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SEREIAS E MIRAGENS

SEREIAS E MIRAGENS

Estava eu a gozar as delícias de um soberbo final de tarde, ali bem junto ao Tejo, tendo pelas costas o mosteiro dos Jerónimos, e à minha frente, a imponência do Cristo Rei, a serenidade das águas do rio, e a elegância das embarcações que o sulcavam, quando deparei com um esbelto par de pernas com que uma mulher esplêndida fez questão de me brindar, ao sentar-se displicentemente a poucos metros de mim. O horizonte alaranjado pelo sol, que descia apressadamente em direcção ao poente, a brisa suave e morna que me acariciava a face e me envolvia o corpo, e agora aquelas pernas magníficas que se cruzavam, e descruzavam, em movimentos graciosos, amplos e generosamente lentos, a sussurrarem promessas, alvoroçaram-me de tal forma que mais parecia um jovem adolescente do que um homem já maduro, caldeado pelas contingências da vida.

Nada incomodada com a minha presença ali tão perto, nem com a insistência do meu olhar pouco discreto, ela parecia divertir-se a estimular a minha imaginação, sabendo de antemão que a minha cabeça estava já ocupada com a agradável tarefa de tentar adivinhar os segredos e surpresas que estariam encerrados naquele corpo estupendo, e as delícias que ele teria para oferecer. È evidente que ela se entretinha apenas em sugeri-los, sem ter a menor intenção de mos revelar.

Seduzido, e perturbado, por esta visão tão aliciante, dei por mim, vá lá saber-se porquê, a meditar nas sereias, aqueles míticos seres, meio mulher e meio peixe, que povoam os contos infantis e fazem parte do imaginário das nossas crianças, depois de terem colorido também a nossa meninice. As vozes celestiais e o seu canto melodioso atraíam os pobres mareantes, que, incapazes de resistir à tentação de as procurar acabavam invariavelmente com as suas embarcações despedaçadas contra os rochedos, arrastando consigo para o fundo os marinheiros encantados pela doce ilusão de alcançar essas miríficas criaturas.

Aquela mulher fantástica, ali mesmo à minha frente era, naquele momento, a minha sereia tentadora. Eu via-a, mas tinha a noção que ela não estava lá. Parecia perto, e ao mesmo tempo tão distante. Estava ali à distância de um braço, mas parecia inacessível. Lembrei-me do destino trágico dos marinheiros quando se deixavam embalar pelo canto enganador das sereias, e preferi evitar o naufrágio. Deixei-me ficar quieto e sossegado no meu banco, apenas a deliciar-me com a sedução daquele corpo sugestivo e escultural. Encarei aquele estupendo par de pernas, que estavam realmente ali, a meia dúzia de metros de mim, como quem encara uma miragem. Encantadora, sublime, provocante, mas apenas uma miragem. Contudo as miragens são agradáveis. Só deixam de o ser se nos convencermos que é possível alcançá-las. Por isso achei mais prudente contentar-me em usufruir da minha miragem, enquanto ela ali estivesse.

As miragens existem mesmo. Mas, devemos estar atentos, porque nem sempre são aquilo que parecem. Por vezes são mesmo realidade. Para nossa felicidade devemos correr atrás delas e tentar alcançá-las. As pessoas que mencionei um pouco atrás são a prova disso mesmo. Já agora só mais uma questão. Será que as sereias também existem? Penso que sim. E aconselho a que estejamos atentos também a elas. São sedutoras e maravilhosas. E sugerem-nos o céu. Para nosso bem devemos fugir delas, porque pode muito bem acontecer que seja o inferno que acabemos por encontrar.

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terça-feira, dezembro 15, 2009 - 16:12

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GuiDuarte

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