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Barco
Balanço, solto no regaço, encanto de pedaço. A superfície ondula, o vento perdura, mas a corda continua presa no cascalho. A onda é leve. As cores estão em sintonia: há uma tentativa de tentar pintar um céu já pintado. Uma mistura de cores leve, atenuada. Nem viva nem pobre. Atenuada. Um tom de salmão, um tom de azul. Um céu que se desencontra com o sol. O final do dia. A água tenta travar. As ondas baixas, a tranquilidade do vento, as pedras que pouco ou nada saltitam. A tranquilidade e a segurança. Os ramos oscilam e acompanham a dança. De norte para sul. O verde é contagiado pela anterior mistura de cores. Dançam para o sol que se vai. A madeira vazia, os lugares desocupados, o olhar que espreita. O que há? O que fica? A costa, a sensação de humidade, o exteriorizar. Aquilo é meu, ou sou eu? O barco é meu. A água conforta, acolhe, aquece. Oscila, oscila, fica, fica. A dança continua. O som ecoa, a cor esmorece, o vento aproveita-se do desafortúnio e balança, balança. A noite apodera-se da dança, finalmente. A lua sobe, o vento cala, a onda ouve. Antes de dançar, há que escutar. E a noite diz: balança calmamente, agarra-te bem e segue. Segue pelo rio! O que se segue ao rio? O que segue o rio? E a noite responde: o rio corre. Mas se corre, corre até onde? A lua desce, a noite cai, o dia regressa. O rio corre. A madeira oscila parada, o rio corre. Corre devagar, corre a oscilar, corre a dançar. A dança é tranquila. O barco acomoda-se, deixa-se ir. Dança! Diz. O corpo ergue-se e flutua. Respira fundo e sente. Sente a brisa, a melodia, a calma. O que é? É a alegria. Alguém diz. Quem está? Estás tu. E eu ouço. Sou eu a falar e a ouvir. A dança prossegue. Que linda voz é a minha, tão transparente e sábia. Sou eu. O barco? Onde piso? A água. Mas na água flutua-se. O terreno é incerto, mas estás segura. Digo ou escuto? Chama a noite, respira e adormece. Mas e as perguntas? Pergunta. Sou como a madeira do barco, tenho corpo e flutuo. A dança! Oh! A dança é minha, estou deitada para a noite. Agora esperas o dia, ou danças até o dia? Se o rio corre, eu corro. Que paz. Que alegria. Estou segura? O cascalho está? Não está. Sozinha. O vento, a cor, a cantoria. Seguro-me. Consigo. A noite? Cheguei. Dorme. Vou dormir, posso olhar? Olha, és tu. Um barco seguro, uma noite escolhida, um rio guiado. Sozinha? Eu consigo.
Março 2013, Bruna Pinho
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