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A Tua Saudade

Senti tanta saudade. Agora que revejo o que era teu, uma carteira recheada de fotografias de quem gostavas. De nós. Por quem eu sei davas a vida, a que já foi tua.
Ás vezes páro no tempo, para um instante tudo voltar ao que era. Sinto falta do teu jardim, de ir ter contigo, da viagem de comboio até lá. Do cheiro daquela inocência que era só minha. Sinto saudades da tua voz, das palavras que dizias sem pensar. Daquele jeito que nasceu contigo de te meteres com as pessoas. Chegavas e aquele mundo era teu, as atenções viravam-se instantaneamente para ti, porque tu eras dono e senhor daquela conversa cativante, daquele sorriso matreiro escondido naquela voz poderosa.
Adorava quando me fazias rir. Eras intempestivo, possessivo, terra-a-terra e um bon vivant, verdade seja dita. Sempre imaginei que na tua juventude deves ter vivido a tua vida ao máximo, da forma que te apeteceu vivê-la.
Partiste cedo para mim. Tão cedo. Sinto na minha pele os beijos que me davas na face e que eu não gostava porque a tua barba picava. Lembro-me quando pedias para te coçarmos as costas, o que vim depois a descobrir que deve ser genético, já a mãe me pede o mesmo sempre que pode.
Recordo o orgulho que nunca escondeste ter nas tuas netas, espalhavas a toda a gente essa tua devoção desmedida. Ás vezes acho que até sou parecida contigo, afinal tenho o mesmo feitio difícil que tu, tenho a facilidade de pôr os outros a rir, tenho um amor desmedido por quem gosto e pelas coisas nesta vida que me apaixonam, e como tu gosto de viver a vida como quero. Quando sofro, sofro tudo o que há para sofrer e mais um bocadinho. Sou oito ou oitenta. Devo ter puxado a ti nestas características. Já para não falar na aptidão para o drama, como tu invento problemas onde eles não existem. Faço filmes, parecidos com aqueles que tu fazias ás vezes. Gosto de comer bem, do bom e do melhor, de gastar dinheiro, desde que este seja gasto em algo que me traga um bom momento. Adoro cheiros, lembro-me também do cheiro do teu after shave, nunca me esqueci.
Mas sobretudo o mais idêntico entre nós, é que como eu, não consegues viver sem o amor daqueles que amas. Talvez seja por isso que partiste. Porque o teu amor foi-se embora, primeiro do que tu, e tu não aguentaste tal solidão. Recordo-me de não conseguires perceber o que se passava com ela, de não te conformares com os "disparates" que ela fazia derivados da doença. Até que um dia enfrentaste a realidade, ela já não era a TUA Lina, era prisioneira daquela doença, que lhe esmorecia a memória, que lhe matava o olhar, que a levava aos poucos para longe de nós. Tenho a certeza que precisavas dela para continuar e por isso não continuaste. Gostava muito que conhecesses a Leonor, seria mais um orgulho para ti. Ficarias insuportável de tão babado. Ainda por cima ela adormece como tu, com as mãos debaixo da cabeça. Há coisas que não se explicam, são assim porque são. Tinhas que estar presente, e eu sei que nunca vais deixar de estar. Quando vou a Belém dou por mim, á tua procura, naquele jardim, tu e a tua bengala, o teu chapéu, os óculos castanhos, e a tua voz perdida por aqueles caminhos. Quando lá vou, sinto-me bem. Assoberbada por memórias e recordações que me emocionam . Feliz , porque sei que aquele lugar vai ser meu para sempre. Porque era nosso. Porque os lugares permanecem para nos lembrar das pessoas que partem mas que continuam a ficar.

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quarta-feira, dezembro 14, 2011 - 09:50

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Ana Salustiano

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