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Dias de Azar

Dia solarengo em Portugal continental, era o último exame do 2º semestre de uma aluna do 1º ano de Engenharia Informática do ISPV. Entrou na faculdade com a certeza que aquele último exame ficaria na sua memória, no inicio do ano seguinte tencionava transferir-se para o Porto, já que o seu namorado viria também. Conheciam-se à 3 anos talvez, conheceram-se na escola secundária que ambos frequentavam e muito provavelmente a sua entrada naquela faculdade foi por ele a frequentar, apesar de serem cursos diferentes, ambos queriam estar no mesmo local.
Passadas 2 horas e 30 minutos o exame estava completo, iria seguramente transitar para o 2ºano de faculdade, apesar de provavelmente ter que repetir o 1º ano no Porto. Saiu sorrindo do edifício, liga apenas ao namorado para lhe dizer que o exame correra bem e que estava para voltar a casa. Desceu as escadas e abriu o seu carro: Audi TT de Setembro de 2008, oferecido pelo namorado e pelos seus pais. Nada preveria o desfecho daquele dia.
Circulava no IP5 direcção Viseu-Porto, cerca de 80km/h, era habitual não circular com grande velocidade, queria apenas chegar a casa rapidamente e sem grandes transtornos, tira por uns momentos os olhos da estrada para verificar se tinha os documentos do carro, quando volta a olhar vê um carro a vir na sua direcção em contramão, pensou: “vou morrer hoje”, buzina-lhe, faz sinal de luzes, mas ele continuava a vir na sua direcção, tenta desviar-se, mas já era tarde demais, ele acabava de lhe bater violentamente, o carro bateu com alguma violência nos raids de protecção. Ela perdeu a consciência, quando acorda sente fortes dores de cabeça, mas não sabe porquê.
Entretanto ouve-se um som de sirenes enlouquecedor, chegam a beira do carro e perguntam-lhe:
- A menina está bem? – o silêncio dela, dizia que não. Tentaram abrir as portas, mas estas bloquearam com o embate, uma vez mais se provava que nem sempre os carros mais modernos são os melhores em caso de acidente.
Passados largos minutos tiram-na do carro, apenas se queixava de uma forte dor de cabeça, os bombeiros colocaram-na numa maca e esperam que chegue uma ambulância. A polícia chega entretanto, fazem as suas primeiras perícias, o carro que circulava em contra mão, dirigia-se a cerca de 180km/h e provavelmente o condutor adormecera ao volante.
Ouvia os comentários dos polícias que diziam que era uma sorte ela estar viva e apenas lhe doer a cabeça. Transportada para o hospital mais próximo, fazem-lhe os primeiros exames que não revelam nada, não havia portanto sentido para aquelas dores de cabeça. Por precaução fazem-lhe uma ressonância, o pior revelava-se ali: uma sombra, possivelmente um tumor, que teria que ser tratado rapidamente antes que avançasse e não fosse possível fazer nada.
Em casa dela, os pais já se encontravam preocupados com tanta demora, isto porque ligaram para o namorado dela e ele também não sabia nada dela. O pânico instalou-se quando o telefone toca e a mãe dela atende:
- Estou sim, quem fala?
- Boa tarde minha senhora, daqui é a PJ de Coimbra, a senhora é mãe da menina Marisa Soares?
- Sou sim! Passou-se alguma coisa com a minha filha? – Já chorava e quase gritava ao telefone.
- Tenha calma minha senhora, pensamos que não seja nada de grave, visto que ela apenas sofreu escoriações e tem uma dor de cabeça, mas por precaução a sua filha foi para o hospital.
- Não me peça calma, por favor. Obrigada por nos avisarem!
- Ora essa… esse é o nosso dever! – Desliga a chamada. A mãe dela apesar de em pânico, pega no telemóvel procura o número do namorado dela e conta-lhe o que se passou. Ele era uma pessoa calma, mas tinha vivido os últimos 2 anos da sua vida num conflito interior, causado pelo facto de a maior parte dos seus amigos não a aceitarem bem, tornou-se uma pessoa rancorosa, por não entender o porquê de se meterem entre eles, com o intuito de os separar. No fundo ele queria apenas que percebessem que ele a amava verdadeiramente e que nada nem ninguém poderia evitar isso. Ele não a deixa acabar de falar, corre ao quarto pega no telemóvel, chaves e apenas diz:
- Dona Maria, eu já vou a caminho de Viseu.
