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A vida é feita de insólitos
É noite de Consoada. A magia está no ar. Tudo é perfeito. Será que é mesmo?
A família reencontra-se. Avós, pais, irmãos, cunhadas, filhos, sobrinhos, primos. Para cmpletar a mesa os tios-avós chegam com os envelopes para a criançada.
São 20 os pratos à mesa. O bacalhau traz broa, o perú, seculento, regado com um tinto demarcado, o leitão é da Bairrada. A tia avó senta-se e pede que lhe ponham o babete. O cadeirão faz doer as costas, a almofada não se ajusta, a sopa está fria e salgada. A algazarra das crianças incomoda, a televisão está muito alta...
Quando, finalmente, parece que a idosa senhora está integrada e apenas se ouve o bater dos talheres, porque as vozes a incomodam, eis que a refeiçõ sagrada é animada plo barulho de uns gazes desgovernados e inconveninentes. A tia-avó lá se foi justificando:
- Isto, não é lá muito bonito! Éa barriga da tia!
Entretanto, a senhora pede o segundo prato: um pouco de perú do lado do peito. Enquanto a carne é desfiada, a octagen´ria saca da prótese e deposita-a dentro de um copo de água, colocando-o bem na frente dos restantes convidados que, por pouco, não vomitavam em cima da mesa, de espanto e indignação. É que a malta é mais jovem e não queria acreditar no que estava a ver. Pior foi quando pega no copo e começa a beber a água.
Mas a idade é um posto, sobretudo quando a herança promete. Ainda assim, houve vómitos à mistura na noite da Consoada. Terminada a refição, a senhora ordenou que baixassem a televisão pois estava na hora de rzar o terço e lá foi encomendando, sobrinho, a sobrinho, um por um, ao seu santo protector.
- Para o ano, meus queridos, cá nos encontramos outra vez!
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