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E de mim... sabem tão pouco

É como se tudo fosse um grito, onde eu não consigo permanecer. Nada encaixa, nada cala o medo de mim.

Beijo as minhas feridas na esperança que se tornem chamas na minha pele. Por momentos sinto-me viva. Mas nada me chega. As cicatrizes doem no coração e eu não as consigo limpar. Os meus olhos revelam demais, o meu sorriso esconde de menos.

Perco-me nos círculos que me agarram e não me deixam continuar. Chaves que abrem caminhos não abrem o meu coração, parece que o fecharam para sempre.

Conheço-me nas palavras de quem me revela. Escondo-me nos gritos mudos que vivem em mim. A música beija o meu corpo quente e pede-me para voar. Eu voo até encontrar o caminho para casa. A linha que liga o meu passado ao meu presente foi quebrada. Agora só tenho de voar, de me deixar fugir por entre os versos de alguma canção. Os meus ouvidos tornam-se calados para o mundo e tão vivos para a musica. Torno-me cruel, busco a saudade, por momentos sou mais fugaz que a própria vida. Ninguém me encontra, porque eu fugi de mim.

Não me quero ver no espelho do mundo, ele nunca mostra o que está guardado em mim.
Pintam-me de cores que eu não reconheço,riscam-me o rosto com palavras inquietas, cravam no meu corpo suposições vazias de sentimento . Não veem a minha cor de verdade, o vermelho ocre que corre nas minhas veias e que tem tanto para contar. O vermelho da raiva, da duvida, da dor. Dizem que o vermelho é a cor do amor. Eu acho que não. O meu amor nunca foi vermelho, foi complexo demais para ser de uma só cor. Teve tantas, e eu deixei-as fugir a todas.

Voltaste nos meus sonhos, e eu sei que foi para me mostrar as cores que eu perdi. Tenho pena que não as possa roubar do sonho e ficar com elas para mim. Mas no sonho estou perto de ti, e longe do mundo que pensa que sabe de mim. O teu sorriso conhece-me, tenho saudades de ti. Sei que não podes voltar. Só em sonhos. Anseio que chegue a hora de adormecer, para vires até mim e nos teus olhos eu ver-me como sou de verdade, Sei que olhas por mim. Foste tu que me ensinaste o que era o amor. Eu nunca me esqueci. Nunca falaste muito, mas a tua presença respirava sabedoria. Sinto falta dela. Muita. Eras tu que me protegias do mundo. Procuro-te nos meus olhos. Ás vezes encontro-te. Vejo-me no espelho que tu me vias, e o mundo parece mais tranquilo. Sinto-me criança outra vez e fujo. Lembras-te quando era pequena, e achava que sabia tudo? E tu dizias que nem tu sabias. Que ninguém sabe. Tinhas razão. Saber demais leva-nos para além de nós, e saber tudo, ninguém sabe.

E de mim, sabem tão pouco.

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quinta-feira, dezembro 8, 2011 - 00:36

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Ana Salustiano

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