- Não vás filho, tens amanha um exame e o teu semestre está dependente desse exame.
- Já estudei demais… Eu devia ter ido com ela, não fui por birra e agora ela está no hospital sabe-se lá como. – Desce rapidamente as escadas do prédio, e liga o carro, sai em alta velocidade, passando sinais vermelhos. Em pouco mais de 1 hora chegava ao hospital, chega às urgências e rapidamente:
- Queria saber onde está uma menina de 19 anos que deu entrada aqui por causa de um acidente na IP5, pode-me dizer? – a empregada diz-lhe onde ela está, ele entra disparado no edifício onde ela se encontrava, corre todos os corredores mas nem sinal dela, começou a desesperar, de repente vê um médico no fundo do corredor, corre a toda a velocidade:
- Desculpe, sabe onde está uma menina que teve um acidente e foi transportada para aqui?
- Está na sala de ressonâncias, mas o senhor não pode estar aqui! Tem que esperar na sala de espera, daqui a nada já vai lá alguém falar convosco.
- Mas eu não posso esperar por isso! – apesar de querer falar com ela, dirigiu-se para a saída do corredor, cabisbaixo, as lágrimas corriam-lhe face abaixo, sentia-se culpado, porque no dia anterior discutiu com ela e decidiu não ir com ela à faculdade.
Quando chega à sala, já estavam lá os pais dela, pela primeira vez, o pai dela percebara que ele a amava realmente. Durante largos meses, este opôs-se ao namoro, não acreditava que ele gostasse dela, julgava que ele apenas estava com ela para lhe agradecer por tudo o que ela fez por ele. A mãe dela corre em direcção a ele e abraça-o:
- Já sabes alguma coisa?
- Não…eles não dizem nada, disseram para esperar aqui, que já vem aqui alguém falar connosco. – o desespero estava estampado na cara deles. Ele não parava quieto para grande desespero da mãe dela, esta sabia que eles tinham discutido no dia anterior, mas não entendia o porquê de toda aquela inquietação. Chegam os pais dele e a irmã, estavam preocupadíssimos com ele, mas sintam a dor dele e portanto decidiram ir apoia-lo e a família dela. Eram boas pessoas, aliás tratavam-na como uma filha.
- Filho já sabes alguma coisa dela?
- Não pai, ninguém sabe de nada, e estou a ficar desesperado, porque me estou a sentir culpado por tudo isto!
- Culpado?
- Sim, discutimos ontem, e disse-lhe que não vinha com ela. Sei que a magoei e poderia indirectamente evitar o acidente, se tivesse vindo com ela.
- O que está feito está feito, não te podes culpar de nada, lembra-te de quão responsável ela é na estrada, a culpa não foi tua nem dela. – a irmã dele não parava de chorar, não era nada normal vê-la assim, mas naquele dia teve a sensação que iria perder a sua futura cunhada ou melhor, uma das suas melhores amigas.
- Calma pequenita, ela vai ficar boa! – nem ele acreditava no que acabava de dizer, estava completamente destruído por dentro.
Na sala de ressonâncias o medico responsável por ela, explicava-lhe:
- Detectamos uma sombra na sua ressonância, não sabemos o que é, mas vamos saber, combinado? – o médico sorriu-lhe. Ela começava a entrar em pânico, as lágrimas saiam-lhe de forma descontrolada dos olhos:
- Vou morrer?
- Não, a minha função é ajuda-la a recuperar! – sai da sala e dirige-se à família:
- Boa tarde, chamo-me João Pires e sou o medico que esta responsável pela vossa filha. Acabamos de lhe fazer uma ressonância que detectou uma pequena sombra na cabeça da vossa filha, ainda não sabemos o que é, mas possivelmente pode ser um tumor. Digam-me só uma coisa: ela queixou-se recentemente da cabeça? – ao mesmo tempo os pais, o namorado e a irmã do namorado:
-Sim! – o próprio médico estava desolado, uma miúda tão jovem e já precisava de ir para o bloco operatório para viver.
A sala de espera do hospital ia-se enchendo, aos poucos chegavam alguns amigos dela, dele, amigos dos pais de ambos, toda a gente presente ia chorando e conversavam para manter a calma, apesar de ser impossível.
- Então brother como é que ela está? – o melhor amigo dele tinha chegado, com ele vinha a melhor amiga dela, Carina. Conhecia à 6 anos, fizeram todo o 2º ciclo e secundário juntas, apesar de nunca terem sido das mesmas turmas e de não terem escolhido o mesmo curso. Carina estudava Biologia no Porto. Ambos estavam preocupadíssimos com ela.
