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Carne com osso sem sentir
Encontrada de alma morta naquele chão, onde só aquele soalho frio pintado de losangos violeta foi testemunha de tamanha solidão. Ali estava ela, um corpo sem alma, o frio que envolvia o soalho contrastava com o corpo ainda quente, que se despedia tardio com um simples abraço da sua já tão distante alma. Apesar de morta, o coração ainda bate. O corpo ainda se prolonga em forma de sangue que corre nas veias. Apenas a alma partiu e levou consigo a mente de pensamentos sonhadores, de memórias, recordações, passos dados que já não voltam atrás. A cabeça partiu com a alma e não vai voltar como era dantes. O cinzeiro laranja aceso de beatas ilumina a sala escura de paredes vermelhas que aquecem o coração. Não há tempo para suspiros, ela preenche o chão com o vazio, só existe um único barulho, apenas a melodia ensurdecedora do soalho que a sustenta. No chão jaz uma fotografia queimada pelo calor do tempo, como se o tempo parasse e ela tivesse parado com ele. Naquela folha de papel com pedaços de vida num embalo que a leva, os seus olhos levam-na ao lugar que na folha está pintado. Mas ela continua presa ao soalho que não a deixa partir. Até que num rasgo de vida os olhos se acendem para contemplar o que a rodeia, mas ela desiste. O que os seus olhos vêem a sua alma já não sente, a alma partiu. Ela morreu de alma e coração e ninguém viu, ninguém deu conta. Nos sorrisos tanta dor e ninguém os calou com um beijo. Ela levantou-se mais uma vez, mas a alma dela ficou no soalho. Partiu. Já não volta. Ela é corpo. Carne com osso sem sentir. O coração bate mas não se move. Os olhos vêem mas não sugam dos outros a verdade. Nunca mais sentiu. Nunca mais olhou. Carne com osso que já não sabe sentir.
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