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Dias de Azar (continuação)

Uma hora tinha passado para desespero de todos. O ambiente daquela sala de espera era pesadíssimo, ninguém parava quieto, caminhavam impacientemente pela sala e não se ouvia nem uma mosca, apenas os tacões da mãe dele a baterem no soalho de forma quase silenciosa. Alguns momentos depois, e sem ninguém contar:
- Ninguém mais chora aqui, vamos lembramo-nos que ela não quer que estejamos assim. Ela é forte e é uma lutadora nata, não se deixará morrer assim. Ainda nos vamos rir todos disto… Vamos ser fortes por ela. - a irmã dele parecia a mais ciente de que tanto negativismo não serviria de nada naquele momento. A mãe dela fez-lhe uma festa na cabeça:
- Estás mais calmo?
- Estou! Vai tudo correr bem, eu sinto-o.
Depois de muitos cafés e de muita paciência na sala de espera, finalmente aparece o médico, levantam-se todos dos bancos. Uma espécie de coro pergunta:
- Então doutor, como é que ela está?
Ele sorriu:
- A operação correu bem, apesar de ela precisar de mais operações e provavelmente de alguns tratamentos, a operação foi um sucesso, podem ficar descansados, têm ali uma guerreira. Os pais, o namorado e a irmã dele sorriram, como confirmando que ela era mesmo uma guerreira. A irmã salta-lhe para os braços:
- Eu não te disse que ela não te deixaria sozinho? – as perspectivas de uma miúda de 14 anos estavam correctas, bastavam todos se unirem no pensamento que ela ficaria bem e para que as coisas corressem pelo melhor. Depois de uma longa fila de abraços e de um mar de lágrimas de alegria, o médico deu autorização, para que entrassem na enfermaria 2 pessoas, não poderiam falar muito, porque ela estava sedada e não se poderia cansar. Os primeiros a entrar foram os pais, estiveram lá dentro uns breves 20 minutos. Saíram de lá satisfeitos, de facto ela parecia estar bem, apesar de relativamente frágil. Carina e Ricardo foram os seguintes, acharam Marisa um pouco ensonada, mas bem dentro da normalidade. Pelo menos não perdera a boa disposição que a caracterizava habitualmente. Tiago entrou sozinho, queria apenas desejar as melhoras a Marisa, já que teria que regressar rapidamente a casa, tinha um exame importantíssimo no dia seguinte e teria que acabar de estudar. Despediu-se de todos os presentes na sala de espera e dirigiu-se para casa.
Mal o namorado entra na enfermaria, os olhos dela brilharam:
- Pensei que nunca mais te iria ver maluco da minha vida! – a boa disposição dela não tinha desaparecido, era difícil perceber o sentimento que existia entre eles, eram ambos pessoas alegres, mas ela sobressaia pela sua maneira de sorrir mesmo que estivesse tudo mal.
- Querias ver-te livre de mim, era?
- Eu? Achas mesmo? Nunca na vida… - sorriu-lhe, num ar de brincadeira. Esperou que ela se vira-se e deu-lhe um breve beijo na testa. Ela adorava aqueles beijos dele, costumava dizer que eram aqueles beijos que lhe provavam o quanto ele gostava dela.
- Eu sei que só gostas de mim, portanto, não preciso de achar nada. – só poucos minutos depois é que ela reparou que Patrícia, a irmã dele estava também no quarto:
- Olá minha princesinha! Estás boa? – tratava-a habitualmente por princesinha, porque era mesmo isso que ela parecia. De cabelos castanhos-claros e olhos claros, era a menina bonita dos olhos de Marisa, ninguém sabia muito bem como esta a tinha conquistado, Patrícia era tida como uma menina rebelde que nunca se prendia a ninguém e que não dava confiança a qualquer pessoa. Uma daquelas típicas adolescentes, que não confiam os seus segredos a ninguém, excepto à melhor amiga, mas ali era diferente, Patrícia confiava todos os seus segredos a Marisa. No fundo penso que ela sabia que os seus segredos não iriam sair das quatro paredes onde eram contados. Os próprios pais perguntavam-se como era possível tanto apego à futura cunhada.
- Estou óptima e tu? – Patrícia sabia que ela estava bem, tinha ali a sua alma gémea, poderia haver melhor? Demoraram mais de 45 minutos, depois de muitos sorrisos e de muita alegria, encheram-na de beijos e saíram, deixando que as restantes pessoas a vissem e falassem com ela. Antes de sair Patrícia pergunta-lhe:
- Estás preparada para o próximo drama? – Marisa sorri-lhe e responde:
- Estou pronta para uma noitada com o teu irmão. Será esse o próximo drama da minha vida. – sorriu magicamente.
No fim do dia, ela estava exausta, cansada de tanto falar, mas via-se que estava feliz, toda a gente quis garantir que ela estava bem e que em breve estaria a passear e a apanhar sol com todos eles.
Já quase dormia quando uma médica lhe entrou no quarto, o crachá dizia: Dra. Ana Castro (neurologia), conhecia aquele nome de qualquer lado, mas de onde? Ainda não lhe tinha visto a cara, quando olha para ela, maior foi a sensação de que a conheceria, mas permaneceu calada, a médica observou o soro, e os papeis de diagnostico no fundo da cama. Não resistiu à tentação de perguntar:
