agora pede-lhe arrego
Suplica-lhe que abrande
Murmura por um sossego.
Porém está o mar irado
Agita, louco, sem trégua
Quem sair magoado?
Que lhe importa numa légua!
A areia por ele a dentro
A areia por ele a fora
Estranha, sentida e surpresa
Quem com ela agora mora
Quem com ela agora está
Aquele que ela tanto adora
E quer em são sossego
Que o mar quando dá luta
Mil vezes lhe mete medo
Acorda no dia seguinte
Acalmia nunca houve igual
Parece que da refrega
Nem ira, nem vendaval
Pobre da areia, jogada
Em mil partes, sem destino
Mas o mar em rodopio
Que o amor nunca tem tino
Chama-a a si de mansinho
E esquecida a tormenta
Abraçam-se com carinho.