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Aprenda a vomitar em 30 dias

Quem é o melhor futebolista do mundo? Maradona, Pelé ou Messi? Evidentemente sou eu. Embora não chegasse a jogar nem em equipas profissionais nem amadoras sempre fui um craque do futebol. Só a vergonha de que outras pessoas, os demais jogadores da equipa, vissem o meu corpo nu enquanto me banhava após os jogos e os treinos impediu que seja o quarto componente do eterno debate.
Essa vergonha que também me limitou à hora de andar com mulheres, acabou o verão prévio à entrada na universidade, depois de ter a minha primeira experiência sexual. Foi com Sílvia, uma colega do liceu, com quem perdi a vergonha. Agora sou imparável. Pergunto-me se haverá alguém em Compostela que ainda não tenha visto o meu pénis. Cada manhã, depois de tomar banho, e sem me vestir, subo a persiana sem me importar com as pessoas que me possam ver. O meu pénis e eu, dois pedaços de carne sem complexos.
O meu namoro coa Sílvia começou no último ano do liceu. Ela adorava passear comigo agarrada ao meu braço e ouvir as coisas disparatadas que eu dizia. Estávamos tão bem que decidimos continuar juntos na universidade. A mãe dela não queria que morássemos juntos. Eu fui para a residência universitária e ela para o apartamento em que já estava a morar uma prima.
Sílvia tinha um cão desses que eram inteligentes e muito bem educados. A prima não gostava da minha presença e andava sempre a falar mal de mim quando não estava em casa.  Em vingança o que fazia eu, era, em cada visita, mijar no quarto dela no chão ou na cama. As culpas eram para o cão. Começou a suspeitar que podia ser eu e sem acusar-me manteve uma conversa com Sílvia.

-Não te parece esquisito que o Bala só mije em casa quando vem Marco?
-Não... porquê? - disse nervosa Sílvia, que era conhecedora do meu segredo, pensando já numa resposta que pudesse ser convincente.
-E é sempre no meu quarto...
-Acho que tem a ver com algo que estudei na cadeira de Psicobiologia. Ao ser o Marco o único homem que entra nesta casa, o Bala sente-se ameaçado e então adquire um comportamento de repulsa que se manifesta em manifestações de carácter escatológico. São coisas de machos. Ainda tiveste sorte porque o que faz é mijar e não cagar.
-Ah... não sabia. Pois sim que tenho sorte. A partir de agora vou fechar a porta do quarto cada vez que venha o estúpido do teu namorado. Não quero zangar-me com essa coisa tão linda. Estou a falar do cão, não do estúpido.

Farto de passar o dia inteiro a estudar e tentando fugir da rotina em que estava envolto decidi começar a procurar actividades nos tabuleiros de anúncios da universidade. Workshop, cursos de línguas, campanhas de solidariedade, colóquios internacionais, teatro e muitas outras cousas mais. No entanto, o anúncio que fez com que os meus olhos se iluminassem foi o de “Aprenda a vomitar em 30 dias sem esforço”. Que bem me teria ido se houvesse um curso assim nos meus tempos de adolescência em que costumava beber até vomitar. A minha mãe nunca se teria zangado comigo por todas aquelas manhãs que acordava com vómito na cama.
Não gostava nada de a incomodar. Sempre foi uma boa mulher, trabalhadora, honesta e fiel. Só a vi cheia de cólera o dia em que saiu de casa com uma garrafa de gasolina sem dizer-nos onde era que ia. Ela não gostava do namorado da minha irmã e naquela noite, em que eles tinham saído decidiu pôr fim ao namoro do jeito que ela cria mais eficaz, que era queimar o carro dele para que não viesse vê-la nunca mais. O carro estava no estacionamento duma discoteca e isso supôs um problema porque a minha mãe não sabia qual era a matrícula, e ali havia quatro iguais. Decidida e sem se importar com que a vissem queimou-os todos.
Naqueles tempos eu tinha uma bicicleta. Nela ia a todas partes. A minha longa melena ondeava quando chegava a toda velocidade ao liceu. As raparigas adoravam-me. Eu era diferente, era boémio, tinha ideais, bigode e andava de bicicleta. Deixaram de querer-me a partir do dia em que caí da bicicleta, abri a cabeça e estraguei a minha cara bonita. Triste e abandonado comecei a beber (e vomitar).
O meu momento épico foi quando me pediram que escrevesse e dirigisse uma obra de teatro para encenar num festival que criaram os colegas da turma com a intenção de conseguir dinheiro para uma viagem. Gostavam dos contos que escrevia para a matéria de literatura. Quem mo pediu foi a única colega que não sentia repugnância ao olhar a minha cara desfigurada; Sílvia a cega (a minha namorada na actualidade). Evidentemente não me neguei. Sabia que o evento ia ter muito público e que ia assistir gente importante.
Ia ser uma obra existencialista com diálogos que iam fazer pensar muito. Só ia ter duas pessoas a actuar. Uma mulher e um homem. Dous amantes da filosofia numa biblioteca questionando os valores da sociedade moderna. Era perfeito e deixou de o ser no dia do festival. Foi uma autêntica merda que só durou uns cinco minutos quando a peça tinha de durar vinte. A culpa foi dos actores.
Saíram ao cenário vestidos só com uma camisola de uma banda de hardcore, um cueiro e uns ténis converse. As camisolas de bandas hardcore simbolizavam a contracultura, o cueiro o infantilismo da sociedade moderna e os ténis converse simplesmente são uma coisa fixe.
Vou tentar resumir numas poucas linhas o que aconteceu porque sei que no futuro sim que vou voltar tentar representar a obra com outros actores, pelo que não quero dar demasiada informação para não ser plagiado.

Actor: O que andas a fazer?
Actriz: Ler?
Actor: Estás a ler o quê?
Actriz: Um livro, não o vês?
Actor: Vejo-o, mas qual é? Não consigo ver o título.
Actriz: Não o sei, esqueci as minhas frases.
Eu: És idiota, podias tê-las no meio do livro. Ninguém ia reparar!
Actor: E agora?
Eu: Agora não sei - disse subido no cenário - Agora... Agora joguemos futebol!

E começámos a chutar os livros que estavam na prateleira contra o público.

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terça-feira, julho 16, 2013 - 16:48

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