- Posso fazer-lhe uma pergunta?
- Pode!
- Estudou no Colégio em Lamas?
- Sim, mas apenas fiz lá o meu 12º ano, porquê? – estava confirmado, conhecia-a mesmo. A médica que agora a tratava, era Ana Castro, uma rapariga que conhecera quando esta frequentava o colégio. Marisa apenas sabia que esta tinha ido estudar para Londres, mas não sabia sequer o seu curso, descobriu naquele dia que Ana era uma das melhores neurologistas do país, já condecorada nacional e internacionalmente.
Foi uma noite calma, não havia qualquer barulho no hospital, apenas uns pequenos barulhos de camas a serem transportadas no corredor, carrinhos de medicamentos e pouco mais. Marisa acabou por adormecer perto das 23 horas. Sentia-se extremamente bem, como se aquele dia fosse apenas mais um dia feliz da sua vida. Segundo os médicos a sua recuperação iria ser rápida, tinha o espírito combatente e acima de tudo sabia que iria ficar bem. Por vezes é isso que faz a diferença nos doentes, os que tentam resistir à tentação de se deixar morrer numa cama de hospital, são quase sempre os que fintam a morte e a arrumam para o lado. Marisa era uma dessas pessoas, não deixou que aquele problema grave de saúde lhe tirasse a alegria de viver e de ser feliz.
A manhã chegou de forma serena, o sol entrava-lhe pela janela do quarto, era assim que ela gostava dos dias. Lentamente sentou-se na cama, esticou o braço e pegou no telemóvel, desbloqueou-o, tinha algumas mensagens, mas a que mais se destacou, foi obviamente a do namorado:
“ Bom dia princesinha, como e sentes hoje? Espero não te ter acordado com a minha mensagem madrugadora. Tenho saudades dos teus miminhos e beijinhos e da tua voz ao meu ouvido. Mas sabes do que sinto mais falta? Do teu sorriso que me dava vontade de todos os dias me levantar cedinho da cama, sei que ainda vou ter que me babar com o teu sorriso lindo durante muitos anos, mas estar um dia sem ele, custa-me imenso. Queres me aturar para sempre? Ontem tive tanto medo de te perder, senti um certo vazio dentro de mim, era como se me tivessem roubado uma grande parte de mim, talvez seja por estar completamente apaixonado por ti. Se te perdesse, seria a minha morte, já não consigo viver um dia sem ti. Não sei explicar aquilo que sinto, alias não há qualquer tipo de explicação para o que sinto por ti.
Obrigada por fazeres de mim um ser humano melhor e por estares todos os dias comigo.
Ps: Hoje à tarde já vou matar saudades do teu sorriso e da tua voz!
Amo-te”
Era inexplicável o que aquela mensagem dizia. O que sentia por ele era muito mais que amor, por ele era capaz de tudo, até mesmo morrer, talvez ninguém compreendesse o que ela sentia por ele, mas isso não interessava. Para ela era bom sentir borboletas na barriga quando pensava nele, ou sentir as mãos a tremer quando o beijava. Existem amores inexplicáveis, amores que resistem ao tempo, à distância, à diferença de idades, enfim ao lado mau dos relacionamentos amorosos. Eles faziam parte do reduzido grupo de pessoas que têm amores assim. O tempo e todas as barreiras que lhes iam aparecendo ao longo do tempo, fizeram-nos ficar mais unidos e gostarem cada vez mais um do outro.
Durante mais de 10 minutos estruturou uma resposta, queria criar uma mensagem que lhe mostrasse o quanto gostava dele e que sentia saudades de todos os momentos que ambos partilharam. Os olhos brilhavam e o sorriso estava estampado na cara:
“ Bom dia, acordaste cedo hoje, isso é tudo vontade de falar comigo? Não, não me acordaste, já sabes que durmo que nem uma pedra e que só acordo se o barulho for mesmo muito. Esta foi a noite mais longa da minha vida, não estiveste do meu lado para me desejar uma boa noite e para me dares um daqueles teus abraços que me acalmam tanto e que me fazem dormir que nem um anjo. Tenho tantas saudades de te agarrar e de te encher de mimos. Tal como tu tenho saudades do sorriso, mas não do meu, porque esse está cá sempre, mas sim do teu, o teu sorriso faz-me sentir como se tivesse asas e enche o vazio que a distância vai deixando enquanto não estamos juntos. Sim eu amo-te, não precisas de perguntar se amo, porque a cada dia que passa amo-te mais e mais, e já não consigo viver um único segundo sem ti, és o pedaço mais importante da minha vida. Por favor nunca me deixes caminhar sozinha sobre a areia molhada da praia. Tenho medo que desapareças…
Agradeço-te por todos os momentos, por todos os carinhos, pela paciência, pelos melhores pequenos-almoços do universo e sobretudo por me compreenderes e me aceitares tal como sou. Fazes de mim um ser humano perfeito.
És tudo meu amor…
PS: boa sorte para o exame!
Amo-te”