- Está mal, existe uma sombra na ressonância que ela fez e o medico esta a suspeitar de um tumor cerebral. – Carina e Tiago ficaram em choque. Pelo rosto de Carina as lágrimas iam correndo, nunca pensara ver a sua melhor amiga numa cama de hospital, condenada talvez à morte. Tiago abraça-se a ela, em tempos foram namorados, davam-se bem, apesar de o namoro não ter acabado da melhor maneira possível. Tiago queria em parte transmitir-lhe alguma força. Ambos seguiram as suas vidas, Carina namorava agora com Ricardo, um pouco mais velho que elas, mas amavam-se. Marisa apoiava-os. Trinta e cinco minutos depois chegava também Ricardo, não poderia deixar a sua namorada num momento tão complicado e obviamente queria apoiar Renato.
- Sabes uma coisa?
- O quê?
- Ela é forte e não vai ser isto que vai dar cabo dela. Tu sabes o quão lutadora ela é, nunca desiste das coisas e não vai desistir da vida dela, sabendo que estás do lado dela. – estava fascinado com a capacidade da pequena Patrícia.
Na enfermaria ela continuava a chorar, sedaram-na para que se acalma-se um pouco, antes de adormecer, perguntou às enfermeiras e ao médico:
- Quem está lá fora?
- Os seus pais, o seu namorado, os familiares dele e alguns amigos, supomos nós. – ela ficou mais calma. Pelo menos as pessoas mais importantes da sua vida estavam ali e iriam apoia-la enquanto as coisas não estivessem melhores. Lentamente o médico explicou-lhe o que ela tinha e que teria que ser operada, ela aceitou bem a ideia apesar de lhe custar, sabia que iria sobreviver e que iria continuar a fazer a sua vida normal.
Ela pediu ao médico para o namorado entrar, este entrou:
- Amor desculpa ter-te deixado vir sozinha. Fui tão estúpido contigo, não percebi que estavas super nervosa por causa do exame e tratei-te tão mal. Amo-te tanto, prometes-me que nunca me vais deixar? – ele tinha medo de a perder. Perde-la seria morrer de novo, não acreditar mais no amor e desistir de viver. Deu-lhe um beijo na testa, ela sorria, agarrou-lhe a mão, não a largou.
-Não faz mal, nunca te separes de mim, preciso de ti para viver. – os olhos dela brilhavam como ele nunca os tinha visto brilhar. Era linda mesmo doente, não haveria de ser uma doença que iria roubar-lhe o sorriso da cara.
Seguiram para o bloco operatório, ela já dormia:
- Meu anjo vais ficar bem. E vamos ser muito felizes juntos. Boa sorte, que bem precisas! – disse ele baixinho. O fio de prata com um crucifixo com brilhantes e a aliança acompanhavam-na como sempre.
Na sala de espera, a mãe rezava a nossa senhora de Fátima, era devota, acreditava que esta era capaz de operar um milagre pela sua filha, aliás ela sabia que tudo iria correr bem, sabia a filha que tinha e sabia que a sua nossa senhora de Fátima a iria ajudar naquele mau momento da sua vida. O namorado folheava o grosso livro de gestão, tentando estudar, no fundo não conseguia faze-lo, não lhe saia da cabeça a imagem dela a pedir-lhe para não se separar dela e o sorriso magnífico que esta mostrara antes de entrar no bloco operatório. Ele desistiria do exame, para ficar com ela, sabia que não conseguiria concentrar-se. Ela era um bocadinho mais importante que o exame do dia seguinte.

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quinta-feira, julho 15, 2010 - 15:37

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lau_almeida

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Comentários

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Re: Dias de Azar

gostei imenso querida .
Que tu tens jeito,ja eu sabia .
Mas adorei :)

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Re: Dias de Azar

Um texto longo mas nada chato,
O idilico desvendar de personagens que irão construir a trama que tenho acompanhado no blog da autora.
Revela um cuidado na análise de termos médicos e de pesquisa de conteudo.

Seguramente para acompanhar!

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Re: Dias de Azar

obrigada! É bom receber aqui comentarios teus, saber que acompanhas a historia através do blog e que gostas do que escrevo! é a minha aventura!:)
bj*

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