Quando a medica entrou no quarto, ela sorria:
- Está muito bem disposta a menina…
Ela olha-a, os seus olhos brilhavam:
- Vou pedir um pequeno favor, pode ser?
- Sim, pode.
- Podes-me tratar por tu? – no dia anterior, Ana tinha-lhe pedido para que não a tratasse de forma cordial, afinal já se conheciam e não fazia sentido haver um tratamento cordial. Puseram a conversa em dia, à mais de 4 anos que não falavam, entretanto o telefone de Ana toca, avisavam-na que Marisa tinha uma visita, Ana fez o seu relatório sobre o estado da sua doente e saiu despedindo-se.
A surpresa instalou-se quando Marisa vê o seu namorado entrar pelo quarto dentro. Por aquela hora ele deveria estar no exame, mas estava ali, entrava com um ramo de rosas vermelhas e com um postal em forma de coração.
- O que fazes aqui? Não devias estar a fazer o exame? – não deixaria que ele se prejudica-se por causa dela, alias era inaceitável na cabeça dela que ele deixasse os estudos para estar ao seu lado. Não é que não gostasse da atenção que este lhe dava, mas deixar o último exame do semestre por fazer, era assinar a sua própria condenação e provavelmente perder o ano. Ele pedira uma autorização especial para fazer o exame mais tarde, no entanto a incerteza rodeava o seu pedido, apesar de todos saberem o que se passará no dia anterior, não se poderiam abrir excepções e ele sabia disso melhor que ninguém, estudava naquela faculdade à 2 anos e meio.

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domingo, julho 18, 2010 - 11:02

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lau_almeida

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Comentários

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Re: Dias de Azar (continuação)

Uma prosa bem dramática, mas cheia de sentimento, emoçao e cor :)
continua ;)

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Re: Dias de Azar (continuação)

obrigada :)

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Re: Dias de Azar (continuação)

Gosto da forma segura como desfilas o pensamento e a razão, gosto sobretudo da realidade sempre subjacente á obra, onde denotas um profundo estudo e pesquisa sobre o que rodeia as personagens.
Tem tanto ar de credível, que assusta nesse teu modo seguro, tendo atenção à tua curta idade. Eu desde o inicio que acompanho este teu conto, e que te tenho acompanhado. Não sei se será uma excelente obra, mas sem duvida torna-se leitura obrigatória no waf.

Segue confiante, pois é um prazer ler-te!

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Re: Dias de Azar (continuação)

obrigada mefistus:)
é bom saber que as pessoas tem gostado do conto, alias é bom ver os comentarios que vao fazendo!
Tenho que te agradecer por teres sugerido postar também aqui...

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